Era por volta dos anos 80, sem precisão de datas, eu era apenas uma criança percebia que na cidade começavam a surgir os primeiros grandes edifícios. Alguns tinham nomes como o do Credireal, Jardim Novo, Edifício Recreio e havia um que era apelidado de Canoa, nunca soube a razão. Com o passar do tempo surgiram outras construções verticais, algumas delas até hoje sem ser concluídas podem ser vistas de longe como espigões inacabados.
Eu como menino que andava para todos os cantos da cidade, dos arredores de Paraíso, da periferia da Vila Mariana, ou de qualquer outro canto tinha estas obras como sinônimo do progresso que estava chegando. Era um pensamento não só meu, mas de muitos paraisenses de que São Sebastião do Paraíso crescia em plenos pulmões. A pergunta era uma só: quem vai morar naqueles edifícios? Ah! Aquilo não era habitação para pobres e logo imaginava-se que eram os ricos, as pessoas mais abastadas que morariam naqueles edifícios.
Mas ao mesmo tempo em que a cidade crescia para o alto, também surgiam bairros novos e teve um tempo em que a expansão de Paraíso também passou a ser acelerada de forma horizontal. Lugares como o Parque São Judas Tadeu, Maria Italiana, Veneza, Verona, Cristo Rei, Rubens Rocha Gonçalves, Jardim Europa, Jardim Planalto, Itamarati, Cidade Nova entre tantos outros foram dando novos contornos a nossa cidade, e novamente a sensação do progresso podia ser vista por todos os lados.
Junto com os bairros surgiram importantes vias de ligação entre uma região e outra como foi o caso das avenidas Dárcio Cantieri, Washington Martoni, Central, Zezé Amaral e a João Pereira de Souza. Recordo que em função da duplicação da Dárcio Cantieri surgiu uma grande polêmica em função do prefeito da época ter mandado retirar do caminho uma enorme seringueira localizada nas proximidades de onde hoje está instalada uma concessionária de veículos, logo na saída para Passos. A polêmica foi grande porque ambientalistas ativos da época botaram a boca no trombone e o assunto rendeu muita falação. Se houvesse redes sociais naquele tempo, como hoje, logo seria marcada uma manifestação de protesto, contra o autor de tamanha agressão contra o meio ambiente. Mas a avenida está lá.
Foram em razões de obras como estas que a cidade expandiu sem limites. Outro episódio marcante desta horizontalização, remete ao mesmo administrador da cidade, que de um dia para outro destruiu a rodoviária na região da Lagoinha. Outro local para embarque e desembarque de passageiros foi construído levando o desenvolvimento para aquela região, onde atualmente funciona o Terminal Rodoviário Ângelo Scavazza. No seu entorno surgiram tantos bairros que a região tornou-se mais populosa de que muitos municípios circunvizinhos.
Ao mesmo tempo em que a cidade crescia em sentido horizontal, talvez por questão da economia nacional com influência direta no município, as construções verticais foram perdendo fôlego. Os prédios deixaram de ser "grandes" para se tornarem construções menores. Imaginava-se que com o decorrer do tempo aquele que ainda é o maior seria superado por outro mais alto ainda e um ganhando de outro, logo teríamos algum edifício beirando os 50 andares. Mas não. Legislações foram criadas e o desenvolvimento vertical acabou sendo freado bruscamente, motivada por questões de segurança, de infraestrutura e tudo mais.
Como o tempo não para, os anos 90 passaram rapidamente e a entrada do novo milênio surgiu não como o fim do mundo. Pelo contrário foi o nascimento de novas Paraíso, dentro de São Sebastião do Paraíso. O aparecimento de bairros como São Sebastião, Jardim das Acácias, Santa Tereza, São José, Acapulco, Jardim América, Cidade Industrial, Morumbi, Alto Bela Vista, Alvorada e outros, fizeram com que a cidade crescesse a perder de vista. Até mesmo a minha querida Vila Mariana deixou de ser periférica, sendo o fim da cidade por aqueles lados estendido para o Rosentina e o Paraíso do Bosque. Com novos loteamentos já anunciados estes bairros em breve também deixarão de ser o limite final.
Mas como o auge vai e volta, nos últimos 10 a 12 anos, desde 2008 ou mesmo um pouco antes, impulsionada por uma economia pulsante e empreendedores com sentimento de desbravadores, novamente a cidade horizontal se espicha por outros horizontes, nunca inimagináveis. Situações diferentes a que reportei em artigo do ano passado, também por ocasião do aniversário de Paraíso. Refletia sobre quando certos lugares iriam se transformar, em alusão a uma expressão que dizíamos na infância, "quando isso aqui vai virar cidade". Com tempo tudo virou e está indo além do imaginado.
Refiro-me aos bairros mais recentes que surgiram em nossa cidade como é o caso do Jardim Diamantina. Lá do alto, naquele platô temos uma visão de Paraíso com nitidez. O centro velho e o futuro centro novo, a cidade administrativa do amanhã já se apresenta com suas construções imponentes. Prédio do Fórum, Ministério Público, Câmara Municipal, Campus da Universidade de Lavras (Ufla). No entorno, inúmeras residências que já se espalham, projetando o que vem pela frente em um breve futuro quando novamente Paraíso terá ares de cidade universitária.
Mas não fica só nisso, bairros como Alto do Paraíso, Riviera, Nascentes do Paraíso, Jardim Daniela, Azul Ville, Portal dos Ipês, Belvedere, Jardim São Geraldo entre vários lugares. Não bastassem os condomínios rurais, Paraíso já tem o seu condomínio fechado, localizado em área de franca expansão onde também se encontra o Jardim Mediterranèe, Athe-nas, regiões antes inabitadas e que se tornaram áreas nobres. É a nova Paraíso que se renova em cada fase de sua expansão horizontal.
Até aonde iremos chegar, para onde vai se seguir, quais os novos rumos, são perguntas que faço a mim. Será que um dia Paraíso voltará a ser vertical, qual edifício irá superar os atuais grandes, por grandões, só o tempo dirá.
Já não sou mais menino, mas continuo andando por esta cidade vivenciando meu Paraíso. Em vários locais dá-se a impressão de estar noutra localidade, mas logo percebo que não. O ar é o mesmo, as pessoas, a comunidade, o horizonte é o mesmo. Por detrás de uma construção, do alto de uma esquina, ainda consigo avistar mesmo que lá longe a torre da Matriz São Sebastião e me sintonizo, estou longe, estou indo cada vez mais distante.
Se horizontal ou vertical já não importa, o que vale é que estou no Paraíso, minha terra querida, cada vez mais próxima de completar seu bicentenário, que se envelhece, mas que se renova, que cresce e que apesar de suas mazelas, me faz orgulhar do lugar onde nasci e onde moro. Parabéns Paraíso por seus 198 anos de história, de existência e de vivências.
Roberto Nogueira - Jornalista