Não há receita para ser um bom pai, mas são importantes, o amor, a seriedade, o assumir, a vontade de cumprir sua missão com dignidade.
É bem verdade que o casamento hoje se tornou um mero jogo de possibilidades, do qual se sai, quando a partida fica sem interesse. Os que adotam tal maneira de ser não deveriam ter filhos. Alguns estão no segundo, no terceiro, no quarto casamento, deixaram pelo caminho uma prole desarvorada, filhos que são oportunidade eficiente para se obter, em princípio, uma pensão alimentícia. E o hilário é que a justiça brasileira não funciona, é lerda e ineficiente, reina a impunidade. Ela só age quando um pai não paga a pensão dos filhos. É cadeia na certa. Não vamos questionar a validade do fato, mas por que só nesta situação há tanta eficiência?
Ser pai virou rótulo e há sempre episódios duvidosos dos envolvidos, quando surgem bizarros processos para provar a paternidade de rebentos bastardos.
Nada de julgamentos superficiais, mas onde está a seriedade, a importância de ser pai? Há uma lição clássica que não deve ser esquecida. Ela está alicerçada no valor do exemplo. Ser verdadeiramente pai requer uma série de qualidades, mas nenhuma dará frutos, se não houver o exemplo do pai para que o filho nele se retrate. A asserção é de Padre Vieira: "Palavras sem exemplos são tiros sem bala; atroam mas não ferem".
Imagine-se alguém que seja refém de muitos vícios, pregando a virtude. Um pai fraco, confuso, cheio de defeitos, sem capacidade de luta, parco de boas intenções, acomodado, falso, deveria costurar a boca. Seu exemplo vivo já é a mais trágica lição que não deve ser aprendida, é espelho a ser coberto, para que nele não se mire nenhum filho.
É bem verdade que o amor é generoso e pode-se até amar a um pai, que é puro falimento, como ser humano. Mas é preciso estar alerta e saber: ele é o antônimo do que se deve ser. É exemplo que não se pode seguir.
Todavia, quando um pai é realmente pai, forte como um tronco, amigo como um porto, segurança diante das tempestades, guia quando alçapões se abrem à nossa frente, compreensão quando nossos pés resvalam na lama dos desenganos, isto é um pai. Se ele então nos dá lições de amor, de ternura e fidelidade, ser filho se torna privilégio, uma bênção. E então o pai é uma receita da Criação que deu certo, um produto de primeira linha do Fiat divino.
Vieitez Lisboa é escritora.
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