Em convênio firmado no ano 2000 com o Ministério da Saúde, a Santa Casa de Misericórdia de São Sebastião do Paraíso apresentou e iniciou as obras do Hospital do Coração, projetado para ter a parte ambulatorial, de internação, cirúrgica e UTI, num total de 5 mil metros quadrados de área construída. "Hoje, três anos depois, a obra se encontra numa fase bastante adiantada, entretanto nós vamos ter que fazer uma reavaliação, porque os recursos provenientes do Ministério da Saúde foram insuficientes," afirma o provedor da entidade filantrópica Glauco Joaquim Rosa de Figueiredo.
Conforme comenta Dr. Glauco, em 2000 o dólar estava cotado no mesmo valor da moeda brasileira, contudo, nesse meio de tempo ocorreu uma defasagem significativa, triplicando o valor da moeda americana, o que encareceu muito os materiais de construção utilizados na construção do Hospital. "O saco de cimento estava saindo por R$6 em 2000, hoje custa R$18, o que reflete o triplo do preço. Em termos de porcentagem, posso afirmar que 50% da obra está conclusa, mas falta o acabamento e é por isso que iremos precisar de uma complementação por parte do Ministério da Saúde, que por enquanto não está liberando verbas para nenhuma construção em todo o país," comenta o provedor.
Da verba em torno de R$5 milhões que a Santa Casa recebeu para construir e equipar o Hospital do Coração, cerca de R$1.4 milhão já foram gastos na construção do espaço físico do prédio que ocupa o terreno nos fundos da Santa Casa.. "Agora nós vamos fazer um novo projeto, visando uma complementação para o término da obra. Precisamos mais ou menos da mesma quantidade que já foi gasta para conclusão dos prédios. O restante da verba está destinada para aparelhagem e não pode ser desviada para este fim. Para esses equipamentos será um novo processo, justamente por causa dessa inflação e do dólar que provocou esta defasagem," diz.
Glauco afirma que a Santa Casa está atravessando uma fase difícil. "Há cerca de 5 anos que o SUS não realiza reajustes no valor de tabela pago por um atendimento. Para se ter uma idéia, um parto custa R$900 e o SUS paga somente R$300. Existe uma defasagem aí de R$600. Por uma diária na UTI, o Sistema Único de Saúde paga R$142, mas se o paciente utilizar oxigênio ininter-ruptamente durante 24 horas, só de oxigênio vai em torno de R$300, fora os outros gastos como medicação. Tudo isso porque a inflação nesse meio de tempo aumentou bastante e a linha de reajuste para atendimento não acompanhou este aumento," argumenta.
Para reivindicar um reajuste na tabela de pagamentos e discutir outros pontos críticos da saúde pública no Brasil, o deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Saúde -FPS, Rafael Guerra, realizará no auditório da Câmara dos Deputados em Brasília com a presença de dirigentes mineiros, uma série de palestras, seguidas de debates sobre a questão grave vivida pelos hospitais do País. Durante o evento, que será realizado nesta quarta-feira, dia 6, os organizadores do Movimento pela Utilidade Pública na Saúde e os deputados da FPS vão aprovar e divulgar um documento conjunto que espelhe a real situação das instituições hospitalares. "Está tendo um movimento nacional para ver se o governo promove um reajuste, caso contrário os hospitais vão fechar. A grande maioria dos hospitais estão endividados. A DataSUS está em greve, nós não sabemos como é que vai ser, porque é ela que processa todo o pagamento," comenta. Atualmente a Santa Casa realiza em torno de 600 internações, onde cerca de 60 a 80% delas são feitas pelo SUS, sendo as restantes através de convênio. "Todos os hospitais estão passando por uma situação difícil.
Teve uma Santa Casa de uma cidade do interior que foi leiloada para poder pagar as dívidas, por isso estão fazendo um movimento grande contra o SUS," acrescenta.
Sem previsão para instalar Centro de Oncologia
Falta de recursos financeiros e proximidade a alguns centros de tratamento de câncer foram as justificativas do Ministério da Saúde para não aprovar o projeto da Santa Casa de Misericórdia de Paraíso que visava construir uma unidade de tratamento nesta área, junto ao Hospital do Coração. "Todas as obras no Brasil estão paralisadas. Em Passos já foi credenciado o serviço de quimioterapia, há tratamento também em Ribeirão Preto e Barretos . Por enquanto nosso projeto está parado. Nós recebemos um comunicado que todas as obras estão paralisadas," acrescentou o provedor.
""O Hospital do Coração é uma obra vultosa e de grande importância aqui para a cidade, porque vai atender toda a região. O deputado Carlos Melles é quem tem intercedido, lutado e trabalhado muito pela Santa Casa. A gente está tendo reuniões com uma certa freqüência. Por enquanto nós estamos aguardando este término dos recursos para fazer um novo projeto de complementação. O Hospital já está coberto e o que falta é mais a parte de acabamento. A liberação dessa complementação é que nós vamos pedir," completa.
Para conclusão do hospital, Glauco se diz empenhado em buscar novas alternativas. Tendo já colocado dinheiro da Santa Casa na construção do prédio, o provedor procura ver outras saídas para resolver o problema. "Nós vamos precisar da colaboração da comunidade, precisamos da cooperação de todos e ainda deveremos realizar algum evento para que possamos finalizar o Hospital do Coração, porque infelizmente não há previsões de quando será liberado algum recurso do Governo Federal," concluiu.
Elezângela de Oliveira