CRÔNICA HISTÓRICA

Paraíso das Jardineiras

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 06-01-2021 06:40 | 8347
A Noite Ilustrada. Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1948
A Noite Ilustrada. Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1948 Foto: Reprodução

A partir dos anos 1930, os moradores de São Sebastião do Paraíso, Sudoeste Mineiro, começaram a contar com o serviço de transporte coletivo urbano, através das antigas jardineiras. Esse termo era usado para denominar antigos ônibus montados sobre chassi de caminhão, carroceria construída em madeira ou chapas metálicas e tinham um gradil porta-malas sobre o teto. Por vezes, os seus motores clamavam por aposentadoria, pois, chegavam ao interior depois de já terem muito rodado nas cidades maiores. Mesmo assim, simbolizavam um tempo de progresso no polo cafeeiro, que desde a década anterior passava por um período áureo de expansão econômica.

O mesmo tipo de veículo foi usado para inaugurar as primeiras linhas regulares de transporte de passageiros para as cidades vizinhas e distritos. Com perseverança, lentamente, percorriam as estradas empoeiradas, venciam pontes de madeira, sempre parando quando fosse preciso para atender aos moradores das fazendas e povoados. Na época das chuvas mais intensas, os prevenidos motoristas levavam enxadões, pás, correntes, entre outros equipamentos, para romper os atoleiros e buracos.

Essa memória da terra natal pode ser parcialmente reconstituída nas páginas de A Noite Ilustrada, revista do Rio de Janeiro, de 21 de dezembro de 1948, em um anúncio da Empresa Auto Viação Bolazul, propriedade de Iris Caravieri. Uma empresa de transporte coletivo de passageiros e cargas entre São Sebastião do Paraíso, São Tomás de Aquino, Guardinha, Termópolis, Jacuí, Biguatinga (São Pedro da União), Cássia e Passos. A caixa postal e o telefone da empresa tinham o mesmo número, 64, facilitando assim a memorização de suas referências para os clientes.

Depois que fechou o antigo campo de aviação, onde hoje está o Parque de Exposições, ao lado do “Posto do Curuta”, o barracão do aeroclube foi usado como garagem da frota de jardineiras da Bolazul. No início dos anos 1960, algumas dessas jardineiras ainda circulavam no Paraíso de minha infância. Havia uma linha entre a Vila Helena, passando pela Mogi-ana, centro, Igreja da Abadia, Santa Casa, Seminário, retornando ao centro. Permanecia estacionada, ao lado Grupo Escolar Campos do Amaral, próximo à antiga Rodoviária, onde hoje está a Biblioteca Municipal.

Além de Iris Caravieri, também foram pioneiros do serviço de transporte coletivo em São Sebastião do Paraíso, José Malaguti e Pedro Cortez. Todos eles deixaram seus nomes na história do cotidiano da cidade, colaborando para o progresso regional. Nessa história maior estão ainda os bravos motoristas e mecânicos que só não faziam milagres para recuperar os motores e manter o serviço. Mas, como canta o violeiro Almir Sater, “Os caminhos mudam com o tempo. Só o tempo muda um coração. Segue seu destino boiadeiro. Que a boiada foi no caminhão”!

Auto Viação Bola Azul: 1936