CRÔNICA HISTÓRICA DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO:

Matança no Fórum de Passos - Parte 1

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 23-06-2017 09:06 | 6822
Foto: Reprodução

O tema desta crônica, composta de quatro partes, pertence ao domínio mais amplo da história regional e tem como cenário de fundo o coronelismo e as violências ocorridas na época da Primeira República (1889 - 1930). Mais precisamente, focaliza uma chacina ocorrida no dia 26 de setembro de 1909, nas dependências do Fórum de Passos, no Sudoeste Mineiro. Nesse episódio, conhecido como Matança ou "Tocaia no Fórum" foram assassinados os coroneis Neca Medeiros e Juca Miranda, dois líderes políticos locais. O primeiro deles, cujo nome era Manoel Lemos de Medeiros, exercia o cargo de presidente da câmara e agente executivo (prefeito). Alguns anos antes, ele havia participado do diretório republicano, mas divergências políticas o levaram a participar da fundação de outra legenda, o Partido Lavourista, que tinha como órgão de difusão jornal "Commercio e Lavoura", imprenso em Passos. Um terceiro cidadão, que estava passando pelo local, foi também assassinado, vítima de um tiroteio ocorrido na cena do crime, durante um interrogatório convocado pelo delegado Isidoro Correia de Lima. 
Um inquérito estava instaurado para investigar outras mortes originadas a partir de um crime passional, envolvendo também rivalidades políticas. O caso ganhou ampla projeção nacional devido aos protestos apresentados no Senado Federal, pelo renomado Rui Barbosa, denunciando o possível envolvimento de autoridades mineiras e a urgência de investigar as razões dos crimes. Além dos dois coroneis mortos, uma dezena de outros estavam na lista dos convocados para depor no referido inquérito aberto pelo delegado. 
Uma cilada foi premeditada para que, ao entrarem na sala existente nos fundos do prédio, os depoentes fossem executados com golpes de machadinha na cabeça, desferidos por um soldado que permanecia escondido em uma outra saleta. Assim que o depoente se sentava à mesa, diante do delegado, o matador se aproximava pelas costas e aplicava os golpes. Assim aconteceu com a primeira vítima, o coronel Neca Medeiros. Seu corpo fora jogado no porão do prédio, através de uma passagem que havia no assoalho. Pelo esquema montado, no mesmo local, os corpos das demais vítimas seriam jogados após as sucessivas execuções.
Os depoentes foram orientados a comparecerem, exatamente, na hora marcada e orientados a aguardarem na sala de espera, devendo, após o depoimento, sair pelas portas do fundo, não devendo estabelecer contato com outros depoentes. Mas, logo quando chegou a vez do segundo depoente, Juca Miranda, a estratégia premeditada não deu certo. 
De grande resistência física e homem desconfiado, Juca Miranda, antes de receber o primeiro golpe, percebeu a aproximação do agressor que não conseguiu lhe passar uma corda no pescoço, para dar os golpes, como havia feito com a primeira vítima. Houve então luta corporal e mesmo ferido, o coronel conseguiu fugir da sala, aos gritos e correndo, avisando aos seus amigos que se tratava de uma emboscada. Houve então o tiroteio, quando Juca Medeiros foi morto, bem como a terceira vítima que passava pelo local. O número de vítimas seria bem maior, caso não tivesse ocorrido o imprevisto no segundo depoimento.