Ainda se acredita que a honestidade é a melhor saída

Por: Redação | Categoria: Arquivo | 18-05-2003 00:00 | 872
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Rui Barbosa certa vez afirmou que "de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar- se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto". Hoje em dia, estando a população mundial vivendo um verdadeiro caos, tendo como companhia as grades da janela, os alarmes das portas e a corrupção nos mais diversos segmentos, é cada vez maior a temeridade de que a afirmação do escritor venha a se tornar uma realidade. Em São Sebastião do Paraíso, várias pessoas opinam sobre o assunto e revelam suas impressões a respeito da natureza humana.
Explorando o assunto através do ângulo de visão da psicóloga Patrícia Gonzales Chicaroni, pode-se absorver uma gama de informações. "Por mais que as pessoas tentem lutar para obter sucesso e felicidade, chegando muitas vezes a passar por cima dos outros, ainda existe uma necessidade por parte do ser humano em acreditar na felicidade e na honestidade, de maneira coerente com a realidade," afirma.
Para a psicóloga, o que vem acontecendo é uma luta para resgatar valores afetivos e que conseqüentemente envolve a honestidade. "As pessoas hoje em dia estão buscando ser mais verdadeiras e demonstrar amor, abraçar, dizer que gosta, querem viver em grupos, e essa busca é muito interiorizada. Porque a falta de honestidade incomoda a si mesmo, não os outros. O que está acontecendo é uma mudança significativa. Ainda há muitas pessoas que por mais que cresçam, progridam profissionalmente e obtenham sucesso em todas as áreas da vida, não vão se sentir bem se usarem de meios ilícitos para chegar à posição de destaque. Acho que esse tempo a que Rui Barbosa se refere está muito distante e talvez nem venha a existir se as pessoas buscarem os seus respectivos grupos e serem felizes," opina. 
"Problemas em casa, no trabalho, o estresse com seqüestros, assassinatos, crises sociais e econômicas e a impunidade reinante no País, levam a refletir: vale a pena ser honesto no mundo de hoje? Diante desse quadro sombrio, fica fácil responder: não, não vale. Porém, o desespero não deve nos fazer acreditar que nada faz diferença.
Basta olharmos à nossa volta e veremos pessoas trabalhando para amenizar o sofrimento dos nossos semelhantes. Há ainda quem faça questão de ser honesto, leal e solidário. Não devemos nos habituar a prestar atenção nos fatos ruins e deixar passar em branco aquilo de belo e de bom que a vida nos oferece. O ser humano é essencialmente bom e merece, sempre, uma nova chance," completa.
Já a professora de História, Sílvia Aparecida Mano lembra que Rui Barbosa era um idealista que chegou a comover as mais diversas platéias com seu nacionalismo exacerbado. "Ele acabava sendo um pouco ingênuo por acreditar tanto num mundo melhor. Essa frase tão célebre retrata a sua decepção com o sistema de governo e com o caráter do ser humano. Hoje em dia, é possível ver essa afirmação refletida no cotidiano escolar. Os alunos têm medo de serem bons, de estudar, de tratar bem o professor, porque sentem medo de serem taxados de Caxias, de CDF, sentem vergonha de dizer que passaram a noite toda estudando. E isso já vem ocorrendo há bastante tempo, geralmente está ligado aos valores morais adquiridos na convivência familiar. O adolescente é fruto do meio em que vive. Ele vê afirmações do tipo "brasileiro gosta de levar vantagem em tudo" e passa a crer que, o certo é se esforçar menos e ganhar mais. A honestidade passa a ficar em segundo plano," comenta.
Para a professora, em termos, Rui Barbosa está certo. "Hoje em dia as pessoas falam tanto em ética profissional, mas praticamente em todas as áreas, não é isso o que se vê. Acho que essa falta de valores se deve à falta de cultura. Dentro da sala de aula, há alunos bons e medíocres. Mas, poucos são os que buscam aprimorar o nível de conhecimento. A maioria aprende somente o necessário, não busca enriquecer-se e isto está completamente errado. Saber não ocupa espaço. Acredito que a situação só vai mudar quando o homem entender que o valor maior está profundamente ligado ao estímulo cultural e ao conhecimento," explica.
A jovem Aurismeide Cristina de Souza, 19, acredita que no mundo ainda há muitas pessoas boas, honestas e dignas. "Apesar da gente ver tanta maldade espalhada por aí, acredito que há mais pessoas boas do que ruins. Não se pode esquecer dos milhares de cidadãos que passam a vida toda buscando agir com honestidade e dignidade. Está certo que a cada dia aumenta consideravelmente o número de pessoas que roubam, matam, usam os outros como escada para alcançar sucesso. Apesar disso, acredito que o mundo não sobreviveria por muito tempo se todas as pessoas fossem egoístas.
A comunidade só permanece de pé por causa das pessoas de bom coração. Destas que trabalham a vida toda honestamente e muitas vezes, injustiçadas, chegam realmente a pensar em usar de desonestidade e não conseguem. São essas pessoas que passam esperança para nós que estamos começando a viver agora e é por causa delas que Rui Barbosa pode ficar tranqüilo, a sociedade sempre vai ter os seus heróis anônimos," ressalta.
Carlos Bandeira, empresário e editor, pensa da mesma forma que a jovem. Para ele, o homem não chegou a um tempo onde pode-se sentir vergonha da dignidade. "A honestidade e o bom caráter ainda estão bem além de qualquer injustiça ou humilhação que venhamos a passar. Moramos em um País sem leis, onde de fato, as nulidades, a desonra e principalmente a injustiça imperam, mas "ainda" existem os bons e se não "fizermos a diferença" e não esquivarmos de coisas ruins, também entraremos no mundo das "hienas". Pensamento positivo, bom senso e trabalho: essa é a saída," concluiu.