O mesmo Lewis Hamilton que silenciou Interlagos em 2008 ao tirar o título de Felipe Massa na última curva da última volta, levou o público ao delírio no domingo passado ao pegar a bandeira brasileira das mãos de um fiscal de pista, repetindo um gesto de Ayrton Senna.
Foi uma vitória épica de Hamilton. Certamente quem foi a Interlagos, ou assistiu pela TV, não vai esquecer desse dia. Hamilton sofreu duas punições, a primeira por irregularidade na asa traseira de sua Mercedes que estava 0,2mm fora da medida regulamentar, sendo obrigado a largar de último na corrida de classificação do sábado. A segunda pela troca do quinto motor de combustão interna, equivalente à perda de cinco posições no grid.
Ao todo, Hamilton foi punido em 25 posições no grid. Fez uma sprint (mini corrida de classificação) memorável ao terminar em 5º depois de realizar 14 ultrapassagens em 24 voltas! No domingo largou da 10ª posição e conquistou uma vitória histórica.
Hamilton mostrou o quão é mentalmente forte ao não se dar por vencido mesmo com a desvantagem de pontos no campeonato, as punições, e tendo que derrotar um adversário não menos forte e que tinha um carro que se adaptava melhor as características de Interlagos.
A luta do inglês pelo 8º título é contra outro piloto excepcional, Max Verstappen, 12 anos mais jovem, líder do campeonato com 14 pontos de vantagem (332,5 a 318,5). E estamos diante de um dos campeonatos de maior nível técnico e acirrados dos últimos anos, diferente de quando se tem um piloto muito acima da média com carro tecnicamente inferior, contra outro piloto normal, mas com um carro muito superior. Hamilton e Verstappen dispõem de carros extremamente competitivos e vivem num momento em que um completa o outro. Seja qual for o campeão, será um título altamente valorizado pelo grau de dificuldade que um impõe ao outro.
Faltam três corridas para o encerramento da temporada, contando com o GP do Qatar de amanhã, e é bem provável que o título só saia na última etapa, em Abu Dhabi, no dia 12 de dezembro. E como tenho dito, este é um campeonato que será decidido nos detalhes.
O olho clínico de Verstappen enxergou que a 260 km/h, a asa traseira da Mercedes de Hamilton flexionava mais que o normal. A FIA foi conferir, e encontrou os 0,2 milímetros de diferença além dos 85mm permitidos entre as lâminas da asa quando acionado o DRS (asa móvel). Não que Verstappen tenha conseguido enxergar 0,2 milímetros à distância, mas serviu de alerta para os comissários da Federação Internacional de Automobilismo aferir as medidas e encontrar a irregularidade que foi tratada como uma falha do mecanismo, mas que feria as regras.
E não foi por nada que depois de uma vitória magistral, a Mercedes fosse apelar para a reabertura de investigação contra a manobra de Verstappen que jogou duro para defender a posição contra Hamilton na volta 48 do GP de São Paulo em que quase acabou em acidente entre os dois no domingo.
O protesto que gerou expectativas sobre uma possível punição a Verstappen, não deu em nada, mas não deixou de tirar o foco dos adversários. É guerra declarada.
O Qatar é o 33º país a receber a F1, e Losail o 76º circuito a sediar um GP desde 1950. O país que sediará a Copa do Mundo de futebol do ano que vem foi inserido ao calendário para preencher a vaga deixada pelo cancelamento do GP da Austrália, e já tem contrato assinado por 10 anos com a F1 a partir de 2023.
A prova será noturna com 57 voltas pelos 5.380 metros do traçado sinuoso, conhecido por quem acompanha a MotoGP, mas novidade para todos na F1. A classificação acontece hoje às 11h, e a largada amanhã no mesmo horário.