Pode-se definir a AMA como uma entidade assistencial filantrópica dedicada ao tratamento e ao estudo do autismo. Originada do grego, auto quer dizer "si mesmo" e trata-se de pessoas que não se exteriorizam, apresentam um nível de desenvolvimento defasado. É um mal que acomete 4 em cada dez mil crianças que nascem, tendo sido descoberto em 1942 por Canner.
Fundada em São Sebastião do Paraíso, no dia 20 de maio de 1991, é única que sobreviveu ao passar do tempo em toda Minas Gerais. A vereadora Maria Aparecida Pimenta, que é a presidente da Associação de Pais, conta como surgiu a idéia de montar uma filial desta organização não governamental (ONG) no município." Nós resolvemos fundar a Associação em nossa cidade porque já havíamos fundado uma em Ribeirão Preto. Eu já havia trabalhado com esse tipo de associação em Goiás. Quando a clientela em Paraíso aumentou, a minha mãe, falecida há um ano, ofereceu a sua chácara na Vila Mariana para nos instalar.
Meu carro já não comportava mais autistas para levar a Ribeirão, então nós fizemos uma reforma do local com a colaboração de toda a sociedade paraisense. As casas comerciais de construção e serralheria colaboraram demais conosco e nós instalamos a entidade lá, o que aconteceu há doze anos. Até hoje, a AMA trabalhou ininterruptamente de forma totalmente gratuita," comenta.
A AMA é uma organização não governamental. Contudo em 1995, a então primeira-dama de Minas, Luíza Azeredo, conseguiu um convênio com o Estado através da Escola Estadual Clóvis Salgado, onde o governador se comprometeu a pagar três pedagogas. O restante dos profissionais, é pago com o que a entidade arrecada. "Antigamente, contávamos com a subvenção social da Prefeitura, mas de 1997 para cá, a gente não recebeu nada, exceção feita ao primeiro ano de exercício da atual administração, em que nos pagaram 8 parcelas. Em 2002 pagaram só duas e depois, não tivemos nem mais um tipo de subvenção, nem merenda escolar, nem combustível e nem dinheiro mesmo para nos mantermos," observa.
Em Minas Gerais não existem outras AMAS como a de Paraíso. Foram fundadas algumas nas cidades de Poços de Caldas, Uberaba, Belo Horizonte, Ouro Preto, mas nenhuma sobreviveu. "Quando esbarra na folha de pagamento é difícil, porque voluntariado para trabalhar com autismo é muito difícil. Têm que investir-se no profissional, mandar fazer congressos, estágios em outras entidades porque não existe em nível universitário um curso para se tratar de autismo. Temos que ficar aproveitando quando vêm profissionais da Dinamarca, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, de onde veio inclusive o método que utilizamos. É bom nossos profissionais irem a cursos porque é a única forma deles se adaptarem à abordagem do tratamento do autismo," argumenta.
Como funciona a ONG
A escola tem a sua hierarquia normal. São 7 funcionários, onde 3 são pagos pelo Estado e 4 pela entidade. Lá trabalham a diretora, as pedagogas, o hortelão, a merendeira e o motorista. Inicia-se o dia com a atividade de vida diária, famoso AVD, comum em escolas especiais. "Depois disso, os autistas funcionais, que são os alfabetizados, têm aula normal. Eles fazem ditado, redação, cálculo mental, falam, escrevem. Os outros já ficam na prática de reabilitação sensório-motora. Nesse sentido temos também uma colaboração muito grande do Laboratório de Saúde Mental do Gedor Silveira, que fica brem próximo. Se a família permitir, o autista faz um tratamento com psicólogos, fonos e fisioterapia, então há mais uma habilidade pedagógica," comenta.
"O filho autista tem a mesma carga horária do filho normal. Vai meio dia, volta às 5 da tarde, a única vantagem é que ele tem a condução grátis, já volta tomado banho e jantado. Ao chegar na aula, toma um lanche, vai para o primeiro módulo que é a sala de aula, depois faz um exercício manual, motor, depois vêm as demais atividades, que podem ser a visita ao CIAD, abordagem especializada, por último eles vão à horta porque eles tomam banho e jantam," enumera.
Alguns têm atividades na areia, fazem artesanato e ficam mais freqüentes à horta. "A primeira coisa que o indivíduo precisa para sobreviver é alimentação, e o que buscamos é fazer o autista entender de onde vem o que ele come. Ele planta, vê crescer, rega, colhe e ás vezes ajuda até a lavar a verdura, a temperar. Quanto às frutas, eles espremem, fazem o suco. Cada um tem os seus instrumentos de cozinha. Mostramos qual é o ciclo da semente até chegar ao organismo dele. Só explicando, ele não absorve, uma pessoa autista tem a área do conhecimento extremamente defasada. Tem ser feita uma simbologia de tudo, até mesmo para alfabetizar. Por exemplo: a palavra "maçã". O professor leva a maçã, depois o autista desenha a maçã, forma a palavra com letrinhas de plástico, para depois escrever e só aí ele vai formar a maçã no cérebro sendo que quando pensar na palavra maçã, ele vai se reportar àquela figura," acrescenta.
São 13 autistas assistencializados pela entidade ao total. "É um trabalho bastante exigente porque lidamos com faixas etárias, cronologicamente falando, desde 5 até 22 anos. Cada segmento do indivíduo com esta síndrome tem uma idade mental diferente da cronólogica, através disso se baseia o método que é trabalhado. O autismo é um distúrbio de desenvolvimento. Um jovem com essa doença aos 20 anos pode ter uma fala de criança de oito meses, ter um relacionamento social de 10 anos, desenvolvimento motor de 5 anos e cuidados pessoais na faixa de 7 anos. Por exemplo, ele não consegue tomar banho sozinho como uma criança de 5 anos, não sabe amarrar o tênis como uma criança de 5 anos também não sabe. Ele pode até ter um relacionamento social com as pessoas na fase de 7 e 8 anos, onde simpatiza com umas pessoas e outras não. Se alimenta bem sozinho, mas não sabe andar de bicicleta, porque na hora de trabalhar com esse determinado caso, a pedagoga terá que trabalhar com a idade da criança naquela área em que atua, como a fonaudióloga que terá que tratar o jovem de 20 anos, como uma criança de 8 meses," acrescenta.
O local onde as diferenças de desenvolvimento são atenuadas ficando quase imperceptíveis, segundo a presidente da associação de pais, ocorre quando os assistidos estão lidando com a terra. "Na horta já é mais fácil, porque eles dão conta de fazer o buraquinho para a semente, cuidar da mudinha de alface. Regar é uma diversão porque eles adoram água e depois a gente põe e comercializa para manutenção dos demais funcionários da AMA," ressalta.
Hoje a ONG recebe famílias de outras localidades que vêm em busca de tratamento gratuito. São em sua maioria pais que deixaram suas atividades e vieram procurar emprego, se instalando, na busca desesperada de um atendimento para o filho. "Eles telefonam, falam que viram o site na internet, perguntam quanto cobra. Quando falo que é gratuito, ficam desesperados em vir. Há outras entidades no país, nenhuma da AMA, que cobram até R$1800 por mês. É o preço de uma faculdade de medicina e muitas vezes sem nenhuma eficácia comprovada," afirma.
"Caso o pai queira colaborar, ele pode ser um doador espontâneo, mas não é obrigado, como nós temos muitos que ajudam aqui em Paraíso, que contribuem com a gente mensalmente através do Banco do Brasil. Nós nos mantemos também com a vendas das verduras cultivadas na horta e do bazar de roupas usadas," comenta.
Cida conta ainda que seu projeto para 2003 é trazer para Paraíso, o orientador da entidade Ivan Roberto Capelatto, da cidade de Campinas. "Ele já esteve aqui em Paraíso umas quatro vezes, inclusive deu palestras no Clube Paraisense, no Ouro Verde, no Colégio das Irmãs e sempre foi muito aplaudido e bem recebido. No ano passado, eu não tive condições de trazê-lo, por falta de verba, de repasse da Prefeitura e por uma série de problemas pessoais. Eu também quero trazê-lo aqui para uma palestra dirigida à população paraisense.
A presidente da associação de pais salienta que precisa ampliar o atendimento da entidade. "O pessoal de fora está vindo muito para cá, eu estou sem vaga, sem espaço para mais três famílias que pretendem vir de Belo Horizonte, de Ouro Preto. Já houve uma época em que a população era mais curiosa, ajudava mais, hoje a vida está difícil, a gente tem menos colaboradores, mas ainda tem quem nos ajude," fala.
Para quem quer colaborar com a AMA, boas alternativas são a banca de verduras e o bazar de roupas usadas da entidade. "O bazar é permanente. Nós oferecemos roupas de diversos tipos, todas doadas. Vendemos a preços criteriosos e módicos, mas roupas boas. O pessoal tem colaborado e a gente espera mais colaboração, por estarmos numa época de colheita de café, vende bem mais. Também temos a horta. A gente vende segunda, quarta, sexta e sábado na porta da biblioteca. São produtos orgânicos, sem química, porque é adubado com produtos naturais e regados com água tratada da Copasa. É um produto muito bonito, vendemos barato, a partir das 08:30 h.", diz.
Cida salienta que sem o apoio do povo nada seria possível. "Gostaria de agradecer a todos que acreditam na gente, no nosso trabalho e colaboram conosco através do bazar e adquirindo os produtos da horta. Gostaria que principalmente, em relação às verduras, procurassem mais. Além delas estarem fazendo bem para a AMA, estarão fazendo bem para si mesmas porque são alimentos saudáveis. Além de sermos a única entidade para autismo em Minas Gerais, somos também um exemplo de luta de perseverança," concluiu.