Gedor Silveira interrompe novas internações e escancara crise: “Não há mais como assumir esse descaso”, alerta curador
Déficit mensal passa de R$ 400 mil; Fernando Alvarenga acusa abandono de União, Estado e municípios, enquanto o prefeito cogita intervenção

A
suspensão de novas internações no Hospital Psiquiátrico Gedor Silveira (HGS),
em vigor desde 25 de abril, trouxe à tona a pior crise financeira da
instituição em quase oito décadas de funcionamento. Em ofício aos 154
municípios referenciados, a Fundação Ge-dor Silveira aponta o congelamento da
diária do SUS em R$ 82,40 desde 2018 — mesmo após sentença que fixou o valor em
R$ 220 — como a principal causa do colapso.
Em
entrevista ao Jornal do Sudoeste, o curador da Fundação Gedor Silveira,
Fernando Alvarenga detalhou o cenário: “O acordo com as prefeituras foi
cumprido até outubro de 2024; depois ninguém mais deu resposta. Hoje o hospital
absorve um déficit superior a R$ 400 mil por mês para manter cerca de 110
pacientes. Já não temos condições de assumir esse descaso com a saúde mental.”
Alvarenga
atacou a falta de articulação entre esferas de governo: “Há uma política de
desrespeito ao ser humano. Falam em desospitalização, mas nem todas as cidades
têm CAPS, e as que têm não suportam a demanda. Estive em Brasília e em Belo
Horizonte, mas Estado e União não oferecem solução. Quem sofre é a população
mais vulnerável.”
Ele
confirmou tratativas com Ministério Público e Secretaria de Estado da Saúde de
Minas Gerais para evitar que o hospital, fundado em 1962 e referência para 158
municípios, feche as portas: “Estamos pedindo que cumpram a sentença que
reajusta a diária e que façam repasses emergenciais. É muito triste ver que
quem deveria cuidar dessas pessoas não olha para elas como deveria.”
Pacto
COMPOR parou em outubro
O Pacto
COMPOR, firmado em novembro de 2023 com repasse mensal de R$ 2,5 mil por
município, garantiu fôlego de menos de um ano. “Quando os pagamentos cessaram,
o déficit explodiu de novo. Sem novas receitas, tivemos de interromper as internações”,
explicou o curador.
Prefeito
fala em intervenção
O
prefeito Marcelo Morais afirma ter sido comunicado apenas “na sexta-feira
passada” e que o município — gestor pleno da saúde — não participou das últimas
reuniões mais recentes com Estado e União:
“Fui
comunicado oficialmente na sexta passada sobre a decisão do hospital e, mesmo
não tendo sido convidado ou participado das tratativas com Estado e União,
estou acompanhando de perto a situação e não descarto a possibilidade de
intervenção municipal na instituição. Assim que o município for informado do
conteúdo das reuniões ocorridas em Brasília e Belo Horizonte, poderemos definir
o que pode ser feito para impedir o fechamento. Quanto à decisão de não receber
mais pacientes do SUS, eu já esperava tal atitude da diretoria diante do
cenário estabelecido por Estado e União”.
Morais
disse ainda que convocou sua equipe para analisar medidas emergenciais e
prometeu “não deixar o hospital fechar por omissão do município”.
Histórico
de crises
Referência em psiquiatria e
dependência química, o Gedor Silveira dispõe de 160 leitos SUS e 23
particulares. Em 2016, sobreviveu ao fechamento do Otto Krakauer, em Passos, e
em 2023 evitou a própria extinção graças ao Pacto COMPOR e a audiências
públicas conduzidas pelo Ministério Público. “Sem recurso novo, não reabriremos
vagas”, conclui Alvarenga. “A saúde mental da região está em risco.”