Chico Rosa morreu no último sábado (7), aos 80 anos. Quem(?), deve perguntar os mais jovens ou os menos ligados às coisas do automobilismo. Trata-se de um dos personagens mais importantes da história do automobilismo brasileiro. Um homem de estatura pequena, mas gigante em suas ações.
Foi Chico Rosa quem levou Emerson Fittipaldi para correr na Europa em 1969 e dirigiu os primeiros passos do então promissor piloto no velho continente. Foi um começo duro, onde eles dividiram um pequeno quarto de pensão em Wimbledon e se locomoviam para as corridas com um caminhão velho onde transportavam o carro de F-Ford, peças e equipamentos. Emerson justificou a aposta de Chico e começou a fazer sucesso de imediato, saltando logo para a F3. Quatro anos depois se tornou campeão Mundial de F1. Em 74 foi bi.
Chico era engenheiro por formação e poliglota, falava fluentemente inglês, italiano e francês, e tinha muito faro e olho clínico para enxergar novos talentos nas pistas. Com suas idas e vindas da Europa, conheceu e ficou amigo de Bernie Ec-clestone, então dono da Brabham e que mais tarde se tornaria o chefão da F1.
Mas antes de Emerson vencer o primeiro campeonato na F1, Chico já havia garimpado outro talento: José Carlos Pace, que hoje dá nome ao Autódromo de Interlagos. Pace venceu apenas uma corrida de F1, justamente o GP do Brasil de 1975 com a Brabham, fazendo dobradinha com Emerson em 2º. Infelizmente o destino abreviou a carreira do “Moco”, como era conhecido, num acidente aéreo em 1977.
E o descobridor de talentos levou mais um para brilhar nas pistas do mundo: desta vez, Nelson Piquet, depois de impressionar o pequeno Chico numa corrida de Fórmula Super Vê em Interlagos. A amizade com Bernie Ecclestone abriu portas quando apresentou Piquet como futuro campeão Mundial e não deu outra: Piquet venceu três campeonatos, dois com a Brabham e um com a Williams.
Com Ayrton Senna Chico também teve história. Foi em 1989, quando era administrador de Interlagos. Para salvar o GP do Brasil, ameaçado depois de tanta desorganização quando era realizado em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, Chico convenceu a então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, da necessidade de trazer de volta a F1 para a capital paulista. Era a última chance. A prefeita deu o sinal verde, mas Chico ficou extremamente aborrecido com as exigências de Bernie Ecclestone de que seria preciso encurtar os 7.874 metros da pista para 4.325m (hoje o traçado possui 4.314 metros de extensão). A ira de Chico só foi contida quando Senna sugeriu uma chicane no final da reta dos boxes que imediatamente foi batizada por Rosa de “S do Senna”.
Por quatro décadas Chico Rosa administrou o autódromo paulistano. Conhecia cada palmo daquele asfalto, era chamado de “prefeito de Interlagos”. Homem simples e afável, um contador de boas histórias, profundo conhecedor do automobilismo nacional e internacional.
Chico nasceu na região de São Sebastião do Paraíso. Certa vez ele me contou que sua mãe era de Monte Santo de Minas, o pai, nascido em São Tomás de Aquino, era dono de duas fazendas, uma no município de Capetinga, e a outra em Patrocínio Paulista-SP, onde ele nasceu, e que depois de deixar a administração de Interlagos passou a vir regularmente para a esta região cuidar das fazendas da família.
Francisco Castejon do Couto Rosa, uma lenda que nunca se vangloriou dos feitos que fez. Como escreveu o colega Flavio Gomes, “tudo, TUDO que o Brasil conseguiu na F1 deve você”. Fica aqui a homenagem da POLE POSITION ao pequeno Grande Chico Rosa.