Mirelly Marta Alves Cintra, é mãe. Reside em Paraíso e ocupou a tribuna da Câmara Municipal nsta semana para pedir o retorno de creches em tempo integral. O assunto já havia sido discutido momentos antes e gerou muito debate. Vereadores lembraram da necessidade de novos espaços para atender a demanda e criticaram ações que têm sido tomadas pela Secretaria Municipal de Educação para resolver a questão.
Mirelly destacou inicialmente que muitas mães não puderam comparecer à sessão já que trabalham o dia todo. "Estão em casa fazendo o jantar e cuidando da casa, mas estamos aqui em nome de todas que estão sendo prejudicadas pelo período parcial das creches. Eu mesma fui fazer inscrição do meu filho em uma creche, e simplesmente a coordenadora me disse que não vai ter período integral, só parcial. A gente vê o quanto somos pequenas perto das decisões dos maiorais", destacou a mãe.
Marelly ressaltou o trabalho dos vereadores, mas, emocionada com a situação, questionou o que essas mães irão fazer no próximo ano, quando precisão trabalhar e não serão mais contempladas com creches em tempo integral. "O prefeito não vê isso, ficamos indignadas. A única forma que tivemos foi vir e pedir encarecidamente para os vereadores colocarem a mão na consciência e interceder por nós. Não é fácil sair de casa cedo e voltar tarde (como no meu caso que trabalho o dia todo e só retorno às sete horas da noite). Não tenho condições de pagar uma escolinha, trabalho para ajudar meu esposo em casa", disse.
A mãe destacou dificuldades que tem enfrentado com pagamento de aluguel, luz e impostos. "Se o cidadão não paga vamos para a rua. Nossos filhos estão desamparados e a gente, como pai e mãe, queremos o melhor para eles e isso sabemos que a creche em período integral é um direito. Estou aqui pedindo em nome de cada uma das mães e pais que estão passando por isso - e não estou dormindo, pensando como vou fazer ano que vem", lamentou.
Mirella ainda falou do quão é complicado contratar um estranho para ficar dentro de casa cuidando da criança. "Não sabemos quem estamos colocando ali. Peço o possível em prol das nossas crianças. Eu queria que você (Walkinho) estivesse aqui pra ouvir o que estou falando. Isso que ele está fazendo está atrapalhando muito a população. Ninguém tem uma posição certa para nos dar. Fui à promotoria e me disseram que, realmente, não vai ter o período integral, mas que apesar de não estar nada resolvido, parece, o prefeito já assinou o TAC", relatou.
"Se ele já assinou a população que se dane? Ele está a favor desse período parcial e lavou as mãos? Nós (mães) que demos nosso jeito? É isso o que a gente entende. Nós não fomos comunicadas, simplesmente avisaram que a partir do ano que vem não vai ter período integral. Meu filho ficava em uma creche ótima e a diretora avisou que alunos do primeiro período vão ser transferidos para outra creche em período parcial, caso consiga vaga, e que ali iria ser abertas vagas para o berçário", acrescentou.
Segundo a mãe, as crianças do primeiro período vão sair para dar vagas para o berçário. "Por que não alugar um lugar para atender essa demanda? Dinheiro tem. Não precisa tirar nossas crianças de um lado e jogar para outro, criança não precisa disso. As mães fizeram o abaixo assinado com mais de trezentas assinaturas. A gente quer atenção e atitude de vocês vereadores", completou.
MANIFESTAÇÕES
O vereador José Luiz das Graças destacou que "esta mãe que está chorando nessa tribuna, não é a única. São inúmeras, dezenas de mães que têm saído de reuniões das escolas chorando, pois não têm onde deixar seu filho. Não entendo como o MP, o prefeito e o procurador do município defendem quatro horas e negociam no MP quatro horas em desfavor das pessoas mais carentes e necessitadas e que às vezes a única alimentação saudável que tem é na escola", questionou.
Conforme lembrou o vereador, ele chegou a pedir que os pares fossem ao MP. "Já fui lá e fui atendido friamente, tenho certeza que nenhum filho de autoridade está estudando em escola pública ou em creches. Só sente a dor quem tem a ferida. O orçamento está inchado e vai fazer dívida, e povo sem creche. Vocês que são mães, arregacem as mangas. Vão para as ruas, para a porta das creches, para a porta da prefeitura. Façam com que o direito de vocês seja respeitado. Lutem por eles, eles governam para o povo", disse.
O vereador Marcelo de Morais disse que os pares precisam ter muita prudência para "não enfiar as mãos pelos pés e sair todo mundo perdendo". "Todo assunto polêmico tem o MP envolvido, recomendação do Ministério Público: é creches, IPTU, Aterro Sanitários, Área Azul, tudo tem recomendação do MP envolvido. Quem administra nossa cidade chama-se MP. Só tem um jeito de resolver: vamos fazer um grande manifesto dia 16, último dia de sessão legislativa. Vamos reunir todas a mães e vamos para a casa do prefeito. É igual Guardinha, vai consertar aquela estrada quando fecharem a rodovia, só assim o prefeito irá voltar atrás", ponderou.
Morais sugeriu ainda ir ao gabinete do chefe do Executivo e, também colocar todo mundo dentro da prefeitura. "Se deixar a criança sozinha a mãe é responsabilizada. Se ele (prefeito), ele mantém a creche, a decisão é dele. O que resta é fazer o que estamos fazendo: abrir a tribuna, cobrar, requerer, cobrar do Ministério Público. Não sabemos qual o custo detalhado destas creches porque não temos como discutir. O que está sendo o facilitador pra que você não incorra em perder o seu emprego pra ficar com o seu filho é a creche. Prefiro que o prefeito pegue os cargos de acordo político, quase 200, cargos de favor, corte e mantenha as creches. O corte desses cargos, em quatro anos, economizaria por volta de 36 milhões de reais, dá pra construir 10 creches só mandando os cargos de confiança embora", disse.
O presidente da Casa, Lisandro José Monteiro disse que todos os vereadores também irão assinar o abaixo assinado e que as mães podem contar o apoio da Câmara.
PREFEITURA RESPONDE
A secretária municipal de Educação, Maria Ermínia Preto de Oliveira Campos, disse que compareceu, a pedido dos vereadores, ao plenário na Câmara Municipal na semana passada para esclarecer a situação das vagas em creches, e o motivo pelo qual foram tomadas as decisões. Esclareceu também que o Ministério Público está ciente da situação, tanto que foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Segundo a prefeitura, "vale ressaltar que, as crianças que realmente necessitarem, por situação de vulnerabilidade, serão atendidas em tempo integral. Todos esses casos serão analisados pelo Conselho Tutelar e pela assistente social da Educação".