O professor da Universidade Federal de Viçosa- UFV, Alemar Braga Rena,. doutor em Fisiologia Vegetal, tendo trabalhado por cinco anos na Epamig, ministrou a palestra "Aspectos Nutricionais na Produção e Qualidade do Cafeeiro" na última semana em Paraíso. O evento, que aconteceu às 19:30 h, na quinta-feira 14, foi realizado no auditório da Cooparaíso.
O professor levantou pontos polêmicos da cafeicultura, procurando mostrar para técnicos e cafeicultores alguns aspectos básicos da fisiologia, da nutrição do cafeeiro, removendo alguns dogmas e adicionando outros, mostrando o que está acontecendo de mais moderno na cultura do café.
"É triste realmente esta queda. A gente já vem falando dela desde 1999, quando eu publiquei um artigo no Coffe Brake, falando das marcas indeléveis da seca no cafeeiro que ficariam por algum tempo e realmente tivemos estes dois anos de seca. Me perguntaram se algum disco voador tinha me falado isso ou se apenas imaginei que fôssemos ter. O cafeeiro está bastante sofrido e todo ano que produz um pouquinho mais, o café que produz vai chochar mesmo. Ele não tem uma árvore radicular adequada para absorver, nem água e minerais para abastecer e reter folhas, fazer foto síntese e assim por diante. Isso parece ruim, mas é bom também porque o cafeicultor que ainda está agüentando vai ganhar com isso.
Eu acredito que a safra deste ano, estimada em 32 milhões de sacas não passe de 25 milhões. Isso é conversa para boi dormir", argumenta.
A coisa mais importante a ser feita pelos produtores, segundo professor Rena, é adubar o café no momento certo. "E o momento de fazê-lo é nas primeiras chuvas de setembro, não lá para outubro ou novembro como a turma costuma fazer por aí. E o mais rápido possível, para fazer folha. O produtor não pode esquecer do seu café, das pulverizações, não esquecer que o ano que vem pode ser que não tenhamos preços melhores, mas não vão ser piores dos que estão aí, que não estão tão desgraçados. Temos café a R$180, R$190 sendo vendidos recentemente. Eu acredito que pode passar dos R$200. Já os anos de 2005 e 2006 vão ser anos fantásticos para o cafeicultor. Vamos ter bons preços, dado ao quadro geral de desastre nacional que está o café atualmente", diz.
Sobre 2004, o professor acredita que a situação não será muito diferente da que aconteceu este ano. "Vocês estão vendo a seca que está aí de novo. Isso é um fenômeno mundial que não ocorre só no Brasil. Basta ver o que está acontecendo na Europa, onde o clima está todo doente. Tem gente morrendo de calor. Os rios estão secando, os incêndios aumentando. O panorama mundial, e isso não é nem devido ao homem, está passando por variações cíclicas. Particularmente, são só variações cíclicas climáticas e nós continuaremos tendo com El Niño e El Niña. Vamos ter seca daqui para a frente. Podem preparar água para irrigar café. É engraçado, a água está cada vez mais escassa, e o produtor vai ter que conseguí-la para colocar no café", salienta.
Favorável aos sistemas mecanizados de irrigação, o professor conta que a disseminação do recurso está acontecendo gradualmente. E afirma: "Em 1986, se eu tivesse irrigado de qualquer jeito, a qualquer preço a minha lavoura, eu teria pago tudo só naquele ano, porque eu vendi café a U$$300 que correspondem a U$$700 hoje. Nós estamos vendo a seca constante há mais de cinco anos, mesmo onde nunca se pensou em irrigação, agora já começa a se pensar", afirma.
Um dos motivos que também desanima o produtor é a baixa renda do café após o beneficiamento, que sofre uma queda na quantidade de grãos. "Essa diminuição se deve ao seguinte: se choveu dezembro e janeiro bem, o grão cresce. O lóculo para fazer a semente está aberto e tem que encher. Para encher, você precisa de folha fazendo fotossíntese e produzindo carboidratos. Se há uma seca em fevereiro, como nós tivemos, a fotossíntese cai e em março que é época de granação, de enchimento, isso não ocorre. Aí você tem um café meia massa, café conchinha, grão negro ou café duro, com o lóculo vazio", nota.
Aos cafeicultores em geral, professor Rena aconselha zelo com as plantações. "Há várias ferramentas que podem ser utilizadas. Durante a implantação da lavoura, é bom o uso adequado de calcário e gesso nas covas. Agora, evidentemente, quem tem a lavoura já formada, não tem muita alternativa. Tem é que rezar mesmo para que São Pedro mande chuva", concluiu.
Elezângela de Oliveira