Aconteceu na tarde de 13 de junho, Sexta-feira, um fato histórico para São Sebastião do Paraíso. Extamente às 14:00 hs teve início a audiência que formalizou a adoção das crianças Natália e Diego, repectivamente 8 e 10 anos pela enfermeira francesa Henriette Grouas, da cidade La Perriere, localizada ao noroeste do país.
A adoção internacional surgiu há algum tempo através de um tratado firmado entre vários países num congresso realizado em Haia, na Holanda. Estabeleceu-se países doadores e receptores. O Brasil, devido à sua situação econômica, foi enquadrado como doador, o que, segundo a advogada especializada em adoção internacional e membro da associação que intermediou o processo realizado na cidade, Marília Lima Alvarenga, não é motivo de constrangimento.
O processo, como o que foi finalizado sexta-feira, se dá através da Comissão Estadual Judicial de Adoção-CEJA, coordenada pelo Tribunal de Justiça do Estado e as diversas agências de interessados em adotar crianças brasileiras existentes no exterior. Para adotá-las, ou adotar em qualquer outro país, Grouas teve que primeiramente organizar um dossiê, que após apresentado a um departamento federal francês especializado nesse processo, o MAI, teve sua vida pesquisada. Em seguida, a enfermeira passou a fazer parte de uma associação francesa credenciada. Com duas ramificações, a associação na qual foi filiada, denominada "Adoption et Parrhinnage de Cognal" e
"Ediweiss Accveil", realiza processos de adoção no Brasil e Vietnã.
A partir do momento em que a francesa optou pelo nosso país, o advogado que a representa no Brasil, Gilberto de Camargo e Silva Júnior, entrou com a petição inicial junto ao CEJA, apresentando o dossiê usado inicialmente. A enfermeira também se inscreveu em várias outras agências, mas sendo a Comissão Estadual de Minas a primeira a disponibilizar a destituição do pátrio-poder das crianças, Grouas começou as negociações para adoção das crianças, que em Paraíso, moravam no Lar Pedacinho do Céu.
Iniciado o processo de familiarização em fevereiro, a equipe técnica começou os trabalhos de aproximação. Para isso, foi realizado um relatório psicossocial, e um estágio de 30 dias, tendo a enfermeira se locomovido da França para Paraíso, onde permaneceu na casa da psicóloga Sandra Westin, juntamente com as crianças. Ainda compondo a equipe, consta os trabalhos de Cátia Aparecida Pereira e da tradutora Marília Lima de Alvarenga, que veio de Belo Horizonte para a oficialização e em várias outras ocasiões, quando o processo ainda corria em segredo de justiça. "Foi uma experiência riquíssima. Houveram algumas dificuldades no dia a dia, mas a adaptação foi muito tranquila e segura," opina a psicóloga Sandra.
Na audiência presidida pelo juiz da 2º Vara Cível e da Infância e Juventude, Doutor Marco Antônio Hipólito Rodrigues, estiveram presentes o juiz diretor da Comarca, Dr. Oswaldo Neri e a promotora de justiça, Claudia Alfredo Marques. Em ata, o magistrado afirmou que nada constava que desabonasse Grouas. "Por outro lado, a postulante, ante o seu manifesto propósito maternal, não se debatendo com a distância demográfica, aporta aqui para dar nova vida a quem estava condenado a um viver eternamente em abrigo. Seria inteiramente desumano impedir a oportunidade única que a vida oferece aos adotandos, ainda que fora do seu país, no seio de uma família que as eduque e ampare , e, principalmente, lhes dê amor e carinho, onde quer que seja,"afirma, julgando procedente o processo.
A advogada afirmou ainda que não existe adoção internacional sem a interferência do CEJA. Ao tocar no ponto das idades das crianças, Alvarenga afirmou que ao contrário do Brasil, nos países desenvolvidos não existe preconceito em relação à idade própria para a adoção. "Outro ponto que gostaria de ressaltar é que não foi a Henriette que escolheu as crianças, mas a CEJA que escolheu uma família para Diego e Natália," ressalta.
Ao final do processo legal, entre aperto de mãos e abraços cordiais, a enfermeira foi homenageada pela equipe do Fórum através de Cátia e Sandra. O juiz salientou ainda estar confiante nesta nova modalidade de adoção, pioneira na nossa região. "Pre-fereria que o Brasil tivesse condições de cuidar destas crianças, mas como não é possível, porque impedir as crianças de encontrar amparo em outro país? Este gesto de Henriette é um precedente importante que irá estimular a adoção de outras crianças que se encontram em condições de serem adotadas," salienta.
Outrora Diego de Souza Ribeiro e Natália de Souza Ribeiro, as crianças agora legalmente adotadas passam a se chamar Diego Yvan Henri Grouas e Nathalia Océane Marie-Louise Grouas. Elas seguem para a Rio de Janeiro onde ficarão até Sexta-feira, dia 20, quando partem para a França. Durante o período em que estiveram por lá, a MAI se encarregará de enviar relatórios bimestrais durante este primeiro ano, rareando com o passar do tempo para esta Comarca. "Foi uma emoção muito grande conhecer as crianças e estar aqui," afirmou a francesa que se emocionou profundamente ao receber as flores. Elezângela de Oliveira