“Depois dos preços abaixo do custo de produção, os cafeicultores do Brasil vêm comercializando café com lucro, boa notícia, ainda que não para todos, pois na agricultura sempre há os que sofrem com problemas climáticos ou enfrentam outros contratempos”. Essa é uma das análises do especialista em mercado de café, Gilson A. de Souza, da empresa “Safras e Negócios”.
O especialista comenta sobre o cenário no Espírito Santo, maior produtor de robusta no Brasil: “Fortes secas quebraram as últimas duas safras na ordem acima do esperado nos últimos dois anos, o que parece que vai se repetir na próxima safra. Esse tem sido o caso dos produtores de café do Espírito Santo”, aponta.
Assim pode faltar café robusta no mundo. Gilson explica o porquê. “Somada à perda cabixaba, o Vietnam, que é o maior produtor mundial de café robusta, terá uma produção no ano agrícola 2016/17 menor que a do ano anterior. Resultado: haverá déficit de curto prazo de café robusta no mundo”.
O preço
Esses são alguns fatores que influenciam diretamente no preço. Gilson diz que “o choque mundial da quebra vertiginosa da produção capixaba de café conillon, combinado com o ingresso dos especuladores internacionais como fortes compradores do mercado futuro, são as bases das razões do atual nível de preço do café no mercado mundial”, relaciona.
Para o produtor brasileiro de café a situação de preço não poderia ser melhor, pois a firmeza dos valores internacionais veio multiplicada pela desvalorização expressiva do real.
“Como resultado, o preço de uma saca de café arábica bateu o nível de R$ 600, significando, como exemplo, renda bruta por hectare da ordem de R$ 10 mil a R$ 25 mil, dependendo da produtividade de cada produtor brasileiro”, informa o especialista.
A falta do conillon está influenciando diretamente nessa composição de preço. “Não podemos perder de vista que a principal razão para o presente patamar de preços no mercado mundial é a forte posição comprada dos fundos, e dos especuladores, as indústrias, o segmento mais próximo do consumidor final, não acreditou que a quebra da safra do Espírito Santo fosse razão suficiente para justificar uma elevação nas cotações internacionais e ficou simplesmente olhando o mercado, não precificou em maior volume”, relaciona.
No dia oito de novembro passado, os fundos e os investidores de carteiras de índices tinham uma posição líquida equivalente a 28,5 milhões de sacas em contratos de café na Bolsa de Nova Iorque, praticamente o volume total da exportação brasileira de café arábica de um ano.
Gilson explica como essa conta funciona: “Como o mundo importador torra algo da ordem de 10 milhões de sacas por mês temos o desenho de uma situação extremamente explosiva e volátil, o que faria um torrador precificar a sua matéria prima para um horizonte maior. Esta cadeia de eventos só entra em equilíbrio e é sustentável quando o torrador toma a decisão de precificar o valor final da matéria prima que repassa como custo, junto com os operacionais e sua margem de lucro, ao consumidor. Quando o torrador erra a tendência de preços da matéria prima ele reajusta os preços ao consumidor e consolida a estrutura de preços do produtor até o consumidor”.
Não é o que vem ocorrendo na maioria dos países, o torrador esta comprimindo margens e esperando. Na prática, o comportamento dos torradores, até agora, têm sido de céticos com o desempenho dos preços das bolsas internacionais.
Nos próximo mês, a agenda mundial do setor cafeeiro estará repleta de questões fundamentais, a saber:
a) Estimativas da safra brasileira de 2017/18.
b) Velocidade de comercialização da safra Brasil, Colômbia, países da América Central (particularmente Honduras), do México, Vietnam e Indonésia.
c) Volatilidade das moedas.
d) Comportamento dos fundos: No final do ano, período em que realizam lucro para apresentarem bons resultados aos seus investidores.
“Os fundamentos do mercado mundial do café, oferta e demanda, continuam a indicar que não há excesso de café à vista, pelo menos até a safra de 2017, lembrando que a cafeicultura mundial, diante de condições climáticas apropriadas, é uma cafeicultura em expansão ou revigorada”, finaliza Gilson A. Souza, da “Safras e Negócios”.