Gedor Silveira corre risco de fechar em junho e políticos buscam socorro urgente
Déficit chega a meio milhão de reais por mês; diretoria, Câmara e Prefeitura tentam mobilizar Estado e municípios vizinhos para impedir encerramento das atividades

A
sobrevida do Hospital Psiquiátrico Gedor Silveira, fundado há 63 anos e único
da macrorregião SulSudoeste mineira, com internação psiquiátrica pelo SUS, está
condicionada a uma corrida contra o relógio. Na quinta feira, 8, membros da
diretoria da entidade receberam dez vereadores e o prefeito de São Sebastião do
Paraíso para detalhar o rombo de R$ 500 mil mensais que ameaça fechar as portas
em 30 de junho.
Durante
quase duas horas, a gestora Gabriela Silveira expôs números que já haviam
levado a Fundação a suspender novas internações no mês passado: 80 pacientes
permanecem internados, mas outros 105 aguardam vaga na Central de Regulação de
Alfenas desde que o serviço parou de receber casos pelo SUS. Segundo ela, a
tabela federal cobre apenas 36 % do custo real das diárias.
Em
2023, um termo de cooperação mediado pelo Ministério Público determinou a cada
uma das 154 cidades atendidas um repasse mensal simbólico de R$ 2,5 mil, porém,
apenas pouco mais de um terço cumpriu a promessa até outubro de 2024.
O
contraste mais gritante está em São Sebastião do Paraíso. Mesmo mantendo apenas
dois moradores no hospital, o município transfere R$ 125 mil mensais e, segundo
Gabriela, impede que a folha de 180 funcionários entre em colapso. Ela calcula
que bastaria cada prefeitura enviar R$ 8,5 mil mensais — valor inferior ao que
o SUS costuma pagar por um único leito em clínica particular — para zerar o
déficit. “Fechar leitos públicos só empurra famílias humildes para clínicas
privadas com preços inviáveis. Precisamos de união agora”, resumiu.
A
comitiva legislativa foi liderada pelo presidente da Câmara, Lisandro Monteiro,
acompanhado de Cidinha Cerize, Luiz Benedito de Paula, Daiane Andrade, Ronei
Vilaça, Antônio Picirilo, Laís Carvalho, Marcos Vitorino, José Luiz das Graças
e Paulo César de Souza. Monteiro afirmou que a Câmara notificará formalmente as
cidades devedoras ainda esta semana. “Paraíso faz a sua parte; há municípios
com doze internos que nunca repassaram nada. Se o hospital fechar, a
responsabilidade não recairá sobre quem pagou a conta”, declarou.
Veterano
na defesa da causa, o vereador Marcos Vitorino acrescentou que busca apoio de
deputados estaduais e federais. “O remédio precisa ser imediato. Se não houver
dinheiro novo até o fim do mês, não adianta discutir futuro; os pacientes não
terão onde ficar”.
O
prefeito Marcelo Morais reforçou que o município já ultrapassou o limite das
finanças locais, mas sinalizou disposição para medidas extremas. Ele
classificou como “equívoco ideológico” tratar o Gedor Silveira como manicômio:
“Hoje é um hospital de abordagem multidisciplinar, indispensável para crises
graves”.
Morais
explicou ainda que recursos estaduais só chegariam se a unidade fosse credenciada
como hospital geral, com cerca de 60 leitos psiquiátricos de retaguarda —
mudança cogitada apenas se a Prefeitura for obrigada a assumir a gestão. “Não
queremos intervenção, mas, se todas as outras portas se fecharem, não vamos
assistir a essa tragédia em silêncio”, disse.
No
fim da reunião, ficou acordado que o prefeito, o presidente da Câmara e o
vereador Vitorino viajarão a Belo Horizonte na próxima terça feira, 13, para
apresentar o caso ao secretário estadual de Saúde. O grupo também pretende
protocolar, junto a parlamentares mineiros, um pedido de emenda coletiva ao
orçamento do Estado. Dentro de casa, a Câmara deve aprovar moção de apelo aos
prefeitos inadimplentes e divulgar a lista dos que descumpriram o pacto de
2023.
Enquanto a articulação política tenta avançar, o relógio não para. Caso o hospital feche, mais de 150 municípios ficarão sem retaguarda para surtos psiquiátricos. Dados do Observatório de Saúde Mental de Minas indicam que, entre 2020 e 2024, o Estado perdeu 18% dos leitos públicos de psiquiatria enquanto clínicas privadas credenciadas aumentaram 22%. “Estamos angustiados, mas com sentimento de dever cumprido até aqui”, disse Gabriela. “A hora agora é de ação concreta; discursos, desta vez, não pagam a conta”.