Na sessão da Câmara Municipal de São Sebastião do Paraíso, segunda-feira, 8, o presidente da Casa, Lisandro Monteiro, propôs a criação de uma Comissão de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, além da implantação do Banco Vermelho no município como símbolo permanente de conscientização.

Criado na Itália, em 2016, o Banco Vermelho é um memorial urbano adotado em vários países, inclusive no Brasil, como símbolo de enfrentamento à violência contra a mulher. Pintado de vermelho — em referência ao sangue das vítimas de feminicídio —, o banco tem como objetivo manter o tema permanentemente visível nos espaços públicos, conscientizar a população sobre os diferentes tipos de violência e incentivar a denúncia por meio da divulgação de canais de apoio às vítimas.

Segundo Lisandro, a iniciativa surge diante da sequência de notícias relacionadas a casos de violência de gênero registrados em todo o país. “Vou fazer hoje uma indicação com uma palavra: basta, basta e basta. A ideia é implementar o Banco Vermelho em São Sebastião do Paraíso como símbolo do combate à violência contra a mulher. É um grito de basta à violência no nosso País. Chega. Todos os dias vemos homicídios, espancamentos e mulheres sendo agredidas, e nada muda”.

O presidente ressaltou ainda que, apesar da existência da Lei Maria da Penha desde 2006, ainda há falhas em sua efetiva aplicação. Para ele, “a lei existe, mas muitas vezes não é usada como deveria. Isso precisa mudar. Esses homens que cometem esses crimes são covardes, e nós que ocupamos cargos públicos precisamos assumir essa causa e defender as mulheres”.

Lisandro informou que a proposta prevê a atuação direta da comissão no acompanhamento de denúncias e no fortalecimento de políticas públicas voltadas à proteção das mulheres no município, com a intenção de que o grupo já esteja em funcionamento no início de 2026. Conforme frisou, “vamos criar juridicamente uma Comissão de Enfrentamento à Violência contra a Mulher aqui na Câmara. Sempre que houver denúncias em nosso município, essa comissão deve atuar na proteção das mulheres de São Sebastião do Paraíso. Chegou a hora do basta”.

O vereador Roney Vilaça, investigador da Polícia Civil, afirmou que a maior parte das ocorrências registradas durante os plantões envolve violência doméstica. Segundo ele, “hoje nós vivemos uma epidemia de violência contra as mulheres. Entre 60% e 70% das ocorrências que atendemos na delegacia são relacionadas à violência contra a mulher. Os outros 30% envolvem vários crimes, mas a grande maioria é isso”.

O parlamentar relatou ainda cenas de extrema gravidade já presenciadas no próprio município. “Aqui em Paraíso eu já vi cenas de feminicídio brutais. Uma sobrevivente da cidade levou cerca de 20 facadas do ex-companheiro. Eu estive nessa cena. O sangue formava um rastro na calçada e dava a impressão de que ela não sobreviveria. Por milagre, ela está viva hoje.”

Para Roney, o enfrentamento precisa ocorrer de maneira ampla e preventiva. “A violência não começa no homicídio. Começa com agressões verbais, psicológicas e patrimoniais dentro de casa. Muitas vezes a sociedade ignora isso, mas é justamente aí que precisamos agir.”

O vereador Marcos Antônio Vitorino, o Marcão da Ambulância, também se manifestou em plenário após exibir um vídeo sobre violência doméstica. Ele contou que conheceu uma mulher que sofria ameaças constantes do companheiro e a acompanhou até a delegacia para registrar ocorrência por agressões e abusos verbais e físicos, mas que a vítima acabou retirando a denúncia por pena do agressor. Para o vereador, “isso é lamentável, porque muitas mulheres vivem esse sofrimento em silêncio”.

Marcão salientou a importância da mobilização coletiva, afirmando que “isso acontece a todo instante. Algumas situações aparecem nas mídias, mas a verdade é que, todos os dias, mulheres são maltratadas, violentadas e torturadas. Se pudermos agir para conter isso em São Sebastião do Paraíso, eu estou à disposição para ajudar.”

Encaminhamentos

A indicação referente à instalação do Banco Vermelho foi aprovada pelo plenário da Câmara Municipal. Já a proposta de criação da Comissão de Enfrentamento à Violência contra a Mulher será encaminhada para análise do setor jurídico da Casa e, após formalização, a expectativa é que esteja em funcionamento a partir do início de 2026.

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Foto: Divulgação