A largada do GP da Inglaterra me fez lembrar aquelas lutas em que Mike Tyson nocauteava o adversário no primeiro assalto.
Foi um duelo de gigantes, uma largada “animal”, como há décadas não se via na F1. Hamilton foi para o tudo ou nada porque sabia que sua única chance de vencer o adversário era arriscar tudo na largada. Os ensinamentos da ‘Sprint’, do sábado (falo sobre isso mais abaixo), deixou claro para Hamilton que aquela era, provavelmente, a sua única chance de vencer em casa, diante de uma multidão que lotou as arquibancadas de Silverstone, depois de longo período de ausência de público por causa da pandemia.
O problema é que Hamilton estava lidando com um adversário, que como ele, não é de aliviar para ninguém, e quando dois pilotos do mesmo calibre se pegam numa disputa roda a roda, as chances de algo sair errado são grandes.
Verstappen ficou por fora na velocíssima Curva Copse, mas ele sabia que Hamilton estava por dentro, e mesmo deixando um espaço mínimo necessário para o adversário, insistiu em fazer a tomada da curva sem aliviar, e o choque foi inevitável: roda dianteira da Mercedes na traseira direita da Red Bull, e Verstappen virou passageiro rumo a uma pancada violenta de 51G (51 vezes o peso do piloto) na barreira de pneus.
A ida ao hospital foi por precaução. Hoje os pilotos levam sensores nos ouvidos e nas luvas, que acusam a força da batida, e quando ela atinge uma intensidade “X”, mesmo que o piloto não sinta nada, ele é obrigado a passar pelo Centro Médico. No caso de Verstappen, ele foi levado para o hospital para exames mais detalhados, e felizmente tudo estava bem com o piloto.
Sempre haverá opiniões divergentes em acidentes como aquele. É difícil apontar um culpado. Nenhum piloto em sã consciência - muito menos alguém com a experiência de Hamilton -, é louco de provocar um toque de rodas num local como a Copse, feita de pé embaixo a 280 km/h. O risco de um acidente de grandes proporções é grande.
Achei pesada a punição de 10 segundos que Hamilton levou, e ela aconteceu porque existe uma regra que diz que quando há espaço de um carro, o piloto que está por dentro, e bate no outro, é apontado culpado.
Mas estamos falando de uma disputa que vinha se engalfinhando roda a roda por 8 curvas antes de eles chegarem à Copse, e o próprio Valtteri Bottas (companheiro de Hamilton, na Mercedes), que vinha logo atrás, disse que preferiu ficar longe porque sabia que a disputa não terminaria bem.
Tudo isso fortalece ainda mais a minha opinião de que foi acidente de corrida, e não uma manobra desleal de Hamilton, como Verstappen, no calor do momento, saiu falando. O próprio Verstappen tem um histórico de manobras como aquela e fez várias vítimas.
O campeonato incendiou de vez. Com a vitória, Hamilton reduziu de 33 para 8 pontos a desvantagem para Verstappen que restou como consolo além do fato de sair ileso, a certeza de que tinha carro para ganhar a corrida e para seguir favorito ao título.
A largada fulminante de Hamilton foi fruto do aprendizado da Sprint, a primeira experiência que a F1 fez com a mini corrida que definiu o grid de largada para o GP da Inglaterra. O formato foi bacana, mas precisa de alguns ajustes. Eu sugeria que ao invés de o grid ser formado de acordo com a posição de chegada da mini corrida, do 4º colocado para trás a formação fosse de acordo com a volta mais rápida de cada piloto, mantendo apenas os três primeiros na mesma ordem da Sprint.
Isso daria mais chances a quem sofresse algum contratempo, poder recuperar o prejuízo, além de evitar que piloto sem chance de recuperar posição, fosse retirado da mini corrida antes do final, como a Red Bull fez com Sergio Pérez.