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Cogumelos são produzidos pela Kogu em “fazenda” urbana em Paraíso

Por: Nelson Duarte | Categoria: Cidades | 03-05-2021 08:27 | 2883
Leandro da Cunha Galvão (Sukita)
Leandro da Cunha Galvão (Sukita) Foto: Nelson Duarte

Quando Leandro da Cunha Galvão (Sukita) apresentou documentação à Administração Fazendária solicitando registro como produtor rural, ele causou certa estranheza ao funcionário daquela repartição. É que o endereço informado constava como Praça da Saudade, número 39, em São Sebastião do Paraíso. Após análise e deferimento, a Kogu Cogumelos se tornou a primeira “fazenda” urbana de São Sebastião do Paraíso.

O interesse em produzir cogumelos surgiu quando Leandro trabalhava para a empresa Pigminas, indústria de produtos químicos com larga atuação no agronegócio. “Participei de várias feiras, comecei olhar para o agro de outra forma, buscando mais conhecimento na área. Um dia conheci uma cultura de cogumelos, e identifiquei uma possibilidade de negócios, pois não havia  nenhum produtor em nossa região”, explica.

Sempre tive meu olhar para produção agrícola, atividade muito respeitosa e honrosa, a de colocar alimentos na mesa das pessoas, e Paraíso tem essa tradição. Interessei-me, procurei entender, conhecer cada vez mais sobre aquela cultura. Fiz cursos, e sabia que teria grandes dificuldades para implantá-la, principalmente por conta do clima.

Há algum tempo Leandro trabalhava na Pigminas. “Fui a convite de um mestre extraordinário, um grande amigo que é o engenheiro e empresário José Marcio Colombaroli, onde voltei para os negócios, para vendas, e rodamos o Brasil inteiro. Tive oportunidade de conhecer sobre indústria química, vender para indústrias. Atendi grandes indústrias no Brasil”, salienta.

Continuei com meu trabalho na Pigminas, e chegou o dia em que estava na hora de começar a empreender novamente. Era 2017, fiz um plano de negócios, e no ano seguinte o coloquei em prática. Fiz as coisas da forma correta. Busquei o site do Sebrae e tive orientações daquele órgão em Uberlândia. É uma ferramenta que gera planos de negócios, na qual é lançada a visão sobre a atividade pretendida, e se identifica a viabilidade econômica. Não adianta termos sonhos, se não houver viabilidade econômica, observa.

Leandro conta que começou a preencher o plano de negócios e viu que tinha falhas. “Eu não conhecia e não tinha uma pesquisa de mercado, e nem como contratá-la para ter os dados corretos. Então, fui buscando. Eu já era consumidor do produto, sabia os benefícios do cogumelo que é alimento extraordinário, e um dia comentei com o José Marcio Colombaroli, meu grande incentivador. Disse a ele que era negócio viável, e ele afirmou que eu precisava buscar know how.

“Contratei uma assessoria especializada que avaliou meu projeto, entendeu que era bom, fez alterações. Ficou decidido instalar uma estufa na área urbana de São Sebastião do Paraíso, com as condições ideais para essa cultura. Exigiu muito investimento, tivemos que desenvolver tecnologias que não estavam disponíveis, buscar equipamentos até fora do Brasil, de modo propiciar um clima ideal para a produção”.

“Não fazemos nada sozinhos, precisamos muito de apoio. Tive enorme incentivo de meus pais, de minha esposa, de meu filho, de amigos. Feita a montagem em 2019 iniciamos período de testes e no segundo semestre tínhamos estrutura pronta para iniciar a produção. Montamos os compostos para irem para a estufa, e acreditamos no sucesso do empreendimento”, afirma Leandro.

O começo, segundo ele, “foi muito complicado porque além de criar uma estrutura, deve haver uma sintonia fina, de modo a existir o microclima ideal para o cogumelo em todas as estações do ano. A produtividade era baixa, é cultura muito delicada, e havia acometimentos de pragas. O cogumelo é um fungo, e há fungos concorrentes. Cria-se condições para o cogumelo crescer e fungos oportunistas também se desenvolvem, os não desejáveis devem ser controlados. Com isso fomos criando um manejo adequado, de modo ter produtividade com viabilidade econômica”, enfatiza.

“Gastamos bom período para adquirir essa experiência, e a consultoria foi essencial. Já no final de 2019 passamos ter produção um pouco melhor, e mais segurança na atividade. O monitoramento é essencial, e são vários os que fazemos. 2020 foi ano de prática. Saber lidar com dificuldades em cada fase do ano (quanto ao clima), foi muito difícil”, diz Leandro Galvão.

O próximo desafio foi a busca de mercado, de modo escoar a produção. “Encontramos bons parceiros, estamos em desenvolvimento, mas não atingimos nossa capacidade máxima, de vez que hoje está em sessenta por cento. É um desafio, porque o mercado ainda não absorve  produção. As pessoas estão conhecendo o produto, começando perceber não só os benefícios do cogumelo como alimento no aspecto nutricional, mas a versatilidade dele na cozinha, as muitas formas como pode ser usado em muitas receitas”.

Em gastronomia identifica-se cinco sabores nos cogumelos, ou seja, o doce, o salgado, amargo, azedo e umami (chamado de quinto sabor), o que realça todos os sabores, muito utilizado na gastronomia oriental.

O cogumelo confere muito mais sabor em tudo que tiver na receita, e isso vai acontecer quando é usado fresco, diz Leandro. “Tudo fica mais saboroso quando se acrescenta cogumelos, desde o tradicional franguinho. A gente descobre novos sabores e combinações, e se pode dar asas a imaginação, desde utilização em risotos, massas, e o tradicional, que é a porção shimeji na manteiga e shoyu”.

O produzido em maior escala pela Kogu Cogumelos é o da espécie shimeji, e Leandro afirma que introduzi-lo em receitas é uma brincadeira deliciosa. O cogumelo é alimento muito rico em proteínas, aminoácidos, riquíssimo em fibras, vitaminas, sais naturais, antioxidantes.

No Brasil basicamente são produzidos variedades diferentes de cogumelos, que se diferenciam pela textura. O conhecido como champignon, o por-tobello, o shitake o shimeji branco, cinza, o shimofuri, e hiratake salmão.

Uma das dificuldades encontradas na produção é o controle de vários tipos de pragas. “Além de todas as barreiras e dos filtros de todo manejo, também desenvolvemos com pio-neirismo em parceria com uma consultora que é Phd nessa área, o primeiro controle biológico no cultivo de shimeji. Temos biofábrica, e desenvolvemos predadores naturais que vão predar possíveis insetos. Projeto único, estamos produzindo material científico, é um processo longo, mas digo que os resultados são incríveis”, afirma Leandro.

O controle biológico é usado em longa escola em outros países, mas no Brasil está engatinhando. No entanto, Leandro enfatiza que  todos os acometimentos não interferem no produto final. “Produzimos  em ambiente extremamente limpo, com controle sanitário de alto nível, temos protocolos para manter a sanidade do ambiente, e a gente indica que cogumelos não sejam lavados, porque perdem um pouco da textura, encharca, manteiga e azeite não aderem. O ideal é fazer limpeza com papel”, explica.

Leandro acredita no crescimento de consumo de cogumelos, de maneira gradativa nos próximos anos. “O mercado tende crescer, estamos preparados e buscando espaço. Atendemos muitas cidades além de São Sebastião do Paraíso. Fomos pioneiros, temos divulgado e encontrando espaço, com a certeza de estarmos produzindo produto orgânico, rico nutricionalmente, no qual confiamos na qualidade” .

Contatos com a Kogu Cogumelos, inclusive para pedidos  de produtos podem ser feitos pelo whatsapp  35 9 9902-5484 para serem retirados ou entregas em domicílio, ou serem adquiridos em diversos pontos de venda na região.

Outro ponto de apoio para sua empresa, Leandro diz ter encontrado na ACISSP. “Poucas pessoas têm a dimensão do que  é a Associação Comercial, conhecida  no país todo, e com notoriedade incrível no Estado de Minas. Tivemos recentemente um curso e o palestrante ao falar sobre experiências exitosa que trouxe, disse que era um privilégio ter naquela ocasião a presença do presidente da ACISSP, Ailton Sillos. Salientou que sessenta por cento do que ele estava ensinando naquele curso, havia aprendido em São Sebastião do Paraíso, na ACISSP”.

“A ACISSP contribui demais em nosso negócio, por exemplo quando a gente vai abrir novas parcerias, e precisamos de informação para termos uma pesquisa consistente com quem estamos fazendo negócio, além de apoio jurídico, empresarial, ferramentas que ajudam no trabalho nos são entregues pela ACISSP.  Uma instituição que consegue ser boa parceira para empresas crescerem”, enfatiza.

 

TINO COMERCIAL

Leandro da Cunha Galvão é descendente de família de comerciantes. Seu pai, Waldemar Galvão trabalhou por 25 anos na Real Móveis depois montou sua empresa de locação de equipamentos para construção civil, pioneira em São Sebastião do Paraíso. “Sempre o vi realizando negócios. Minha mãe Norma da Cunha Galvão teve loja de tecidos em cômodo que ficava ao lado da venda de meu avô, na avenida Oliveira Rezende. Ele veio de Goianazes (Peixotinho) para Paraíso, para ser negociante. E eu vivia na venda dele onde se vendia tudo a granel. Lá, meus primos sempre tomavam guaraná, e eu, Sukita, daí, o apelido. Aprendi e sempre fui entusiasta dos negócios.

“Depois minha família se mudou para Guaxupé, onde meu pai foi diretor da concessionária Chevrolet. Estava com 19 anos, e precisava trabalhar. Havia uma equipe de consórcio na agência e pedi a meu pai que me desse uma oportunidade. Comecei vender,  vi que tinha tino e foi minha primeira escola. Naquela época prestei vestibular e cursei Direito em São João da Boa Vista.  Mas ainda estava estudando quando retornamos para Paraíso.  Trabalhei com venda de carros, representei empresas.

Terminei o curso e fiz pós-graduação em Direito Tributário. Achava uma bela carreira, mas o lado comerciante falou mais alto e montei uma distribuidora de confecções em Uberlândia. Levava produtos de Paraíso e de outras regiões. Tinha um distribuidor que trabalha todo o Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba. Fiquei lá por sete anos, e foi uma fase muito boa, aprendi muito, ganhei experiência.

Voltei em 2012 e tive convite para  trabalhar na Santa Casa de Misericórdia.  Os paraisenses têm que entender o privilégio de termos esse hospital maravilhoso. Um diferencial para Paraíso. Lá tive oportunidade de participar do início de grandes serviços como o Hospital do Coração, das cirurgias cardíacas, altas complexidades. Na época representei todos os hospitais da região como presidente da Federasantas Macrosul, uma subdivisão da Federação das Santas Casas no Sul de Minas. Foi enriquecedor, uma experiência extraordinária.

Leandro conclui, salientando o carinho pelo empreendimento  “fazenda urbana”, Kobu Cogumelos que iniciou longa caminhada para gerar os frutos, que tem certeza irá gerar.