SR. WALDIR MARCOLINI

O dia em que Waldir Marcolini interrompeu carreata conduzindo Hélio Garcia

Por: Nelson Duarte | Categoria: Cidades | 28-11-2019 15:41 | 2891
Foto: Arquivo Nelson Duarte/Jornal do Sudoeste

Uma das eleições mais disputadas para o governo de Minas Gerais ocorreu em 1990, quando Hélio Garcia que já havia ocupados cargos públicos, pelo Partido das Reformas Sociais (PRS), disputou venceu em segundo turno o jornalista Hélio Costa, à época, filiado ao Partido da Renovação Nacional (PRN). Diferença apertada, algo em torno de um por cento dos votos válidos.

Waldir Marcolini era o prefeito de São Sebastião do Paraíso, em segundo mandato. De mangas arregaçadas apoiava Hélio Costa.

Pois bem. Hélio Garcia por sua vez tinha fortes apoiadores no município paraisense, dentre outros, o ex-deputado Delson Scarano, Carlos Costa que liderava um bom número de empresários e influenciava na política local.

Numa campanha eleitoral disputada palmo a palmo, Hélio Garcia veio a Paraíso buscando minar crescente posição de seu opositor. No Aeroporto Joaquim Montans Jr. foram recebê-lo líderes políticos e simpatizantes de toda região, em grande número. Inesperadamente, e para surpresa geral, também chegou para “dar-lhe boas vindas” o prefeito Waldir Marcolini.

A caminhonete Toyota de Carlos Costa estava estacionada para conduzir o candidato. Iria “puxar” a carreata por ruas e avenidas da cidade. À carroceria subiram Hélio Garcia, Delson, o presidente do diretório do PTB local, Paulo Guedes, e por último, convidado, Waldir Marcolini. Foi quando um grupo que estava em frente à caminhonete iniciou questionamento, dizendo que Waldir apoiava Hélio Costa. O bochicho foi se alastrando, e, depois de conversa de pé de orelha, desceram Garcia, Scarano, Costa e Guedes, ficando apenas Marcolini em cima da carroceria.

Aguentou firme, contrariando um grupo mais afoito que lhe perguntava, “você apoia Hélio Costa, por que está aqui”? A resposta se iniciou com seu costumeiro jargão: “Meus caros conterrâneos”, e prosseguiu: “Vim aqui como prefeito, e porque fui convidado”. E levando a mão ao rosto, acrescentou: “Tenho vergonha na cara”, finalizando a frase com apimentada crítica a adversários que ali estavam.

Acabou descendo da Toyota quando alguns minutos depois lhe comunicaram mudança na programação. Ficou decidido que Hélio Garcia iria na boleia, apenas ele e o proprietário do veículo que tomou a dianteira para conduzir a carreata.

Com sua Mercedes Benz, Marcolini posicionou-se logo atrás, e como o segundo da extensa fila, não cedeu espaço desde o aeroporto, entrando pela avenida Wenceslau Brás, rua Pimenta de Pádua até o cruzamento com a Angelo Calafiori, quando parou o carro. Simulando que havia ocorrido algum defeito, abriu o capô, e matreiramente tirou um cabo de vela, para de fato, a Mercedes ficar sem partida.

E a Toyota seguiu solitária conduzindo Hélio Garcia até a Praça Comendador José Honório, enquanto ouvindo xingamentos de toda ordem, prefeito Waldir Marcolini, num verdadeiro ninho de cobras, alegando que o “carro não pegava”, conseguiu interromper, ao menos por algum tempo a carreata.

Hélio Garcia acompanhado por apoiadores, tomou café, e falou com a imprensa em um bar no calçadão da praça. Aos poucos chegaram os que haviam ficado para trás, e se recompôs a carreata.

Waldir disse-me que aqueles cinco minutos, sozinho e Deus na carroceria da Toyota, lhe pareceram cinco horas.