Procurando ter uma vida mais saudável, trocar produtos industrializados por alimentos naturais já está se tornando uma rotina na vida de pessoas em todo o mundo. Porém, comer esses alimentos pode, às vezes, não ser tão saudável quanto o consumidor imagina.
De acordo com o relatório final do primeiro ano de atuação do Programa Nacional de Análise de Resíduo de Agrotóxicos em Alimentos - PARA, diversos produtos estão sendo vendidos com uma taxa elevada desses produtos químicos, o que pode causar sérios danos à saúde do consumidor.
Pelo programa, que é feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa, os produtos mais contaminados são o morango, que possui 50% de resíduos irregulares, o mamão com 31% e o tomate com 27%.
O rastreamento foi realizado no período de junho de 2001 a junho do ano seguinte, em quatro estados, entre eles Minas Gerais e São Paulo e mostra números que, de acordo com o técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais - EMATER-MG, Sálvio Antunes Pereira, são preocupantes.
Das 233 amostras irregulares colhidas pela Anvisa, 74 continham resíduos de agrotóxicos não autorizados para as respectivas culturas devido ao seu alto grau de toxidade. "Quando um produto não for requisitado pelo Ministério da Agricultura para uma determinada cultura, quer dizer que se for utilizado nela, trará problemas sérios para o consumidor, por isso é preciso que faça uso dos remédios certos e tenha sempre o acompanhamento de um técnico responsável em sua orientação", orienta Sálvio.
As principais causas para que hajam esses problemas são atribuídas pelo técnico a desconhecimento do agricultor com relação aos produtos em que ele esteja usando na cultura. "Além de utilizar o produto certo, é preciso também, respeitar o tempo de carência dele, que vai desde a aplicação até o consumidor. Cada um tem o tempo certo que deve ser acatado", explica.
Sálvio comenta também que vários outros fatores precisam ser levados em consideração para que o alimento seja livre de excesso de veneno, consequentemente, saudável para quem consome. "Para começar, o acompanhamento agronômico é imprescindível. Depois tem que ser observado a aplicação, manejo, período de carência. É importante também, prestar atenção na água que usa para irrigar a plantação, pois se estiver contaminada com certeza o alimento também fica".
CONSUMIDOR
Comprar um alimento cem porcento natural é uma tarefa difícil tendo em vista que visivelmente, não é possível perceber que o produto está contaminado. Porém, na hora de comprar pode ser verificado se tem certificado de orgânico. "Mas aqui em Paraíso, ainda não existe nenhuma produção que possui esse certificado. Se existir uma cultura, ainda é em pequena escala e não temos conhecimento. Sem informação, o consumidor pode estar comprando por orgânico, um produto que possui uma química em sua composição".
A respeito do tomate, conta que atualmente é muito difícil cultivá-lo sem agrotóxicos. "É uma planta muito sensível a doenças e plantá-lo sem produtos que combatam as mesmas, é quase que impossível. Atualmente, as sementes dele já vem mais resistentes, mesmo assim, acompanhei alguns produtores que fizeram, sem sucesso, essa tentativa", conta.
PODE SER INGERIDO SEM MEDO
Para quem adotou alimentos naturais em sua dieta, não precisa se preocupar e nem deixar de consumi-los. Especialistas afirmam que o ideal seria não comprar, mas existem maneiras de deixarem próprios para o consumo. "O processo de higienização e limpeza é muito simples e rápido", comenta a nutricionista Gisele Mafra Lauria.
"Em casa, é só colocar imerso em água com um pouco de água sanitária, deixar alguns minutos e lavar bem para retirar o excesso. Assim o alimento, seja ele qual for, fica pronto para o consumo", explica.
Essa, de acordo com a nutricionista, é a melhor maneira de retirar os resíduos tóxicos dos produtos. "Algumas pessoas passam detergente, mas o melhor mesmo é essa mistura que limpa tira qualquer impureza".
A única preocupação de quem faz esse tipo de limpeza, conforme diz, deve ser deixar o legume, fruta ou hortaliça totalmente imersa. "Não adianta nada limpar somente uma parte e deixar a outra".
SEM CONDIÇÕES DE FISCALIZAR
O coordenador de Serviços de Vigilância Sanitária de São Sebastião do Paraíso, Márcio Couto Rosa Júnior, diz que na cidade não tem nenhuma condição de fiscalizar se algum produto está contaminado. "Para isso seria necessário um laboratório, o que não temos, nem para água, nossa competência ge-rencial tem limites", reclama, dizendo que quando necessário, a Copasa quem faz.
Conforme conta, o limite de atuação da Vigilância Sanitária da cidade é singelo. "Existe muitas coisas que queremos fazer, mas não nos é possibilitado por falta de equipamentos ou até mesmo pessoas capacitadas para isso". NB
Cultivo orgânico: Uma forma saudável de produzir
Para produzir alimentos mais saudáveis, o produtor rural tem a opção de fazer um cultivo orgânico, ou seja, adubar o terreno com resíduos orgânicos como: esterco, urina e resto de animais, palhas, capins, lixo, serragem, resto de culturas e capinas, cama de estábulos ou galinheiros, bagaços ou farinha de ossos e farinha de carne, entre outros, que se transformam em húmus.
"Essa técnica é mais saudável tanto para o solo como para quem consome", fala o técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais - EMATER-MG, Sálvio Antunes Pereira.
Uma das vantagens desse tipo de adubação é que o húmus tem a propriedade de diminuir a perda de cálcio, magnésio e potássio pelas lavagens do solo. "Além disso, entre outras, melhora a estrutura do solo, facilita a absorção de nutrientes pelas plantas, aumenta a capacidade do solo em armazenar as mesmas e diminui os gastos com adubo mineral".
Mas é bom lembrar que somente o uso de adubos orgânicos não resolve o problema para garantir ou aumentar a fertilidade do solo. "A adubação mineral também é necessária, porém deve ser feita de uma forma diferenciada", lembra.
"As pessoas pensam que produzir orgânico é não colocar nada e não é bem assim, tem uma série de passos que precisam ser seguidos, desde o preparo do solo, o tempo que ele tem, a cultura, o manejo o cultivo", comenta, quando fala que todos têm que ter um acompanhamento.
Para obter alimentos saudáveis também é preciso uma água de qualidade para fazer a irrigação. "Não adianta nada tomar cuidado com o solo, se a água está contaminada, por isso, devem ser feitas análises da mesma".
CUSTO
Esse tipo de cultura, conforme explica, às vezes, tem um custo mais elevado. "Eu não diria que esse tipo de manejo seja mais econômico porque na verdade, existem produtos que se tornam mais caros porque a produtividade diminui. Mesmo assim, é viável visando o consumidor e o meio ambiente".
Atualmente, de acordo com técnico, é preciso fazer uma agricultura sustentável. "Que é produzir sem agredir o ambiente e ter uma sustentabilidade nessa produção. Porque se fizer um bom uso desses produtos existentes no mercado, com todos os cuidados que são orientados, podemos tranqüilamente produzir sem agredir nem prejudicar a saúde do ser humano, assim a natureza agradece e o organismo também", conclui. Nádia Bícego