Dezessete paraisenses saíram de viagem para Cabo Frio no litoral fluminense no feriado prolongado da última semana. Mas o que era somente para descansar e aproveitar os dias de feriado, acabou tendo momentos dramático e que, de acordo com eles, jamais será esquecido.
Aproximadamente 11:40 de sábado, 20, quando passeavam de escuna nas imediações da Ilha do Papagaio, viram o naufrágio do Tona Galea. A embarcação em que estavam os paraisenses foi a primeira barco de passeio a chegar ao local, socorrendo cinco tripulantes que se encontravam com vida.
O aposentado Manir Abrahão e sua esposa, Maria José Abrahão estiveram nesse momento e contam ao Jornal do Sudoeste o que passaram ao ver o naufrágio do Tona Galea, onde faleceram 15 pessoas.
Quando tiveram conhecimento do que estava acontecendo, conforme dizem, os tripulantes ficaram desesperados. "Ficaram todos em pé, o que fazia com que o barco onde estávamos às vezes balançasse correndo o risco de também virar, sendo acalmados pelo comandante", ressaltam. "Mas quando chegou perto, foi impossível controlá-los. Ficaram inquietos, começaram a gritar, foi uma experiência horrível".
O motivo para tanto desespero, de acordo com eles, foi ver dezenas de pessoas quase se afogando, tentando salvar suas próprias vidas, a de amigos e parentes que estavam perdidos no mar. "Vimos uma mulher morta boiando passar perto do barco, várias outras tentando nadar e chegar perto das embarcações que estavam lá".
Por ter sido a primeira escuna a chegar no local, conseguiram ajudar ainda cinco pessoas, dentre os quais, duas crianças desmaiadas. "O primeiro a se aproximar, foi um senhor que estava com uma criança de um ano no colo, com aparência de quem já não agüentava mais nadar e quase se afogando. Nesse momento, pensei em pular na água para ajudá-lo, mas quando vestia o colete para nadar, atiraram bóias para ele, o que auxiliou para que entrasse em nosso barco", conta Manir. Este, conforme afirma, foi um dos momentos mais emocionantes.
Os cuidados da menina foi dado a Maria José, que pegou-a no colo e só a soltou quando chegaram ao hospital, tempo aproximado de 50 minutos. "Durante esse período, sequei-a e enrolava em toalhas para que aquecesse, pois chegou desmaiada e graças a Deus, ela ficou bem, mas perdeu a mãe e a irmã, porque seu pai, Luiz, não as viu para socorrê-las", conta.
Além deles, uma moça também foi socorrida pela escuna ao qual os paraisenses estavam e outro rapaz, Henrique que também nadou com o filho nos braços, tendo uma sorte diferente de Luiz, pois conseguiu pegar coletes e levar para a esposa e sua outra filha que estavam na água. "Mas seu menino estava muito ruim, tanto que ficou muito tempo desmaiado sendo reanimado com massagem cardíaca por pessoas que estavam conosco e quando chegou ao hospital, ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva - UTI.
Manir e Maria José elogiaram o comandante do barco em que estavam, dizendo não recordar o nome. "Ele foi extremamente calmo, no momento em que avistou, tentou contato com todas as outras escunas que estavam próximas e falou para irem ajudar a salvar as vítimas", relatam.
Falta de lugares leva grupo a outro barco
Conforme contam Manir e Maria José, por sorte não estavam também no Tona Galea. "Quando íamos entrar na escuna, percebemos que haviam somente 12 lugares vagos, o que não era o suficiente para o nosso grupo, que estava 17 pessoas", comentam.
Por esse motivo, tiveram que esperar uma outra embarcação que vinha logo depois. "Foi o que nos salvou, pois poderíamos estar também no naufrágio".
Uma lição que ficou para eles, conforme salientam, foi que o uso do colete realmente salva-vidas. "Não estávamos fazendo uso deles, mas agora, quando for fazer algum passeio de barco, com certeza iremos usar". De acordo com comentários das vítimas ao qual conversaram, o comandante da Tona Galea, falou que o colete salva-vidas era para ser usado somente quando fossem nadar, que ao retornar ao barco, precisavam retirá-los. "Como exemplo, temos o nosso barco, onde ninguém fez uso dele, nem nós, que só colocamos depois".
De acordo com Manir e Maria José, vários fatores fariam com que o número de falecidos fosse menor. O primeiro deles, seria o uso de coletes, que de acordo com leis da Capitania dos Portos, é obrigatório. Outro seria se os iates que, por motivo de obterem maior velocidade, teriam condições de chegar primeiro ao local e socorrer mais pessoas. "Haviam muitos barcos particulares olhando, mas não ajudaram, nós levamos em torno de 15 minutos, que é tempo mais que suficiente para uma pessoa se afogar".
Nádia Bícego