Fraude milionária: coletiva em BH revela preso em Paraíso, confissões de gerentes e rombo que pode ultrapassar R$ 20 mi

Operação bloqueia 97 contas, prende 15 suspeitos e revela fraude que contratava empréstimos com identidades falsas
Foto: Reprodução

atualizada

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) detalhou ontem, 23 de maio, os avanços da Operação Descrédito, que desmontou uma organização criminosa especializada em fraudes bancárias. O principal articulador do bando, preso e recolhido no presídio de São Sebastião do Paraíso, é na verdade morador de Belo Horizonte. Ele já havia sido detido em outubro, também na capital, durante a primeira fase da investigação, e voltou a receber ordem de prisão preventiva após o surgimento de novas provas do seu papel no esquema.

OPERAÇÃO MOBILIZA 130 POLICIAIS E BLOQUEIA 97 CONTAS
Na quinta-feira, 22 de maio, a PCMG empregou 130 agentes para cumprir 16 mandados de prisão preventiva — quinze executados — e 20 de busca e apreensão em Belo Horizonte, Região Metropolitana, Montes Claros e Paraíso. Além de computadores, celulares e documentos falsos, a polícia apreendeu cartões bancários virgens prontos para receber dados de vítimas com alto poder de crédito. Noventa e sete contas criadas pelo grupo já estão bloqueadas por ordem judicial.

Entre os presos, estão seis gerentes de banco — quatro ainda na ativa e dois já dispensados — que, segundo as investigações, selecionavam CPFs e CNPJs “quentes”, enviavam a lista ao articulador e recebiam propina de até 10 % sobre cada empréstimo liberado. Um desses gerentes reconheceu ter aberto quarenta contas fraudulentas.

COMO FUNCIONAVA O “MAESTRO” DO GOLPE
Segundo o delegado regional Tiago Bordini, o articulador recolhido em Paraíso fazia a ponte entre três núcleos da quadrilha. Dos gerentes, recebia os dados de clientes com alto score; dos falsificadores, encomendava documentos de identidade e CNHs com esses números; de um terceiro grupo, arregimentava “sósias” para posar como titulares e sacar o dinheiro. A engrenagem permitiu empréstimos que chegaram a R$ 500 mil em uma única operação.

PREJUÍZO JÁ PASSA DE R$ 20 MILHÕES — E DEVE AUMENTAR
O delegado Rafael Gomes, que coordena o inquérito, estima que o grupo desviou mais de R$ 20 milhões, cifra que tende a crescer com a perícia dos dispositivos eletrônicos apreendidos e novas quebras de sigilo bancário. Até agora, a PCMG identificou vinte vítimas formais, mas acredita que o número real seja “bem maior”, pois o grupo atuava em várias regiões do estado.

PRÓXIMOS PASSOS DA INVESTIGAÇÃO
A equipe agora pericia cada aparelho recolhido, rastreia transferências para chegar a recebedores ocultos e convoca vítimas para que formalizem representação criminal e busquem ressarcimento. Paralelamente, tenta localizar o único suspeito que continua foragido. Os delegados não descartam novas fases da operação caso surjam provas de ramificações ainda não mapeadas.

IMPACTO PARA BANCOS E CONSUMIDORES
Embora os bancos assumam o prejuízo financeiro, as vítimas enfrentam restrições de crédito e processos abertos em seus nomes. A PCMG recomenda que qualquer movimentação estranha seja comunicada de imediato à agência e à delegacia. O material já reunido servirá para ações de reparação e para reforçar controles internos das instituições contra fraudes praticadas por funcionários.

PARAÍSO SE CONSOLIDA COMO POLO DE INVESTIGAÇÃO FINANCEIRA
Bordini lembrou que esta é a segunda grande ofensiva patrimonial coordenada pela delegacia em menos de um ano. “Um boletim de ocorrência aparentemente simples cresceu até se tornar ação de alcance estadual”, afirmou. O chefe do 18º Departamento, Marcos Pimenta, elogiou o trabalho local: “Quando cada denúncia é examinada a fundo, descobre-se a verdadeira dimensão de golpes que drenam milhões do sistema bancário”.

COMO TUDO COMEÇOU
Em setembro de 2024, um morador de São Sebastião do Paraíso procurou a 4ª Delegacia Regional após descobrir um empréstimo de R$ 100 mil contratado em seu nome. A investigação levou policiais à capital, onde, em outubro, o falsário que se passava pela vítima foi preso. Com ele, vinham celulares e documentos que ligaram gerentes bancários, falsificadores e laranjas a um esquema bem organizado de abertura de contas e contratação de empréstimos. A partir daí, a PCMG reuniu provas, obteve mandados e deflagrou, em 22 de maio, a Operação Descrédito — que agora avança para identificar todo o dinheiro desviado e responsabilizar cada participante do golpe.