Professor de São Sebastião do Paraíso se destaca em universidade dos Estados Unidos

Pesquisador Paraisense recebe título de PHD/Pós-Doc pela University American Christian, dos Estados Unidos, após três anos de estudos sobre a correlação entre o cristianismo e a política brasileira.
Professor agora PHD, Wanderson Cleiton do Carmo recebeu o título de Pós-Doutor pela University American Christian, sediada na Florida, Estados Unidos Foto: Reprodução

Após um extenso percurso acadêmico marcado pelo rigor, dedicação e aprofundamento crítico-filosófico, o professor agora PHD, Wanderson Cleiton do Carmo recebeu o título de Pós-Doutor pela University American Christian, sediada na Florida, Estados Unidos. A titulação é fruto de uma árdua pesquisa realizada ao longo dos últimos anos, culminando na apresentação da tese intitulada "A Igreja Cristã Contemporânea e a Política Partidária no Brasil: Uma Relação Informal de Poder Ideológico".

O trabalho desenvolvido por Carmo, analisa de forma sociológica entre laços entre fé e política no cenário nacional dos últimos anos, abordando como líderes e instituições religiosas cristãs, especialmente ligadas ao pentecostalismo, têm exercido influência nas urnas. A tese condensa um estudo sócio e político que levanta questões relevantes sobre o papel da religião no espaço público e os limites entre convicções pessoais, atuações religiosas e decisões partidárias.

O processo de desenvolvimento da pesquisa iniciou-se em 2022, com o objetivo de compreender os impactos da crescente presença de líderes religiosos na esfera política. O professor que já atuou em diversas instituições acadêmicas se declara como um apaixonado pela psicologia social, política e fenômenos da fé, sendo estas as causas que instigaram a abordar o tema com a seriedade que a complexidade exige do mesmo.

Durante o processo, o pesquisador revisitou teorias clássicas da sociologia, ciência política e teologia, ancorando sua argumentação em autores como Max Weber, Pierre Bourdieu, Ed René Kivitz, Ariosvaldo Ramos e Paul Ricoeur. A base empírica foi construída a partir da observação de discursos com apelos emocionais, divisões ideológicas, campanhas eleitorais, pronunciamentos públicos, além de entrevistas com os mais distintos líderes religiosos e políticos. "A relação entre religião e política no Brasil sempre existiu, mas nas últimas décadas, essa conexão assumiu novas formas com implicações ideológicas profundas e perigosas", aponta Carmo em sua análise.

No centro da tese está a ideia de que a atuação política de líderes religiosos não ocorre de forma institucionalizada, mas sim por meio de uma relação informal de poder ideológico, como sugere o subtítulo do trabalho. Essa informalidade, segundo o professor, permite que discursos de fé se misturem a posicionamentos partidários sem que haja uma clara responsabilização por parte das instituições envolvidas. "A Igreja Cristã contemporânea, especialmente nos setores neopentecostais, vem assumindo um papel de protagonista no direcionamento do voto e na formação e/ou manipulação da opinião política dos fiéis. Essa prática levanta questões éticas e democráticas, uma vez que a influência espiritual pode se sobrepor à autonomia política do indivíduo", explica.

O trabalho também se debruça sobre os impactos dessa influência para a construção de políticas públicas, analisando casos concretos nos quais o alinhamento entre igrejas e partidos políticos resultou em iniciativas legislativas alinhadas a agendas conservadoras e até mesmo discursos de ódio. A relevância do tema proposto pelo professor Wanderson é incontestável diante do atual cenário político brasileiro. Em um país onde a bancada evangélica cresce a cada eleição e onde a fé influencia diretamente decisões eleitorais e governamentais, discutir os limites e as consequências dessa interação é fundamental para a saúde democrática de um estado que deve ser laico. É o que aponta alguns cientistas políticos que tiveram acesso ao trabalho.

A tese provoca o leitor a refletir sobre a neutralidade das instituições religiosas no debate público e alerta para o risco de um sincretismo ideológico, no qual crenças espirituais se confundem com dogmas partidários. Para Carmo, é essencial que a sociedade civil esteja atenta a essas dinâmicas, promovendo um diálogo mais transparente entre religião e política. "O Estado laico não é um estado antirreligioso, mas um espaço onde diferentes crenças possam coexistir sem hegemonias", afirma.

A titulação de PHD/Pós-Doc em Ciências da Religião foi concedida pela University American Christian, instituição reconhecida por seu enfoque em estudos religiosos e sociais. Para Carmo, essa titulação representa frutos de uma longa caminhada acadêmica, se tornando um marco pessoal para um pesquisador negro de origem humilde, diz.

O corpo docente avaliador da universidade destacou a profundidade teórica do trabalho, bem como sua relevância prática para a compreensão dos desafios contemporâneos enfrentados por democracias com forte presença religiosa. A banca avaliadora solicitou ao discente, o direito de publicar a tese em inglês, visando ampliar seu alcance e fomentar o debate em outros contextos culturais. "Ser Pós-Doutor não é um ponto final, mas uma nova etapa no compromisso com a educação, ética e a justiça social", declarou Carmo.

Com a titulação, o professor agora pretende continuar com sua atuação acadêmica, participando de palestras e seminários relacionados as ciências humanas. Ele também já tem um convite para publicar um livro derivado da tese, com capítulos mais aprofundados e casos de estudo que não foram incluídos no texto original. "Meu objetivo é continuar contribuindo para uma sociedade mais consciente, onde o cidadão saiba diferenciar fé pessoal de decisões políticas". "É possível ser religioso e politicamente engajado sem que uma coisa anule a outra, desde que haja consciência crítica e respeito a diversidade de opiniões", explica.

Além de seu trabalho acadêmico, Carmo também pretende atuar como consultor em projetos voltados à promoção da laicidade do Estado e ao fortalecimento das instituições democráticas. Segundo ele, a educação política e de saúde mental com base no respeito à diversidade é o caminho para uma convivência mais equilibrada entre diferentes visões de mundo, sendo necessário uma urgente reformulação do ser humano mediante a cultura de paz. O lançamento do livro tem previsão ainda para este ano.