198 ANOS PARAÍSO

Saudades da minha terra: Um relato de filhos ausentes que nunca tiraram Paraíso do coração

Por: João Oliveira | Categoria: Cidades | 31-10-2019 10:42 | 3059
Sônia Souza: “O meu Paraíso tá no coração, e carrego ele para todo lugar. E é com esse carinho grandão que eu comemoro mais um ano da cidade”
Sônia Souza: “O meu Paraíso tá no coração, e carrego ele para todo lugar. E é com esse carinho grandão que eu comemoro mais um ano da cidade” Foto: Reprodução

Andar pela Praça Comendador José Honório, a Praça da Matriz, e se refrescar na Sorveteria Sposito, ou ir a Praça da Fonte e se sentar sob a sombra da árvore da “Maria Engomada” ou até mesmo caminhar pelo centro da cidade, observando as poucas e agora raras construções históricas ou ainda admirar o tempo passar observando os pássaros em busca do seu alimento na Lagoinha... Tudo isso são hábitos dos paraisenses que fazem falta àqueles que foram embora, e que ainda divertem aqueles que permanecem na cidade e não pensam em deixar o berço. Foram muitos os filhos desta terra que partiram em busca de realizações pessoais e profissionais, mas que mesmo longe nunca tiraram Paraíso de seus corações.

ESCRITORES
Entre esses muitos nomes está a escritora Ely Vieitez Lisboa, que já publicou 14 livros, entre eles ensaios, contos, poemas, e também autora do romance epistolar Cartas a Cassandra. Para ela, mesmo aqueles que viveram por muito pouco tempo na cidade, jamais se esquecem do sabor desta terra. “O encantamento vem do nome? Do clima ameno? Do povo gentil? Não se sabe, mas quem viveu em Paraíso, pouco ou muito tempo, jamais se esquecerá da rica experiência”, conta.

Segundo a escritora, quando ela pensa em Paraíso primeiro vem à lembrança muito lirismo: as flores, as papoulas, dálias. “Não é casual o epíteto A Cidade dos Ipês. Depois, o Colégio Paula Frassinetti, de ensino rígido. O footing na Praça Central, o Cinema, o céu opalino, o clima bom. Paraíso hoje, cidade moderna, Academias de Letras, poetas famosos, o Jornal do Sudoeste, digno de uma Capital. O que mais me impressiona é sempre que se visita Paraíso, atualmente, é a sensação doce de quem volta para casa. Pura magia!”, ressalta.

ATLETAS
De Paraíso, também saíram grandes talentos do futebol, como o jogador Gustavo Borges, que há alguns anos vive na Suécia, onde é casado e tem duas filhas, e joga pelo Tuna. “Viver longe de nosso ninho, é sinônimo de viver com saudade. Saudade da família, dos amigos, da boa comida e dos costumes locais, principalmente do pão de queijo e do café que é a nossa maior referência. A cada ano que passa a distância emocional parece aumentar. Penso seguidamente nas pessoas que cresceram comigo, sinto falta de compartilhar com a família ocasiões de alegria ou tristeza e, principalmente, participar de momentos marcantes da vida daqueles que estimo”, desabafa.

O jogador ressalta que sente muita saudade de muitas coisas que ficaram no Brasil. “Não se trata apenas de coisas materiais, mas principalmente de sentimentos, de experiências que definem o que sou hoje, raízes que só encontro na minha terrinha. Quando comento com as pessoas daqui das memórias marcantes de minha terra, enfatizando minha base familiar, minhas amizades, meus primeiros contatos com o futebol, dos professores e amigos da Escola Noraldino Lima, meus irmãos do Grupo Demolay e da agradável cidade que já tem em seu nome de Paraíso, parece que estou relatando um sonho bom!”, afirma.

Todavia, conforme Gustavo, as escolhas determinam o seu futuro e é preciso aprender a lidar com esses sentimentos e emoções fortes gerados pela distância. “O tempo e as novas raízes que construímos, isso nos ensina a aceitar e a superar este vazio e nos ensina, também, a viver com intensidade os momentos de reencontro com a família e amigos. Seja aqui na Europa ou no Brasil, quisera eu ter os dois mundos na palma da mão! Parabéns São Sebastiao do Paraíso pelos seus 198 anos e parabéns especial a todos os paraisenses queridos, este povo bom e trabalhador, entre os quais tenho bastante orgulho de ser”, ressalta.

JORNALISTAS
Pelo município passaram jornalistas queridos e que também fizeram parte da equipe da Jornal do Sudoeste, entre eles a cidadã honorária Heloísa Aguieiras, que veio morar em Paraíso pela primeira vez em maio de 2005. “Fui fazer uma entrevista de emprego no Jornal Diário, que estava começando. Lembro que cheguei em uma manhã fria, mas ensolarada e, ao passar pela Praça da Matriz, me encantei e nasceu uma vontade enorme de ficar.  Foram 12 anos, maravilhosos 12 anos. Recebi a honraria de ser nomeada cidadã paraisense por indicação da querida amiga, então vereadora, atual vice-prefeita, Dilma de Oliveira. Foi um dos meus mais valiosos presentes, um dos meus maiores orgulhos”, conta.

Conforme destaca a jornalista, hoje ela é paraisense de alma e coração. “Foram 12 anos de construção de uma carreira jornalística que me enche de satisfação; atuando como repórter no Jornal do Sudoeste, tendo o prazer de conviver sob a batuta do mestre Nelson de Paula Duarte, esse guerreiro que leva a notícia para a cidade e região há mais de 30 anos. Na convivência com uma equipe de colegas inteligentes e companheiros, como o Vasco Caetano Vasco; Clélio Antônio Ferreira da Silva (Tiel); Roberto Nogueira e João Oliveira, esta na última formação, mas a rica convivência perpassou por outros tantos bons colegas. Foi por meio do Jornal do Sudoeste que pude fazer grandes matérias, acompanhar momentos cruciais da história da nossa querida Paraíso”, recorda.

“Fiz inúmeros trabalhos como freelance para a Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e de Serviços (ACISSP), junto ao Dr. Aílton Rocha de Sillos, que sempre valorizou meu trabalho; bem como redigi o informativo do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (SEMPRE), com os queridos Maria Rejane Tenório e Rildo Domingos. E ainda participei de muitas revistas, como a Expressão Livre e, por último, a Cultura e Cia”, acrescenta.

Segundo a jornalista, foi em reconhecimento a esse trabalho que ela foi homenageada pela Câmara Municipal, por ocasião de sua despedida. Ela se lembra que foi um momento doloroso, em abril de 2017, quando deixou para trás sua zona de conforto, “onde viviam comigo amigos maravilhosos que fiz ao longo desse tempo de um pouco mais de uma década. Amigos que guardo com requinte de preciosidade. Amigos que me ajudaram em momentos cruciais da minha existência, como no falecimento de meu pai, que ficou em solo paraisense, a fim de tornar ainda mais importante minha passagem pela cidade”, ressalta.

Por fim, Heloísa destaca que foi para São Paulo há dois anos e meio e hoje se sente realizada porque seu ser foi forjado em uma passagem repleta de riquezas. “Eu me formei atriz em julho passado, estou fazendo curso profissionalizante de dublagem, fiz mais de dez oficinas de escrita literária – para não perder a mão – e agora estou atuando como assessora de imprensa na agência de Comunicação A Expressão 5, um novo desafio, mas que tenho vivido vestindo a camisa e sendo recompensada pelo profissionalismo de colegas incríveis, sob a batuta de jornalista Leniza Krauss, que foi grande repórter de TV e tem larga experiência em Comunicação. Minhas últimas palavras nesse depoimento: Grata, São Sebastião do Paraíso! E parabéns!”, completa.

A jornalista Sônia Souza, que iniciou sua carreira jornalística na TV Sudoeste e hoje atua na EPTV de São Carlos (SP), faz um relato emocionante da saudade que sente da terra onde iniciou sua jornada. “Na minha Paraíso tem ipês que florescem em agosto. Tem canários, tico-ticos e pintassilgos que catam gostoso de cima dos ipês, dos jatobás, das aroeiras, dos angicos... Tem borboletas nos canteiros da Praça. Aliás, praças! Porque são muitas, com igrejas bonitas, bem zeladas! Desse jeitinho assim, que a gente sabe. Com gosto e cuidado! E até isso ajuda a mostrar a fé da nossa gente. Gente do bem, trabalhadeira! Paraisense é não ter preguiça, não! Como diria meu pai: é ‘disposto pra vida’! É gente pronta pra construir junto, crescer, prosperar! Na minha Paraíso tem cheiro de café por toda parte! Por toda casa que a gente passa! Sempre vai ter sempre um cafezinho para acolher, para aquecer!”, conta.

“É clichê falar do pão de queijo e até injusto citar só ele! Na mesa de café da tia Lena, ou da tia Vilma tem também bolo de fubá, broinha oca, pãozinho caseiro, biscoito e na época do frio tem o pau a pique... Ah, o pau a pique! Feitinho de fubá com amendoim na folha de bananeira, cozido e assado com cravo e rapadura! É difícil explicar do que se trata, mas quando a gente mostra é agrado certo!  No meu pedaço de chão mineiro tem alimento pra alma! Em setembro tem o cheiro da florada do café, que é docinho, docinho! E por falar assim, os doces da mamãe feitos no tacho de cobre, de leite, de abóbora... E aquela goiabada! O jeito mineiro que acolhe, que abraça que fala diferente de Belo Horizonte, mas tem sotaque próprio, jeito próprio de falar o famoso uai, ou chamar de trem tudo que é coisa que existe!”, acrescenta a jornalista.

Sônia conta que ficou longe de Paraíso para poder ficar mais perto da maneira que escolheu assistir, noticiar e participar da história do país. “Como jornalista, pude cobrir o impeachment da primeira Presidente do Brasil, e o segundo da história do país. Pude participar da cobertura de posse de dois novos presidentes. Assim como votações importantes na Câmara, no Senado, no Supremo Tribunal Federal. Ao vivo, pude assistir e mostrar para o Brasil inteiro fatos que marcam a história. E em toda e qualquer situação, o jeito trabalhador, ético, de respeito, ‘disposto pra vida’ paraisense, é que se fez presente em mim. Porque nas terras mineiras é que cresci e aprendi a ser gente. É no meu Paraíso que estão minhas raízes, minhas bases, meus bons exemplos e minhas fortalezas. Meu alicerce é paraisense!”, destaca.

Por fim, ela comenta que a saudade bate em seu peito sempre. “Às vezes é tanta, que dá vontade de chorar. Mas como o bom humor é marca registrada de todo bom mineiro, nessa hora é bom lembrar do Tio Ataíde que bem do meio do cafezal, dá uma alta gargalhada e fala rindo: ‘Larga mão de ser besta! Que a gente tá aqui! Tá aí, tá aqui... tá sempre junto’. O meu Paraíso tá no coração, e carrego ele para todo lugar. E é com esse carinho grandão que eu comemoro mais um ano da cidade. Desejando a permanência dessa cultura rica e gostosa! Mas como nada é perfeito, o que ainda não tá certo, do jeito que a nossa gente merece, que possa ficar!”, completou.

Gustavo Borges: “Viver longe de nosso ninho, é sinônimo de viver com saudade”
Heloísa Aguieiras: “Lembro que cheguei em uma manhã fria, mas ensolarada e, ao passar pela Praça da Matriz, me encantei e nasceu uma vontade enorme de ficar”
Ely Vieitez: “O que mais me impressiona é sempre que se visita Paraíso, atualmente, é a  sensação doce de quem volta para casa. Pura magia”