As seguidas baixas na cotação do preço do café estão fazendo com que muitos produtores pensem em mudar de atividade. Quem tinha a esperança de uma reação no mercado, na sexta-feira, 20, levou mais um balde de água fria, com o preço bruto da saca de café de primeira qualidade sendo comercializada a R$145,00, por conta de uma queda de 55 pontos na Bolsa de Nova York. Na véspera já havia caído 200 pontos e a saca que chegou a ser comercializada na casa dos R$160,00 - valor bruto para o produtor no início da semana, despencou para R$145,00.
Produtores ouvidos pelo Jornal do Sudoeste mostravam-se propensos abandonar a atividade, desfazendo-se de suas lavouras. "Os pequenos produtores são os mais prejudicados", disse um deles, ao lembrar que no ano passado muitas lavouras já foram abandonadas por completo, sem contar as que não receberam tratos culturais necessários para a safra em fase de colheita.
A explicação para o desânimo, produtores têm na ponta do lápis e de pronta resposta. Adubos, defensivos, combustível e mão-de-obra tiveram aumentos assustadores, enquanto o preço do café sequer se manteve.
Na véspera da Agrishow realizada em Ribeirão Preto, criou-se uma expectativa de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua visita àquela feira iria anunciar medidas que pudessem aquecer a cafeicultura. Produtores acabaram ficando decepcionados e os preços de garantia anunciados pelo governo R$190,00 para o mês de setembro e R$195,00 em dezembro, estão longe do esperado.
Em pronunciamento na Câmara dos Deputados durante o grande expediente, quarta-feira, 18, o deputado Carlos Melles fez uma longa exposição do problema vivido pelos cafeicultores. Iniciou afirmando que "quem despreza os ensinamentos da história corre o deliberado risco de cometer os erros do passado. Vivemos hoje as conseqüências de erros que se têm repetido ao longo de décadas e de séculos. Erros pelos quais, mais uma vez, o Brasil e o mundo enfrentam uma nova velha crise do café, um produto que não tem só significado econômico, mas também tem uma parte humana e social".
Melles disse que nos últimos três anos o Brasil chegou ao seu mais baixo valor dos últimos 30 anos na cafeicultura. Segundo o deputado, nos últimos 5 anos o país perdeu 4 bilhões de dólares na exportação de café. "Essa é uma crise que afeta de forma dramática justamente os mais pobres. São 25 milhões de pequenos agricultores ao redor do mundo, e com eles seus agregados, perdendo fonte de renda; famílias dispondo de suas terras e, com elas, a sua única fonte de sobrevivência", enfatizou.
O deputado chamou a atenção do governo para a responsabilidade do Estado em relação à cafeicultura. "Insisto em que o Brasil e o governo brasileiro precisam adotar firmemente a atitude de defesa do café, postura que tem o apoio de seus parceiros internacionais, e os países produtores já cobram o Brasil nesse sentido". Ao concluir disse deixar também uma dúvida ou cobrança questionando se "permanecerá a cafeicultura e cafeicultores lutando sozinhos em defesa do Brasil, sem a participação ativa do governo".
Há risco de quedas no preço até o final do ano
Após ter obtido uma safra recorde em 2003, cafeicultores de São Sebastião do Paraíso e região demonstram uma certa apreensividade em relação ao comportamento do mercado exterior. A nova política econômica do presidente Lula contribui para melhorias no futuro, porém atualmente, segundo Marlon Braga Petrus, gerente de mercado externo da Cooparaíso, o momento é de buscar segurança ao invés de lucros exorbitantes.
Em relação à safra pequena produzida este ano, Petrus afirma que era de se esperar melhores preços, devido à falta imediata de café de qualidade, principalmente o arábico. "Mas, se analisar só esse fato, seria para haver melhoras nos preços, porém é necessário analisar outros pontos, como o fato da safra do ano passado ter sido uma das maiores da história. Este café foi todo vendido no ano passado. O fluxo de embarque para Europa e Estados Unidos foi muito grande e isso abasteceu os torradores, eles têm estoque suficiente até mais ou menos o início do mês de agosto," explica.
O gerente de mercado externo conta ainda que, por ter estocado a enorme quantidade de café produzido no ano passado, os torradores internacionais estão abastecidos, posto que compraram a menores preços devido à maior oferta do produto. "Por esse motivo, não tivemos um reflexo no preço do café, apesar da quebra de safra deste ano," comenta.
Segundo Petrus, uma boa mudança no setor cafeeiro foi possível com a implantação do leilão de preço de garantia do produtor. "Como o cafeicultor pôde ver na última quarta-feira,11, teve a primeira parcela do leilão e o produtor pagou em média R$5 para ter o direito de vender o café em setembro a R$190 e em dezembro a R$195. O mesmo leilão feito em agosto do ano passado foi um sucesso, então repetiram este ano agora e foi fácil de provar para o governo Lula que esse plano é suficiente para manter os preços do ano passado. Se não tivesse acontecido este leilão em 2002, poderíamos ter preços mais abaixo do que estão atualmente," nota.
Para Petrus, é importante que o produtor tenha consciência. "Ele deve comparar sempre o mercado com o custo de produção. Por exemplo, se o produtor teve um custo de produção de R$150 e chegou à conclusão de que 10% de lucro é suficiente, então é melhor não desperdiçar a oportunidade. Já vimos várias vezes acontecer o seguinte: o preço do café subir, o produtor ter lucro e no lugar de vender o café, ele segura esperando que o preço suba mais ainda. É importante ser disciplinado, tem que saber qual o custo e quanto quer ganhar," acrescenta.
Risco de cair ainda mais
O gerente de mercado externo afirma que ainda há risco de maiores quedas principalmente para o final do ano e começo de 2004. "Até agora não teve uma frente fria que trouxe risco para a Cefeicultura, então a gente tem que ser consciente que a única coisa que podia causar uma alta nos preços seria uma geada. Por outro lado, o produtor tem que torcer para não acontecer isso, porque ele vai ter 2 anos de safra baixa, este e o ano que vem. Sem essa eventualidade de geada ou seca, podemos ter uma produção razoável de venda sem aumento de preços e sem prejuízos para safras futuras," explica.
"Os preços ainda podem cair em 2004. Este ano não porque com essa safra, os torradores estão abastecidos, mas não vamos ter como colocar uma grande quantidade do produto no mercado que deixe os torradores, principalmente europeus, numa situação confortável. Em dezembro, a gente tem a produção da América Central, México e Colômbia que começam a vender a safra com fluxo no último mês do ano. Os países produtores começam a abastecer de novo os países consumidores," ressalta Petrus.
Esse quadro é preocupante, devido à perspectiva de uma baixa produção no próximo ano novamente. "O produtor tem que prestar atenção porque pode ocorrer agora um curto prazo uma melhora de preço porque tem o leilão e também esse novo capital que saiu para o produtor. É bom ficar atento caso haja uma melhora de preço a curto prazo, o que é quase certo. Relacionar bem o custo de produção, mais o lucro. Sempre ter que ser aproveitado o custo de produção e a margem de lucro que para ele é razoável, porque a previsão é de queda de preços para o fim do ano e 2004," concluiu.