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Maria Elisa: A educação e o esporte como agentes transformadores de nossas crianças

“A educação tem o poder de transformar tudo”
Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 19-08-2018 20:15 | 1244
Maria é treinadora de natação no Ouro Verde Tênis Clube e educadora física na escola Ana Cândida
Maria é treinadora de natação no Ouro Verde Tênis Clube e educadora física na escola Ana Cândida Foto: Arquivo Pessoal

A professora de Educação Física e treinadora da equipe de Natação do Ouro Verde Tênis Clube, Maria Elisa Meles Ferreira, é uma profissional dedicada e muito entusiasta pela natação. Maria Elisa é filha do servidor da Santa Casa, Antônio Inácio Ferreira Neto e da professora de Educação Física, Daize Meles Carvalho Pádua Ferreira. Filha mais velha, irmã do André, da Marina e do Henrique, é casada com o produtor rural Sergio, e mãe da pequena Helena, de quatro anos, e do Pedro, de dois. Aos 34 anos, acolhedora, ela fala um pouco sobre sua vida e forma como encara a educação à reportagem do Jornal do Sudoeste.

Jornal do Sudoeste: Como foi a infância em Paraíso?
M.E.M.F.: Foi maravilhosa; eu e meu irmão, o André, temos pouca diferença de idade e sempre fomos muito unidos e muito companheiros. A nossa infância foi muito boa porque vivemos praticamente na casa dos meus avós, que já faleceram. Foi aquela infância em casa de vó. Meus avô, o João do Carmo, tinha uma padaria que ficava em uma esquina da Pinto Ribeiro, ele era bem conhecido na cidade. E tinha a minha avó também, a Nilda de Carvalho. Foram vítimas de um acidente automobilístico, há 16 anos. Nós sofremos muito, e até hoje sofremos porque éramos muito apegados. Vivíamos na padaria junto das demais crianças.

Jornal do Sudoeste: Fale sobre seus pais.
M.E.M.F.: Meu pai trabalha na recepção da Santa Casa e a minha mãe é professora de Educação Física. Ela trabalhou muitos anos no Paula Frassinetti, no São Judas, trabalhou também muitos anos no Clóvis Salgado, mas já se aposentou como professora do Estado e atualmente trabalha no Caic, pela Prefeitura, falta ainda alguns anos para se aposentar deste cargo. Ela já deu aula para cidade inteira.

Jornal do Sudoeste: Você também é professora de Educação Física...
M.E.M.F.: Sim. Estudei Educação Física na Universidade de Franca; ia e voltava todos os dias e ainda fazia estágio na Prefeitura. À época saía às 16h, ia para a casa, comia alguma coisa e depois pegava o ônibus para ir para a faculdade. Foi uma fase muito boa, onde aprendi muito. Logo que eu terminei já fiz uma pós-graduação em Adaptação e Saúde, em Batatais. Fiz essa pós na sequência, porque a gente desanima um pouco se ficar parado por muito tempo.

Jornal do Sudoeste: Você foi influenciada por sua mãe para ser professora?
M.E.M.F.: Não. Minha mãe nunca me orientou a fazer um curso específico, tão pouco Educação Física, que era a profissão dela. Pelo contrário, sempre fui livre para fazer o que eu tivesse vontade de estudar. Quando prestei vestibular, foi para Fisioterapia, em Ribeirão Preto, mas não tinha condições de morar lá para estudar. Então, prestei Educação Física em Franca, nem passava pela minha cabeça estudar isto. Passei e comecei. Pensava em dar aula somente em academia, não pensava de forma alguma dar aula em escola e ficar igual minha mãe (se desgastando), mas é o que eu faço hoje e gosto muito. Hoje, sou efetiva na Escola Ana Cândida. Gosto muito deste trabalho, aprendi a gostar. Quando estudava, comecei a estagiar junto da minha mãe, tanto que a parte de educação escolar devo muito a ela e até hoje ela me ensina muito. Eu me apaixonei por isto e é o que eu amo fazer, e mais do que eu isto, eu amo também a natação.

Jornal do Sudoeste: Como começou a natação na sua vida?
M.E.M.F.: Hoje dou aula de natação no Ouro Verde. Essa paixão pela natação começou quando eu iniciei meu estágio na Prefeitura. À época tinha vaga para estágio em natação. Até então eu não sabia nadar, gostava de futebol, handebol, esse tipo de esporte. Olhava para a piscina e me perguntava o que eu estava fazendo ali, e no primeiro ano não tive nenhuma instrução. Porém, no segundo ano começou um projeto, o “Projeto Nadar”, que era coordenado pelo Henrique, dono da Ácqua Sport, e pela Sandra, que ainda trabalha na prefeitura. Foram essas pessoas que me fizeram pegar esse amor todo por este esporte e eu aprendi muito com eles. Depois de dois anos me colocaram como treinadora e me apaixonei ainda mais pelo esporte.

Jornal do Sudoeste: Você viu muitos alunos crescerem na natação?
M.E.M.F.: Sim. Dei aula para muita gente neste projeto que sendo encerrado por falta de incentivo do município. Porém, grande parte desses alunos continuou treinando em outros lugares e muitos deles foram campeões paulista e mineiro. Muitos tiveram destaque, mas alguns pararam. Eu mesma nunca cheguei a competir profissionalmente. Talvez, se eu tivesse feito aulas certinhas, talvez eu me desse bem. Recordo-me quando o Henrique me treinava, ele dizia que eu nadava bem e deveria competir. Mas hoje eu pratico muito, gosto e não deixo de estar sempre praticando, gosto muito de nadar, é algo que me relaxa.

Jornal do Sudoeste: Quando você começou a dar aula para o Estado?
M.E.M.F.: Desde 2006, já são 12 anos. Em 2011 prestei concurso e fui nomeada em 2015. Desde que eu entrei vejo que  a situação só tem piorado, no que se diz da questão pedagógica e o próprio sistema que não ajuda muito: o governo só quer saber de número, se o é aluno aprovado, se aluno está matriculado. Mas a realidade é outra, muita criança que está matriculada e não frequenta aula, há muito aluno com dificuldade e que somos obrigados a aprovar o estudante, principalmente do primeiro ou quinto ano, não existe bomba. Há criança que chega ao 6º ano sem saber ler  e escrever direito, é muito complicado. Porém, também depende muito da direção e onde trabalho é uma escola muito boa. A direção valoriza a Educação Física, nos dá material e condições para trabalhar e quando o diretor gosta e valoriza é possível fazer um trabalho legal, mas há escola que é difícil.

Jornal do Sudoeste: Você conversa com  sua mãe sobre estas questões?
M.E.M.F.: Sim. Conversamos bastante sobre e, desde quando ela começou para cá, não mudou muita coisa, só tem piorado, infelizmente. É uma profissão muito bonita, mas é difícil ser professor. Dizer que não vai trabalhar porque está sem receber: entra governo e sai governo, é a mesma situação. Mas se você gosta do que faz, nada é empecilho.

Jornal do Sudoeste: Você encara o esporte como mudança de vida?
M.E.M.F.: Para mim o esporte, é como uma ferramenta de direcionamento para o aluno, para tirá-lo da rua, é a melhor parte, principalmente a educação através do esporte e, principalmente, a parte competitiva, que é com que eu trabalho. Às vezes há o questionamento desta criança estar ali treinando o tempo todo, mas somente de estar ali e conviver com pessoas que pensam o bem e não tem outro objetivo que não seja aquele que é treinar e ir para a escola, vale muito a pena.

Jornal do Sudoeste: Você também realiza trabalho com crianças em estado de vulnerabilidade?
M.E.M.F.: Sim. No clube temos um projeto muito bacana que é o Sócio Atleta, onde atendemos crianças e adolescentes que não têm condições de pagar uma mensalidade, mas que estão estudando e damos a oportunidade de treinar no clube. Isto ajuda muito, porque são crianças em área de risco e que não têm condições de nada e que poderiam estar na rua criando vínculo com drogas e caminhos não tão legais. No projeto, monitoramos as notas desses alunos, frequência, comportamento, há todo esse acompanhamento da vida escolar do estudante.

Jornal do Sudoeste: Falta investimento em educação?
M.E.M.F.: A educação é tudo. Acredito que falta incentivo do governo, não somente ao que diz respeito a salário dos professores, porque quando a gente gosta do que faz, pode ter o atraso que for, mas estamos ali prontos para ajudar o aluno. Mas este sistema não colabora muito, porque não existe bomba, o governo só quer saber de número e a população que não tem educação não tem consciência de nada, consequentemente não sabe votar, não sabe se cuidar, ai vêm as doenças e tudo isto se torna uma cadeia... passa fome, não tem instrução de nada para buscar um emprego digno... A educação é a base de tudo e é o meio para melhorar tudo: a política, a saúde entre outras questões. A culpa acaba sendo atribuída ao professor, e somos muito cobrados, mas claro que tem as duas partes: há professores que realmente não se importam, mas a maioria quer fazer a diferença e está buscando ajudar o aluno.

Jornal do Sudoeste: Você se imagina fazendo outra coisa?
M.E.M.F.: Não consigo me imaginar fazendo outra coisa e isto é até engraçado, porque sou muito tímida. Se tenho que apresentar algo para colegas de trabalho eu não consigo, fico muito nervosa, mas eu consigo dar aula para turma de quarenta, cinquenta alunos, falar com eles. Lidar com alunos para mim é mais fácil, de todos os públicos. Já cheguei, inclusive, a dar aula de natação do Corpo de Bombeiros.

Jornal do Sudoeste: Como foi isso?
M.E.M.F.: Foi um desafio muito legal. Eu estava no início da minha carreira e um colega que dava essas aulas foi embora do país e me ofereceu para pegar aquela turma. É muito interessante, porque não são todos os bombeiros que sabem nadar, e ensinei muitos a nadar do zero. Eu dava esses treinos.

Jornal do Sudoeste: É mais fácil lidar com criança ou com adulto?
M.E.M.F.: Criança, sem dúvida. O problema das crianças hoje que nos dão trabalho são os pais, porque elas aprendem pelo exemplo que têm em casa. Porém, o que mais dá trabalho são os adultos, isso porque a criança você conversa e orienta, ela te escuta e aprende. Já o adulto tem uma personalidade que você não consegue mudar.

Jornal do Sudoeste: Qual balanço você faz desta caminhada e o que pretende para futuro?
M.E.M.F.: Acho que tenho evoluído muito nestes anos. A caminhada foi muito positiva, principalmente depois que me tornei mãe e, apesar da rotina que é pesada, tenho conseguido conciliar e meu marido me ajuda muito, alias, não ajuda, faz o papel de pai muito bem. Meu resumo até aqui é felicidade e plenitude. Tenho uma família maravilhosa, trabalho com o que eu amo, tive uma educação sólida e com muito amor, carinho, respeito... Tudo isso contribui com minha personalidade e jeito com o qual eu levo a vida. Sobre planos, tenho vontade adotar uma criança, mais velha um pouquinho, por mim já tinha feito, mas é uma decisão que tem que ser em conjunto e meu marido quer esperar nossas crianças crescerem um pouco.