OPINIÃO

A liberdade americana

Censura prévia nos Estados Unidos, especialmente em relação a parlamentares, com mandato outorgado em eleições populares, é impensável, inadmissível, inconcebível, representaria uma restrição a um preceito fundamental: a liberdade
Por: Redação | Categoria: Do leitor | 27-04-2024 00:11 | 1295
Foto: Arquivo

Por Vittorio Medioli

No século XIX, a jovem república americana recebeu de presente da França, por iniciativa de um grupo de "esoteristas", a Estátua da Liberdade, que passou a saudar, na entrada do canal de Nova York, os milhões de imigrantes que povoaram suas terras.

Os Estados Unidos receberam essa estátua gigantesca representando o símbolo da palavra mágica, adorada pelos homens, pelos povos e pelas nações de todos os continentes. Conceito da condição daquele que é livre de agir por si próprio, de autodeterminar a sua independência e autonomia. A deusa da América.

A humanidade sofreu seriíssimas e seguidas restrições à liberdade, e nessas condições se deram os piores horrores, perseguições, extermínios, genocídios, sofrimentos e abomináveis retrocessos de todos os tempos.  

Entre as liberdades mais caras ao povo americano existe a de expressão, de informação e de opinião. Liberdade tem um custo, mas garante a democracia, e, por isso, sabe punir quem abusa da amplitude desse direito quando difunde inverdades, perseguições e difamações, aplicando-lhe o rigor da lei e duras penas.

Censura prévia nos Estados Unidos, especialmente em relação a parlamentares, com mandato outorgado em eleições populares, é impensável, inadmissível, inconcebível, representaria uma restrição a um preceito fundamental: a liberdade.

Isso não exclui indenizações de ordem econômica e moral, mas está claro que o parlamentar, no exercício do mandato, pode falar o que quiser. Ainda mais na esfera opinativa e ideológica...

Na última semana, o Congresso americano tomou atitude contra as restrições impostas a um cidadão seu, Elon Musk, e a uma empresa dele, a X, ex-Twitter. 

Mexer com empresa americana gera resposta do próprio Congresso e do governo americano, normalmente solícitos na defesa de tudo que pertence aos seus cidadãos.

O processo está apenas no começo, as discussões poderão engrossar nos próximos dias, contudo já aparece que os Estados Unidos não gostam de levar desaforo ou de se retirar da briga sem um escrutínio severo dos acontecimentos e das pessoas inerentes ao caso.

Estão em julgamento as decisões do nosso Supremo Tribunal Federal, que Elon Musk acusa de arbitrariedade e restrições à liberdade de opinião. 

Esses episódios, quando começam a atiçar o interesse da opinião pública em nível mundial, acabam recebendo contribuições, certas ou erradas, de um universo inquieto e arrastam o país inteiro, o Brasil, no espetáculo circense.

O ente superior do nosso Judiciário está em julgamento no Congresso americano, mas isso é incindível do sistema político nacional como um todo e poderá impactar, em seguida, a economia, o turismo, os investimentos.  

O Congresso e o governo dos Estados Unidos já mostraram, em casos que envolvem interesses de empresas americanas, não poupar esforços, celeridade e acesso a informações de seu imenso arsenal de vigilância (fruto de arapongagem). 

Analisando o céu, para quem crê em influências astrais, iniciou-se nesse sábado, dia 20, a conjunção Júpiter-Urano. Nos últimos cem anos, nessas configurações se assistiram a avanços tecnológicos e momentos de rebeldia social. Passos à frente que favorecem um clima empreendedor e ultracompetitivo. Registraram-se os conflitos mais selvagens do século passado, como o envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial (1941) e na Primavera Árabe (2011). 

Contudo, são momentos de renovação de ambiente e de perspectivas inéditas, que costumam derrubar árvores antigas, destelhar casas e obrigar a sair da zona de conforto. Entramos no signo do poderoso Touro, aquele que arrasta o arado e deixa a terra mais fértil. (Extraído do Jornal "O Tempo" - edição 20/04/2024)