O modo operandis de Briatore está de volta

Um dos personagens mais perversos que a F1 já conheceu está de volta e ao seu modo de agir
Flavio Briatore (E) ao lado do promissor argentino Franco Colapinto, de volta ao grid da F1 em Ímola Foto: Alpine

A F1 está em Ímola para o GP da Emília Romagna, 7ª etapa do campeonato, abrindo a segunda série da temporada de três finais de semanas consecutivos de corridas com os Grandes Prêmios de Mônaco e da Espanha na sequência. E traz como principal novidade a volta do argentino Franco Colapinto ao grid como substituto do novato Jack Doohan na Alpine. A troca prematura não causa surpresa em quem conhece um pouco da personalidade de Flavio Briatore, 75 anos, um dos sujeitos mais perversos que já passou pela F1 e voltou no ano passado como consultor da Alpine e a partir deste Grande Prêmio passa também a executar as funções de chefe de equipe, embora haja controvérsia entre o anúncio da Alpine e o não reconhecimento da condição de chefe por parte da Federação Internacional de Automobilismo, já que Briatore não tem registro para tal função na entidade.

Colapinto estreou na F1 no ano passado como substituto do norte-americano Logan Sargeant, na Williams, na segunda metade do campeonato e causou boa impressão nas primeiras corridas antes de se envolver em uma série de batidas fortes nas últimas provas que disputou. Ele estava como reserva da Williams para esta temporada quando Briatore conseguiu levá-lo para a Alpine no começo do ano, também como reserva. A partir daí não foi preciso ter bola de cristal para prever que a condição de titular de Doohan estaria com os dias contados. Depois de seis corridas em que não provou muito, mas também não foi dos piores, Doohan foi substituído e será reserva da equipe.

Os que acompanham a F1 há mais tempo vão lembrar do argumento mesquinho que Briatore usou para demitir o brasileiro Roberto Pupo Moreno, da Benetton, para colocar um tal Michael Schumacher em 1991: “incapacidade física e mental para guiar um F1”, sendo que Moreno havia sido 2º no GP do Japão e o autor da volta mais rápida da corrida anterior à demissão, na Bélgica. Não se pode contestar a visão do então chefe da Benetton em contratar aquele que viria a ser um dos maiores da história, heptacampeão Mundial, mas a justificativa para demitir o brasileiro foi das mais injustas na época.

Para quem não sabe, Flavio Briatore foi banido da F1 depois de descoberta a manobra maquiavélica que planejou ao pressionar Nelsinho Piquet para bater de propósito no muro de Cingapura e favorecer Fernando Alonso vencer a corrida com a Renault em 2008. A falcatrua refletiu diretamente na derrota de Felipe Massa por um ponto para Lewis Hamilton no final daquele campeonato, em Interlagos. Briatore foi impedido inclusive de gerenciar a carreira de pilotos. Mas ele conseguiu a anulação da pena em um tribunal francês dois anos depois e no ano passado foi trazido pelo CEO da Renault (dona da marca Alpine), Luca de Meo, para dar um norte à equipe francesa que está sem rumo na penúltima colocação no campeonato. Apear dos pesares, Briatore é um sujeito astuto, que conquistou 4 títulos na F1, dois com Schumacher nos tempos de Benetton e dois com Alonso na Renault. Em suas primeiras avaliações, já determinou que a Renault deixe de fornecer motores para a Alpine que passará a ser cliente da Mercedes a partir da próxima temporada.

A Alpine anunciou que Colapinto será avaliado pelas próximas cinco provas e depois tirará as conclusões para decidir quem seguirá como companheiro de Pierre Gasly pelo resto da temporada. Mas em se tratando de Briatore, e com Colapinto muito mais prestigiado que Doohan, além de trazer forte aporte financeiro de patrocinadores, dá até para cravar que tudo não passa de uma rasteira mais elegante da Alpine para não ficar tão feio como foi o rebaixamento que a Red Bull fez com Liam Lawson para colocar Yuki Tsunoda em seu lugar com apenas duas corridas disputadas nesta temporada.

O GP da Emília Romagna terá a largada neste domingo às 10h, mas antes tem a classificação neste sábado a partir das 11h para a definição do grid. Todos atrás da McLaren, inclusive tentando desvendar os segredos que tornaram os carros do líder Oscar Piastri, e do vice-líder Lando Norris tão velozes. Mas isso será tema para as próximas colunas.