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Tarcísio completou no último dia 2 de agosto 25 anos de efetivo na PMMG

“Tudo o que é feito com muito amor e dedicação é reconhecido”
Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 12-08-2018 21:35 | 1403
Tarcísio completou no último dia 2 de agosto 25 anos de efetivo na PMMG
Tarcísio completou no último dia 2 de agosto 25 anos de efetivo na PMMG Foto: Arquivo Pessoal

O sargento da Polícia Militar Rodoviária Estadual em São Sebastião do Paraíso, Tarcísio Geraldo Corrêa de Souza, é um profissional dedicado, e que divide o tempo entre o trabalho puxado e a família. De origem humilde, foi o filho que o taxista Geraldo Corrêa de Souza (já falecido) e a servidora estadual aposentada, Maria Aparecida de Souza tanto queriam. Porém, a vida surpreendeu o casal, que já tinha duas meninas, a Tânia e a Tárcia, concedendo-os gêmeos: o Tarcísio e o Tárcio. Hoje, aos 46 anos, casado com Maria Tereza há 19, é pai do jovem Bruno Soares Corrêa, de 16 anos, e da pequena Milena Soares Corrêa, de 5. Podemos defini-lo como tranquilo, Tarcísio, que já integrou a equipe do Jornal do Sudoeste no início da sua trajetória, completou no último dia 2 de agosto 25 anos de efetivos serviços prestados a Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, e espera que quando se aposentar possa curtir mais a sua família. 

Jornal do Sudoeste: Como foi sua infância em Paraíso?
T.G.C.S.: Fomos criados na Vila Ypê, a vida toda, onde morei com a minha mãe até me casar, ela ainda vive ali, na mesma casa. A infância naquela época nós tínhamos mais liberdade, de jogar bola na rua, havia aqueles campinhos que o pessoal fazia de areia, jogava bolinha de gude, carrinho de rolimã, foi uma infância muito tranquila, bem diferente de hoje em dia, que é mais complicado mesmo porque aumentou muito o trânsito, já não tem como os nossos filhos jogar bola na rua como nós jogamos. Hoje também tem a questão da tecnologia, que não havia naquela época. Recordo-me que a primeira televisão que tivemos, eu tinha uns quatro anos de idade, era muito pequeno, e a TV era em branco e preto.

Jornal do Sudoeste: Irmão gêmeo idêntico. Como foi isso?
T.G.C.S.: Naquela época não tinha ultrassom para saber se eram gêmeos ou não, minha mãe tinha certa desconfiança por conta do formado da barriga, dependo do jeito que ela ficava ela sentia a barriga mexer dos dois lados e achava estranho, mas só teve certeza no parto. Quando aconteceu o nascimento foi uma surpresa muito grande, porque meus pais tinham duas filhas e queria um menino, e vieram dois de uma vez. Na época, essa criação foi complicada porque éramos de uma família muito humilde e criar um filho já é muito difícil, dois foi mais complicado. Éramos idênticos, minha mãe só sabia nos diferenciar porque meu irmão tinha uma manchinha no pé e eu era um pouquinho mais alto. Hoje somos um pouco mais diferentes, porque meu irmão é um pouco mais magro e rosto um pouco mais fino que o meu. Na escola até que não éramos muito confundidos, nossos amigos realmente sabiam quem era quem, somente de bater o olho.

Jornal do Sudoeste: Como foi sua vida até chegar à PM?
T.G.C.S.: Estudei na Escola São José até a quarta série, e o fundamental que era o ensino médio, fiz na Escola Estadual Clovis Salgado. Logo depois que me formei, prestei concurso e entrei para a Polícia Militar, em 2 de agosto de 1993. Fiz 25 anos de efetivo serviço e daqui a cinco anos me aposento. Quero aproveitar esse momento para descansar e ficar com minha família. A rotina do policial torna o convívio familiar muito restrito, porque às vezes não conseguimos ir a uma festa de aniversário, por exemplo, por estar a disposição do serviço. Temos que ter esse compromisso com o trabalho.

Jornal do Sudoeste: O que te motivou a ingressar na Polícia Militar?
T.G.C.S.: Na época eu tinha 20 anos, concluído o ensino médio, e comecei a estudar para prestar concursos, não tinha um plano traçado sobre fazer faculdade ou não, não havia nada em mente. Passei no concurso da PM, fui a Passos fazer todos os exames e comecei a fazer a escola de formação. A formação levou nove meses e logo depois de prestar a prova para cabo, passei e fiquei mais seis meses. Após, segui com a minha carreira, realizei alguns cursos internos e em 2011 fui convocado para ir a Poços de Caldas, onde fiz o curso para sargento da PMMG. Foram cinco meses de estudo, longe da família, mas era liberado de 15 em 15 dias para vir a Paraíso visitá-los, mas não era sempre que era possível. Foi muito puxado, mas era para nos deixar preparados.

Jornal do Sudoeste: O que você fez antes de ingressar na carreira militar?
T.G.C.S.:  Antes trabalhei com o Nelsinho, diretor do Jornal do Sudoeste, como office boy, eu e meu irmão. Fazíamos cobrança, assinaturas, esse tipo de coisa. Lembro-me quando o Jornal ainda funcionava em outro local, diferente de onde é hoje, isso há muito tempo, porque o Jornal foi fundado em 1985, a época que trabalhei foi nos idos 88. Tenho lembranças de quando o Nelson montava o jornal, o processo era todo manual, montava a página, colocava em um envelope e levava para a gráfica, em Passos, onde o jornal era impresso. Muitas vezes pequei o ônibus para levar o jornal para impressão em Passos para o Nelsinho. Depois, ele passou a ser impresso em Ribeirão. Tive essa oportunidade de trabalho no Sudoeste e acompanhar esse crescimento do Jornal e essa luta do Nelson no dia a dia, diante de todas essas dificuldades. Depois disto trabalhei na Honda e também na transportadora Joia como Office boy, até passar no concurso e começar a servir a PM.

Jornal do Sudoeste: Como foi seu início na PM?
T.G.C.S.: Quando eu ingressei na Polícia eu não sabia nem o que era droga direito, lança perfume, não conhecia nada, passei a conhecer após treinamentos na polícia e aprendi a diferenciar essas drogas, como maconha, cocaína, o crack, e foi esta época que o crack começou a surgir. Abordamos muitos ônibus de Ribeirão Preto para cá, e apreendemos muita droga naquela época, principalmente ônibus que faziam linhas intermediárias.

Jornal do Sudoeste: Você se recorda de alguma situação de risco que tenha vivido nesses 25 anos?
T.G.C.S.: Em 2009 participei de uma perseguição que terminou em troca de tiros, na região de Cássia. A perseguição começou aqui no posto da Polícia Rodoviária Estadual. O condutor não respeitou o pedido de parada da polícia e empreendeu em fuga e nós fomos atrás, conseguimos interceptar os criminosos com auxilio da Polícia de Capetinga, onde teve troca de tiros e esse condutor, que estava transportando droga na companhia de um segundo indivíduo, foi alvejado, vindo a óbito. O segundo envolvido também estava armado, efetuou diversos disparos na fuga e conseguiu fugir. Era tarde da noite. A perseguição foi difícil, eles passaram pela cancela de um pedágio, quebrando-o, era uma sexta-feira à noite, muito trânsito e eles ficavam jogando o veículo na contramão, até que  em Cássia teve o cerco-bloqueio e ele vieram a cair numa ribanceira e desceram do veículo atirando, até que um deles levou um tiro e morreu. Este tinha quatro mandados de prisão e estava com toda a documentação falsificada.

Jornal do Sudoeste: Como agente de trânsito, o condutor continua ainda “muito difícil”?
T.G.C.S.: Melhorou muito. O que percebemos é que falta muita informação e também interesse em procurar pelas informações. Às vezes abordamos um veículo, a documentação está vencida e quando falamos para a pessoa, ela diz que não sabia. Há também a questão do cinto de segurança, uso de bebida alcoólica. Dos acidentes que atendemos, sua maioria é ultrapassagem em local proibido, desrespeito a sinalização e alcoolismo, que são os campeões na causa de acidentes. Porém, melhorou bastante ao longo dos anos devido a fiscalização, mas ainda acontece, principalmente no perímetro urbano. Casos assim em rodovia diminuíram, apesar de ainda ter autuações, principalmente por bebida ao volante e falta do cinto. Há certa resistência em relação ao cinto no perímetro urbano, mas é importantíssimo que, tanto o passageiro quanto o condutor usem o cinto, muita gente já perdeu a vida pela falta dele.

Jornal do Sudoeste: Das ocorrências que atendeu, há alguma que marcou?
T.G.C.S.: São muitos os casos, mas um deles, que atendi em Monte Belo, um motociclista embriagado que transitava pela contramão bateu de frente com um ônibus. O ônibus de descontrolou vindo a cair numa ribanceira, resultando em três vítimas fatais, inclusive o motorista, que estava sem cinto e caiu para fora do ônibus, vindo a bater a cabeça em algo pontudo que perfurou a cabeça dele. Se ele estivesse de cinto, teria ficado pendurado e talvez não tivesse morrido. 

Jornal do Sudoeste: Como é o Tarcísio pai em casa?
T.G.C.S.: A nossa tendência é ser muito organizado, porque faz parte do dia a dia do militar; precisamos ter uma apresentação boa, cabelo cortado, barba feita, fardamento impecável, então nossa tendência é ser mais rigoroso e o não prevalece na maioria das vezes. Mas eu sou muito preocupado com meus filhos porque a gente vive e convive muito com os problemas que vão de uso de tráfico a roubo. Hoje o problema da droga é que ela está chegando mais facilmente às pessoas, antigamente quem queria usar, ia ter que ir atrás, hoje infelizmente não é assim. Por isto, sempre acompanhei muito o crescimento dos meus filhos, principalmente o mais velho que vai fazer 16 anos. Até hoje não enfrentamos problemas, mas eles tiveram uma boa base educacional.

Jornal do Sudoeste: Você também chegou a trabalhar com autoescola, como foi isso?
T.G.C.S.: Sim. À época o policial militar ainda podia exercer alguma atividade extra, depois houve mudança da lei e isso foi proibido. Havia recebido o convite do Mauro de Pádua da Autoescola Paraíso e comecei nesta atividade. Foram cerca de 11 anos dando aula, meu irmão, inclusive, que trabalha da Copasa, tem uma autoescola, a Autoescola São Sebastião, e nós fomos sócios por um longo período, mas tive que parar quando comecei o curso de formação de Sargento e também houve proibição em relação a ter algum tipo de “bico”. Dei aula de rua e curso teórico. Essa luta permitiu que eu pudesse fazer a minha casa. Foi bem sacrificante, mas sempre mantive a luta não deixando nada a desejar em nenhuma das minhas atividades. Fiz muitas amizades por meio da autoescola, foi uma época muito boa.

Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz desses 46 anos?
T.G.C.S.: Muito positivo, foi uma vida de inteira dedicação e tudo o que é feito com muito amor e dedicação é reconhecido. E tenho tido esse reconhecimento dentro da corporação, já ganhei certificados e medalhas por destaque operacional, então tenho somente a elogiar bastante a organização da Polícia Militar, aos comandantes e também aos meus companheiros de serviço, que são muito dedicados, não apenas da PRv, mas também aos militares da cidade. Não me arrependo em momento algum de ter entrado para a Polícia, pelo contrário, acho que sem saber ao certo o que eu queria, cheguei a PM e gostei e gosto muito do que faço. Não há o que reclamar, pelo contrário, eu e minha esposa conseguimos construir nossas vidas. Para futuro, quero poder ficar mais junto da minha família, da minha mãe, da minha esposa, dos meus filhos, e amigos, principalmente da minha família.