Em termos nacionais, a exportação de couro em vários estágios de industrialização teve um crescimento de 17% durante o primeiro trimestre de 2003 se comparado ao mesmo período do ano anterior. Por outro lado, o setor calçadista teve uma diminuição de 12% das exportações no mês de abril em relação ao mesmo período do ano anterior.
Analisando o comportamento do mercado em relação a exportação de couro, empresários do ramo de todo o território tem se mostrado insatisfeitos com o desempenho obtido pelo setor nos últimos 17 anos. Explica-se. Apesar do faturamento estar indicando uma modesta melhora em 2003, ainda não é condizente com a realidade e capacidade de produção do Brasil. O maior problema, segundo a Abi-calçados, Associação Brasileira de Indutrialização de Calçados, é o baixo preço pago no couro exportado em estágio wet blue, (semi-acabado) cujo as raspas são utilizadas para enfeitar as ruas em dia de procissão de Corpus Christi.
O preço pago em um quilo de couro neste estágio de industrialização é US$2,15 enquanto a mesma quantidade quando vendida na última fase, com acabamento, é US$13,26. Por este fato, conclui-se que em 2003, 10,9% de couro acabado representam, em valor, praticamente o mesmo que os 67,6% de couro wet blue.
Dados preliminares do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior apontam que a exportação do couro registrada em abril foi de US$89,5 milhões em 2003, contra US$ 81,4 milhões em abril de 2002. Em termos percentuais o aumento foi de 10% .
Países pobres como o Brasil, carentes de emprego e receita cambial, com graves problemas sociais, não podem abdicar de suas vantagens comparativas e estratégicas. Ao se exportar couro semi-acabado a baixos preços, o Brasil só perde. Transferem-se emprego e renda para países de economia mais sólida e saudável. Atualmente o país produz cerca de 34 milhões de couro bovino, sendo que um terço deste total é comercializado no estágio de menor valor agregado. Nos anos 70 e 80, as exportações deste tipo de couro eram contingenciadas e não ultrapassavam a 5% da disponibilidade total.
A partir dos anos 90, com a desorganizada abertura do mercado, sucedida por políticas, principalmente no campo tributário, que inviabilizaram a indústria manufatureira no Brasil, que se transferiu para a China, houve um verdadeiro desastre nacional, pois o Brasil está exportando wet blue por preço inferior ao valor do couro verde pago aos frigoríficos.
Reformas do Governo Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo especialistas da área de exportação de couro, parece, ao que tudo indica, interessado em promover reformas estruturais. Para por fim à guerra fiscal, Lula deve implantar uma regulamentação federal conferindo mais transparência sobretudo na disputa por investimentos empresariais. Espera-se vedar isenções, reduzir base de cálculo, concessão de créditos presumidos, e incentivos fiscais que resultem em renúncia de receita.
Em termos de São Sebastião do Paraíso, o presidente do Sindipeles, Sindicato que atua no Estado de Minas Gerais, Wellington Mumic, afirma que a situação do município não é diferente da presenciada no restante do país. "O mercado está parado e a realidade muito aquém do esperado. Houve melhora de vendas, mas era para estarmos numa situação muito melhor. O mercado necessita de incentivos, porque como Paulo Maluf falou, só os bancos é que estão ganhando dinheiro," acrescenta.
Mumic comenta que ainda é cedo para opinar sobre as reformas, mas se diz pessimista. "A política adotada por Lula é bem aquém do que estávamos esperando, porque aumenta a carga tributária ao invés de diminuir. Mas, ainda não temos um parâmetro definido," explica.
SETOR CALÇADISTA
Ao contrário do setor coureiro, que mesmo tendo um mercado limitado, devido à baixa industrialização e preços muito menores do que a realidade de outros países, acabou por ter um desempenho positivo no primeiro trimestre do ano, o setor calçadista obteve uma queda significativa de 12%.
Em comparação com abril do ano passado, as fábricas de calçados brasileiras exportaram US$113 milhões, contra US$128 milhões do mesmo período no ano anterior. Os dados, ainda preliminares, são da Abi-calçados, com suporte da Secretaria de Comércio Exterior. A queda não é surpresa para os exportadores, que já esperavam o declínio devido à redução do consumo de calçados em nível mundial, principalmente nos Estados Unidos. O resultado de abril é decorrência dos negócios efetuados em fevereiro e março, período de ameaça e invasão ao Iraque.
A Abicalçados mantém a expectativa na recuperação da cotação da moeda nos próximos 30 a 40 dias, imaginando que neste prazo a moeda americana volte ao patamar de R$3,30 a R$ 3,40, valores considerados adequados para a normalidade das exportações brasileiras de calçados. Conforme manifestações anteriores da entidade, os atuais níveis de cotação do dólar prejudicam seriamente a composição de preços do produto e podem, em caso de não recuperação, afetar gravemente o desempenho exportador do setor.
"Posso afirmar que este primeiro semestre não chegou a ser negativo, mas houve um déficit de 8% que ocorreu devido à variação cambial, que de R$3,80 caiu para R$2,90. Creio que no próximo semestre, a situação melhore para o setor. Nosso principal cliente é o Estados Unidos, haja visto que neste início do ano o país passou por várias adversidades como a guerra contra o Iraque, nós já esperávamos esta queda percentual. Contudo, já estamos nos preparando para uma retomada na exportação para os próximos meses e estamos confiantes no Governo Lula, que ainda não teve muito tempo para mudar a situação atual das empresas do ramo no Brasil," concluiu o gerente de exportação de calçados, Leandro Oliveira.