Este ano foi atípico para a colheita do café, e os reflexos têm influenciado no preço do produto. Conforme explica Fernando Neto Pereira, diretor da Caffer Comércio e Armazenagem de Café, foi iniciada a colheita da safra de forma antecipada, meados de abril. Com poucos dias de colheitas houve chuva (a única no período), no mês de maio e houve paralisação. A partir disso, produtores passaram utilizar máquinas na colheita, mas os grãos não estavam saindo, ficando em média de 30 a 40 por cento nos cafezais, o que motivou nova paralisação na colheita, sendo retomada em meados de junho, começo de julho, mais intensamente.
"Com isso a safra ficou muito esparsa, então a estimativa de safra em torno de 58 a 62 milhões de sacas foi repensada, e somada à seca prolongada, fez com que o mercado subisse. Há indicativos de chuva para o final deste mês, mas por hora não é nada concreto" salienta Fernando .
O diretor da Caffer chama a atenção para longo período de estiagem, sem as costumeiras chuvas de veranico em maio e junho. "Isso é muito ruim porque elas não se alimentaram no déficit hídrico enquanto estavam com frutos, e sendo retirados lavouras sentem necessidade de água, e as chuvas não vieram, o que pode afetar a safra do ano que vem".
O mercado, conforme enfatiza Fernando, subiu em função do início e retomada da colheita, também da seca prolongada, tendo em vista que exportadores não sabem qual será o tamanho da safra. Há muitas entregas futuras que estão retirando cafés de mercado, além de outro fator que é a pandemia, visto que há no Brasil 25% de lavouras novas no parque cafeeiro, e mesmo com lançamentos de máquinas ainda é muito grande a utilização de mão de obra que não foi utilizada, acrescenta.
Sobre preços de comercialização, o diretor da Caffer aconselha "que o produtor não perca oportunidades de bons preços, principalmente o mercado entre R$ 550, a R$ 600, a saca. Não víamos estes níveis de preço há muitos anos. Para uma safra boa como esta, o preço é excelente, independentemente da cotação do dólar, de seca, ou da quebra na estimativa de safra. A gente sabe que o produtor vem de dois anos difíceis em função de preços do café e pelo custo de insumos que subiram demais em função da alta do dólar, ultrapassando níveis nunca vistos".
O produtor deve acompanhar, ficar de olho, porque com a vinda da chuva e florada, os preços mercado poderão cair. Abriu florada o exportador já passa a trabalhar com um ano na frente. Poderá uma melhor correção de preços? Não acredito. Pequenos e médios produtores precisam lembrar que existem muitas multinacionais dentro do Brasil, que têm café, e elas estão para ganhar dinheiro, não para produzir café. O diferencial é que se para o produtor vender entre R$ 560 - R$ 600 a saca não é o preço ideal, para empresários pode ser excelente, e acaba suprindo o mercado que é do produtor, diz Fernando Neto Pereira.
QUALIDADE
No tocante à qualidade, o diretor da Caffer observa que houve pouca chuva em 2020, e a qualidade dos cafés está excelente, até porquê, pelo déficit hídrico, produtores conseguiram fazer secagem e preparo da maior parte de seus cafés nos terreiros, e, em função disso, houve melhora muito grande em termos de qualidade.
Grãos e a renda, segundo Fernando, estão dentro da normalidade, em parte, em função das chuvas de 2019. "Qualidade boa, preço em alta, é oportuno que o produtor coloque a cabeça no lugar, aproveite a situação, saia dos juros e de contas, principalmente os que têm financiamentos a pagar", conclui.