Não é exagero dizer que nunca mais na história de São Sebastião do Paraíso houve um time de basquete, prata da casa, tão bom quanto aquele dos rapazes que fundaram a Sociedade Recreativa de Desportos. Cláudio Nóbrega, Geraldo Rodrigues da Silva, Francisco Rezende e Orlando Muschioni.
Quem conta essa história são dois deles, Geraldo Rodrigues da Silva (Geraldo da Loja “Elegante”) e Francisco Rezende, o “Chico Protético”, ou melhor, “o rei do basquete”.
Tudo começou porque os rapazes sabiam que eram bons no basquete e não tinham onde treinar, muito menos promover o esporte na cidade. Geraldo conta que eles se uniram no firme propósito de que Paraíso precisava ter uma quadra polies-portiva. Isso eram os idos de 1949, 1950.
Geraldo lembra que “a turma queria treinar e o Monsenhor Mancini emprestava a quadra Escola de Comércio. De vez em quando a gente jogava contra a escola e apanhávamos sempre, pois, como eles tinham a quadra, jogavam melhor. O dia que nós ganhamos, o Monsenhor colocou a gente para correr e ficamos sem lugar para treinar e jogar”, conta.
Foi aí que o time teve a ideia de se unir e fazer uma “vaquinha” para terem uma quadra e assim também poderem ajudar a fomentar o esporte paraisense. Todos já trabalhavam e começaram a ajuntar dinheiro, logo depois fizeram uma rifa de um carro Bellair e assim conseguiram comprar o terreno no Centro da cidade e construíram toda a estrutura. O técnico havia chegado de Ribeirão Preto, Mário Tonzar, que já havia treinado na Recreativa de lá.
A quadra foi construída no capricho, com arquibancada e um pequeno vestiário. Nascia oficialmente a Sociedade Recreativa, que foi constituída com cerca de umas 15 pessoas, todas que se envolviam de alguma forma jogando ou no incentivo ao esporte.
O sucesso começou. Os meninos jogaram em toda a região – Franca, Altinópolis, Guaxupé, Monte Santo de Minas e outras. A quadra da Recreativa sediou também um time de futsal que marcou época, comandado por Claudio Nóbreg, vôlei masculino e feminino, que também era destaque.
Geraldo diz que nunca houve um patrocínio empresarial ou subsídio da Prefeitura, mas mesmo assim eles eram organizados, tinham uniformes, viajavam para jogar e mantinham a quadra em dia. Tudo pelo amor ao basquete.
Com orgulho Francisco conta que “durante oito anos foi o rei do basquete de Paraíso”. Os times de outras cidades já conheciam sua fama e tinham “medo” de jogar com ele.
Em 1960, o time estava já maduro e não conseguiu formar outra turma substituta. “Cheguei a colocar quatro no meu lugar, mas saíram, foram embora, se mudaram”, diz Francisco. “Nossa preocupação era porque naquele tempo Paraíso não tinha um ginásio. Hoje temos a Arena ‘João Mambrini’, mas não temos o time”, compara.
Trocaram
Naquela época, os bailes de carnaval eram sucesso absoluto no Clube Paraisense. Francisco lembra que o pessoal pulava no salão de festa no andar superior, e a estrutura tremia. O presidente do clube na época, Doutor Odair Pimenta, disse que tinha receio disso e precisava de um lugar no térreo e para isso pensou em fazer uma quadra.
No dia 25 de junho de 1971, houve uma assembleia extraordinária com duas pautas: dissolver a Sociedade Recreativa de Desportos e dar destino ao patrimônio da Recreativa, que era a quadra.
Cláudio Nóbrega, que era um dos mantenedores da Recreativa, apoiou em assembleia, a doação da quadra da Recreativa ao Clube Paraisense, tendo a contrapartida da construção de uma quadra coberta. Todos o apoiaram e a doação foi aprovada por unanimidade.
Diz a ata: “O senhor doutor Odair Pimenta, presidente do Clube, disse que naquele momento a diretoria havia, por unanimidade, autorizado o início das obras do Ginásio do Clube Paraisense e que havia sido aprovado que todos os sócios fundadores da Recreativa fossem agraciados com o título de sócio remido do Clube Paraisense”.
Assim foi feita a doação.
Antes disso, “Cláudio Nóbrega e eu fomos à Prefeitura, na intenção de vender a nossa quadra. Mas isso não aconteceu. Foi desapropriada e deveria ir a leilão. Houve negociações e o município conseguiu R$ 400 mil, que foi para o Clube. Mesmo assim, tempos depois, a quadra foi a leilão e a família de Orlando Muschioni a arrematou”, lembra Francisco.
Hoje, na rua Pinto Ribeiro, ao lado do número 725, após alguns anos de abandono, funciona um estacionamento de carros. Paraíso possui várias quadras cobertas, inclusive nos bairros.
Geraldo Rezende vê a aproximação de seu aniversário de 90 anos. E Francisco, com seus 85 anos, trabalha todos os dias como protético.
E o time de basquete de Paraíso ficou na saudade.