CRÔNICA HISTÓRICA

Páginas históricas do jornal "O Paraisense"

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 28-04-2021 10:11 | 973
Professor Gedor Soares da Silveira (1874 - 1920) Fonte: Arquivo do Autor - Foto de Reprodução
Professor Gedor Soares da Silveira (1874 - 1920) Fonte: Arquivo do Autor - Foto de Reprodução Foto: Divulgação

Entre os primeiros jornais de São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, está O Paraisense, lançado em outubro de 1905, sob a direção do professor Gedor Silveira. Nos anos anteriores, havia sido publicados outros dois semanários, A Voz do Paraíso, em 1901 e o Jornal do Povo, em 1903. Esse último teve uma longa trajetória, com diferentes fases, sob a direção do jornalista Antônio Campos do Ama-ral, como órgão de divulgação de diferentes grupos políticos. Todos esses bravos pioneiros da imprensa local eram impressos em prelos manuais, movidos à manivela, pois naquele tempo ainda não havia sido instalada a primeira usina geradora de energia elétrica da cidade.

A importância do jornal lançado pelo professor Gedor Silveira decorre do lugar do qual ele se colocava como divulgador da cultura e opositor político da tradicional referência católica. Além do mais, naquele momento, ainda ecoava certa inquietação decorrente das circunstâncias que levaram à partida do pároco Manuel Theodoro de Macedo. Nesse sentido, O Paraisense abriu espaço para políticos ligados aos cultos espírita e presbiteriano. Gedor Silveira e sua esposa, Dona Luizinha, estavam há cinco anos exercendo o magistério primário na cidade e a competência pedagógica de ambos foi reconhecida em documentos da Diretoria de Instrução Pública do Estado.

A circulação do referido semanário estava inserida num momento diferenciado da história local, início de florescimento econômico, decorrente da expressiva lavoura cafeeira do município. No ano seguinte ao seu lançamento, tomaria posse como pároco da matriz local, o cônego Dr. Aristóteles Aristodemus Benatti, de ideias avançadas e de ampla cultura humanística e científica que criou o primeiro curso ginasial da cidade, assim como o primeiro curso normal para formação de professores primários.

Na sessão da Câmara Municipal de 15 de janeiro de 1906, os vereadores aprovaram uma proposta apresentada  pelo jornal O Paraisense, solicitando a mudança do nome da antiga “Rua Nova”, popularmente chamada de Rua Barão, para a atual Rua Dr. Placidino Brigagão. Homenagem ao então presidente da câmara, o médico Placidino Brotero Franklin Brigagão.

No início do ano seguinte, o mesmo periódico noticiou a inauguração do Ginásio Paraisense, cujo corpo docente era constituído pelo próprio professor Gedor Silveira, pela sua esposa, pelo juiz de direito Dr. Luiz Sanches de Lemos, pelo promotor de justiça Dr. José Bento de Assis e pelo cônego Benatti, que além de diretor também ministrava aulas de Geografia e Álgebra.

Entre os colaboradores do semanário estava o jovem poeta José da Mata, autor de sonetos e crônicas que focalizavam a vida da cidade. Em edição de 13 de maio de 1906, ele publicou artigo intitulado A Inveja.

Outro artigo do mesmo autor comentou o lançamento do livro de poesias Albores, obra de estreia de Noraldino Lima. A trajetória desse jornal paraisen-se ficou registrada em notas de divulgação da imprensa mineira, publicadas em O Pharol, de Juiz de Fora, quando o paraisense Noraldino Lima já estava estudando naquela cidade. Para finalizar, cumpre observar que na década de 1950, circulou outro jornal com o mesmo título, dirigido pelo professor José Emigdio de Lima, mas já em contexto histórico e cultural bem diferente.