Paciente relata atraso em medicamento; Prefeitura e Estado divergem sobre procedimentos de dispensação

Transplantado afirma ter ficado dias sem o medicamento de uso contínuo e que depende de doações enquanto remédio para transplante de rim não chega à Farmácia Municipal
Foto: Ilustrativa

Um paciente transplantado renal de São Sebastião do Paraíso relatou ter enfrentado atraso na dispensação do medicamento de uso contínuo utilizado na manutenção do transplante. Segundo ele, o intervalo habitual de 30 dias entre uma entrega e outra passou, em algumas ocasiões, a se estender por quatro a cinco dias, deixando-o sem doses desde o início de 2025.

O paciente afirma que, ao perceber a possibilidade de ficar sem o medicamento, telefonou para a Superintendência Regional de Saúde de Passos (SRS Passos). De acordo com seu relato, a Regional teria informado que a culpa pelo atraso seria da Farmácia Municipal de Paraíso, sugerindo que o pedido não teria sido realizado na data correta.

Ele então procurou a Farmácia Municipal, onde conversou com a farmacêutica responsável. Segundo o paciente, ela explicou todo o trâmite de solicitação e retirada, mostrando que os pedidos são feitos exatamente nas datas determinadas pela Regional, porque o sistema estadual não permite enviar antes ou depois do dia previsto. “De um lado, me disseram que estava tudo certo e que a culpa seria daqui. Só que a Farmácia Municipal me mostrou que o pedido só pode ser feito no dia exato que Passos determina. E nesse intervalo eu fiquei sem o medicamento”, disse.

O paciente afirma ainda que a situação irá se repetir nos próximos dias. Segundo ele, seu estoque atual termina por volta do dia 14, enquanto a previsão de chegada informada é para o dia 18, criando novamente um intervalo de aproximadamente quatro dias descoberto. “Quando acontece isso, eu preciso pedir doação de quem tem sobra, para não ficar sem”, afirmou.

Posicionamento do Estado

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), por meio da Superintendência Regional de Saúde de Passos, informou que não houve desabastecimento de medicamentos para pacientes transplantados ao longo de 2025. A Regional afirma que o paciente citado “recebe o medicamento regularmente”, conforme registros no Sistema Integrado de Gerenciamento da Assistência Farmacêutica (SI GAF) e em planilhas de dispensação.

Posicionamento da Prefeitura

A Prefeitura de São Sebastião do Paraíso, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informou que a Farmácia Municipal segue o cronograma de retirada determinado pela Regional de Saúde de Passos, conforme registro no sistema estadual. A retirada dos medicamentos é realizada semanalmente na Regional e, ao chegar ao município, são registradas as datas de solicitação, de recebimento e de entrega ao paciente, tanto em planilhas internas quanto no sistema oficial da assistência farmacêutica.

A Secretaria enviou ao Jornal do Sudoeste, junto com a nota de esclarecimento, as planilhas de controle referentes ao ano de 2025, contendo o histórico completo do paciente mencionado, incluindo: a data em que o pedido foi enviado à Regional; a data em que o medicamento foi disponibilizado para retirada, e a data em que o paciente recebeu o medicamento na Farmácia Municipal.

O Município explicou ainda que, em algumas semanas, o prazo de retorno pode ser alterado em razão de procedimentos internos da Central de Abastecimento da Regional, como inventários, reorganização de equipe, feriados prolongados ou períodos de maior demanda, o que pode refletir no tempo de entrega local.

Ao relatar a rotina de ajustes e esperas, o paciente resumiu a preocupação que o acompanha a cada mês: “Não é dipirona. Não é paracetamol. É uma medicação que, se falhar, eu posso perder o rim. E a vida”, concluiu.