ELEIÇÕES 2024

Políticos analisam desinteresse em período que antecede eleições em Paraíso

Com apenas um pré-candidato a prefeito confirmado a menos de três meses do pleito, a cidade enfrenta um cenário inusitado de desinteresse e incerteza política
Por: Ralph Diniz | Categoria: Política | 20-07-2024 04:04 | 2264
José Editis, José Luiz das Graças e Mauro Zanin
José Editis, José Luiz das Graças e Mauro Zanin Foto: Reprodução

A menos de três meses das eleições municipais, São Sebastião do Paraíso enfrenta um cenário político incomum. Tradicionalmente marcada por disputas acirradas e debates intensos, a cidade agora vê uma baixa movimentação política em relação à disputa pelo cargo de prefeito. Até o momento, o atual gestor Marcelo Morais é o único pré-candidato confirmado. A única via de oposição apresentada até agora, formada por PT, PV e PCdoB, ainda não definiu seu candidato, enquanto outros grupos políticos de peso histórico permanecem em silêncio.

Mauro Zanin, ex-prefeito de São Sebastião do Paraíso por dois mandatos e especialista de Políticas Públicas, oferece uma análise sobre o fenômeno. “Eu acho que há um certo descontentamento, não por alienação, mas por insatisfação em relação ao modelo político atual. A polarização extrema faz com que a população mais consciente não goste do que vê e do que assiste”, afirma. Ele observa que essa insatisfação não é exclusiva ao nível municipal, mas se estende ao estado e à federação. Zanin também destaca a falta de novas lideranças como um problema significativo. “Além da descrença, existe a questão do não surgimento de novas lideranças, de uma maior participação de novos personagens. Quando você olha, percebe que são sempre os mesmos, com os mesmos interesses. É sempre o ‘CPF’, a ‘minha oportunidade de estar ali’; não há um alinhamento com uma agenda para o município”.

José Luiz das Graças, vereador e atual presidente da Câmara de Paraíso, também acredita que a descrença generalizada na política tem afastado potenciais candidatos na cidade. “Pra mim, um país onde a maioria das pessoas coloca todos os políticos no mesmo balaio e sai falando que políticos não prestam, faz com que as pessoas percam o interesse de estar na administração pública, seja no Legislativo ou no Executivo”, comenta o vereador. Ele destaca que muitas pessoas capacitadas são vítimas de informações inverídicas e ataques injustos e, por isso, acabam desistindo de participar da política. “As fake news são como uma das armas de guerra que é a desinformação com o objetivo de transformá-las em verdades e crenças em parte de uma sociedade que não checa informações antes de espalhá-las como se fossem verdades”.

José Editis David, advogado e líder do PDT em Paraíso, oferece uma perspectiva sobre a mudança nas estratégias de campanha. “A forma de se preparar para a eleição está se modificando a partir da adoção das mídias sociais digitais como espaço de comício, de divulgação da imagem e de apresentação de propostas. O discurso fácil chega velozmente nos alvos – o povo, que de posse do celular e computadores, dia e noite vai vendo, ouvindo e se convence de que a ideia ali apresentada é boa e ele gosta”, explica. Ele também enfatiza a necessidade de preparar a população para perceber o abuso das fake news que, segundo ele, comprometem o sistema democrático.

Sobre o suposto silêncio de grupos políticos históricos de São Sebastião do Paraíso, como o liderado pelo ex-deputado federal Carlos Melles, que governou a cidade em quatro das últimas seis gestões, José Editis refuta a ideia de inatividade. “Quando se fala do silêncio do grupo político liderado pelo decano Carlos Melles, acredito que incorre em ledo engano, pois o mesmo é um líder que não teme grandes exércitos e nunca fugiu da luta e nem passou uma eleição sem competir. Ele é um grande observador do cenário político e na calada da noite sempre entra em cena e mostra seu potencial de líder”, enfatiza o advogado.

Sobre a postura do partido que lidera na cidade, José Editis explica que o grupo, no momento, adora uma postura de observação. “Confesso que também estamos observando o cenário da política local e mesmo sabendo que vários partidos estão levitando, por conveniência e sem luta pelos ideais, também no momento oportuno percorreremos a estrada da democracia, lutando em defesa dos munícipes, do diálogo, do saber ouvir e aproveitando as melhores ideias, resistindo ao arbítrio”.

Ainda sobre a falta de interesse de novos personagens e lideranças, além da descrença no sistema político atual, Zanin complementa: “Não há um interesse direto porque o discurso é mais de desconstrução do outro do que de organizar a obtenção do seu espaço político. É muito configurado na pessoa e sem ideologia, sem base eleitoral, sem princípios”, diz. Das Graças acrescenta que o caminho para reverter essa tendência é através da educação e do fortalecimento dos princípios. “É preciso estabelecer políticas públicas voltadas para a educação com objetivos e metas, preparar as pessoas para ser justas e corretas nos cumprimentos dos deveres e na garantia dos direitos. Com o tempo, isso despertará na sociedade o entendimento de que a política é importante e que todos devem participar, não somente como eleitores, mas, também, como postulantes aos cargos”.

Por fim, José Editis ainda acredita que o cenário político paraisense para as próximas eleições possa mudar. Segundo ele, a observação atenta do cenário político local e a espera pelo momento certo para agir parecem ser a estratégia adotada por muitos. “O mineiro come quieto e trabalha em silêncio. (...) Faz-se necessário ir em busca daquele candidato que seja uma alternativa tão ou mais qualificável para exercer a função de gestor ou gestora de um município. Acreditamos na força inteligente do ser humano e na união de forças e na iniciativa do povo para apresentar um líder nos partidos que articulados entre si montem uma chapa forte e acima de tudo inteligente. É preciso, pois, arregaçar as mangas e convocar as pessoas para liderar e participar. Não se deve mais tarde reclamar do gestor político à frente da administração pública. É preciso saber que é politicamente que se resolvem os conflitos, que se apara as arestas para um fim que é o bem comum, o bem de todos, isto é democracia participativa. O povo governa, manifesta, opina e dá ideias”, conclui.

José Editis acredita que a situação pode mudar e afirma que mineiro come quieto e trabalha em silêncio
José Luiz das Graças acha que a descrença generalizada na política tem afastado potenciais candidatos na cidade
Mauro Zanin acredita que insatisfação ao modelo  atual tem levado ao  desinteresse político na cidade