ALTA NAS VENDAS

Sindicato aponta alta em vendas de cimento no início do ano

Apesar dos números apresentados, especialistas demonstram preocupação. Altas dos juros e endividamento das famílias podem causar queda na construção civil
Por: Ralph Diniz | Categoria: Cidades | 15-02-2023 09:26 | 431
Foto: Reprodução

O Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SN IC) apresentou, na última semana, um levantamento que aponta aumento nas vendas do insumo no Brasil no mês de janeiro. Segundo os dados, foram comercializadas no País 4,9 milhões de toneladas do produto durante o primeiro mês do ano, um aumento de 6,3% em relação ao mesmo mês de 2022 e de 7,9% frente a dezembro último.

Segundo o SNIC, a venda de cimento por dia útil em janeiro (que considera o número de dias trabalhados e tem forte influência no consumo) foi de 201 mil toneladas, o que representa um aumento de 2,4% comparado ao mesmo mês do ano anterior e de 8,1% em relação a dezembro de 2022.

Porém, em São Sebastião do Paraíso, o cenário parece ser diferente. Willian Martoni, proprietário de uma casa de materiais de construção no município, afirma que não identificou aumento nas vendas de cimento no período citado na publicação do sindicato, apesar da queda no preço do produto. Segundo o engenheiro Álvaro Abrão, diretor executivo da Metrus Engenharia, houve uma queda de aproximadamente 9%. “Um saco de 50 quilos custava R$34 e, agora, está custando R$31”.

O sindicato ressalta, ainda, que o resultado de alta requer uma avaliação cautelosa, isso porque as vendas do cimento no final de 2021 e início de 2022 ficaram aquém do esperado. “Verificamos que o considerável crescimento tem como principal origem uma base ainda bastante fraca registrada tanto em janeiro como dezembro que tiveram os piores desempenhos do ano passado”.

Nesse sentido, Willian Martoni apresenta dados que corroboram com a informação do SNIC. O empresário diz que as vendas de materiais de construção, de modo geral, tiveram um aumento de 10% no comparativo entre os meses de janeiro de 2022 e janeiro 2023. “Tivemos essa alteração tanto no valor físico, quanto no nosso faturamento”.

O Sindicato Nacional da Indústria de Cimento também afirma que o setor da construção civil segue impactado negativamente pelas incertezas da situação econômica do Brasil. As altas da inflação e dos juros, o aumento do desemprego e o endividamento das famílias apontam para um horizonte ainda preocupante. “O mercado da construção continua em queda, tanto na venda de materiais, quanto no número de financiamentos imobiliários, fazendo com que o índice de confiança do setor registrasse a quarta queda consecutiva, resultado da piora no ambiente de negócios, diante da possibilidade de manutenção das taxas de juros em níveis elevados por mais tempo. O pessimismo também é verificado pelo consumidor, que permanece reduzindo as intenções de compras para os próximos meses”, declara o SNIC em sua publicação.

O pedreiro e mestre de obras paraisense Cláudio Jerônimo da Silva diz que percebeu um leve aumento na comercialização do cimento no primeiro mês de 2023. Contudo, ele explica que a maioria das construções onde o produto foi utilizado em janeiro não foi iniciada neste ano. “As edificações onde estamos usando o cimento começaram a ser construídas em 2022, antes do período eleitoral. Depois de novembro, muitas pessoas que pensavam em dar início às suas obras preferiram esperar, porque estão inseguras com a situação econômica do País. Outras, perderam o emprego e tiveram que paralisar a construção”, declara o construtor, que ainda demonstra preocupação com a possível queda na demanda: “Nosso medo é que, a partir do segundo semestre, não tenhamos mais tantas casas e prédios para construir. Hoje eu emprego oito pessoas, e não sei se vou conseguir todas trabalhando comigo a partir de junho ou julho”.

Paulo Camillo Penna, presidente do sindicato, declara: “Em razão de uma base mais fraca em 2022 devemos ter resultados positivos no início de 2023. Apesar do crescimento no período temos que ter cautela. O grande desafio do setor do cimento diante de um ano tão imprevisível será assegurar um crescimento de 1%, atingindo um patamar próximo a 64 milhões de toneladas, e nos trazer de volta a uma trajetória de expansão de comercialização sustentável do produto, contribuindo para o desenvolvimento do País.”

Ainda que o cenário não seja favorável, a indústria do cimento segue otimista com a retomada dos investimentos em infraestrutura e com a possibilidade de elevar a presença do cimento em programas habitacionais e saneamento e, do pavimento de concreto como opção nas licitações de ruas, estradas e rodovias. Conforme explica o sindicato, o governo federal pretende destinar recursos para impulsionar o programa Minha Casa, Minha Vida. Contudo, o reflexo dessas mudanças, caso ocorram, deve ser sentido na demanda de cimento e de materiais de construção apenas no segundo semestre.