Poda de árvores é drástica e prejudicial ao clima da cidade, afirma ecólogo

Por: Redação | Categoria: Arquivo | 07-09-2003 00:00 | 1054
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Quem caminha pelas ruas de Paraíso tem notado a poda agressiva de árvores que está acontecendo principalmente nas avenidas do centro. Segundo o ecólogo José Carlos Alves Pinto, o trabalho desenvolvido pela Prefeitura prejudica o clima da cidade e em nada soluciona os problemas de infra-estrutura, posto que com esse tipo de ceifa, os brotos crescem desordenadamente, formando novas copas mais densas que prejudicam ainda mais a rede elétrica e telefônica, além de incentivar um aumento da violência. Formado há 18 anos, José Carlos atualmente é membro do Codema e representante da Cooparaíso no Comitê de Bacias do Médio Rio Grande. "Acho que as podas tiveram duas fases e estão entrando numa terceira, pior do que a primeira. Na gestão do Lair Furtado, as podas eram drásticas, mas não como essa que estão fazendo agora. Depois, houve uma melhora, porque cortavam os ramos, mas deixavam uma copa. Agora voltaram a fazer podas super drásticas e totalmente inadequadas", comenta. Os prejuízos e dificuldades obtidos com o corte radical são muitos, na opinião do ecólogo. "Com essa poda surgem muitos brotos e tecnicamente falando, o que deveria ser feito era uma condução. Por exemplo, para cada galho que foi cortado vão nascer nele dez, quinze brotos, o certo era tirar e deixar dois no máximo por galho. A Prefeitura não fez isso, vai deixar a brotação vir naturalmente porque esse processo acaba ficando um pouco mais caro. Outra coisa que acontece é a perda total da função das árvores nas ruas, porque o objetivo é fazer sombra. A cidade tem clima árido, um aspecto de aridez, misto de ensolação no concreto, no piso asfaltado, muita pedra, a tendência é que haja uma acumulação de calor e uma irradiação desse calor durante a noite. Normalmente as cidades são mais quentes do que o campo. Para recuperar a copa dessas árvores agora vão gastar em torno de um ano", conta. O ecólogo comenta que nas podas drásticas, cada galho que foi cortado irá produzir uma imensidão de brotos com o crescimento livre, criando uma copa disforme e muito densa, com galhos fracos. "O mais interessante é que a Prefeitura vinha fazendo um trabalho melhor de poda no passado e até nessa gestão, quem era responsável por essa parte era o pessoal do Desenvolvimento Econômico, a Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Econômico", diz. José Carlos ressalta ainda a necessidade de um planejamento. "A Prefeitura tem um viveiro municipal e o próprio IEF produz mudas lá no Parque da Serrinha. O que tem que ser feito é um planejamento de tal forma que se produza mudas levando em consideração o tamanho da via e da calçada. Isso é de conhecimento público", ressalta. A falta de adequação das espécies ao local em que estão provocam rompimento de calçada, interferindo na estrutura das casas, o que faz a população apoiar a poda. " O próprio morador acha ruim de ter a árvore na frente de casa. Na medida que você trabalha com espécies adequadas, os moradores serão favoráveis e perceberão que a árvore é importante para o clima urbano e também do ponto de vista estético", fala. João Carlos afirma estar desapontado com a atitude tomada pela Prefeitura. "Existe o Departamento de Agricultura dentro da Prefeitura e eles deveriam ser ouvidos nesse caso. Nós, do Codema, oficiamos o diretor Antônio Carlos Arantes e pedimos para ele que dê esclarecimentos do porquê dessas podas radicais. A poda só é justificada no caso de presença de rede elétrica em cima das árvores, fora disso não há porque fazê-la", questiona. Antônio Carlos explica "O que estamos fazendo não é uma poda irresponsável e sim uma das etapas do processo de reurbanização de Paraíso", afirma o diretor geral da Prefeitura, Antônio Carlos Arantes. Segundo afirma, a intenção da Administração Municipal é plantar duas mil novas árvores de porte menor em toda a cidade e gradativamente substituir as árvores atuais. Arantes afirma que os motivos das podas radicais realizadas nos últimos meses são inúmeros. "Fizemos esse corte principalmente por causa da iluminação. Tanto no caso da fiação elétrica e telefônica, como também da segurança. À noite as pessoas que precisam caminhar por ruas muito arborizadas sentem medo de bandidos que possam estar escondidos na escuridão dos troncos ou na copa da árvore", fala. O diretor geral acrescenta ainda que atendeu a pedidos de inúmeros moradores que reclamavam constantemente da presença das árvores. "A maioria queriam que podasse. Há sempre os que são contrários, como o próprio Codema e o Departamento de Agricultura, o que é natural, já que a função deles é defender o meio ambiente. O que acontece é que esse corte de ramos foi mais uma ação administrativa", fala. O setor responsável pelo corte, segundo Arantes, é o de Infra-Estrutura. "Eu pedi ao Codema para que planejassem o plantio. É preciso que eles vejam o outro lado. Vamos eliminar 500, mas para plantar 2000 novas árvores. Eles estão participando e inclusive, consultados. Nosso objetivo maior é plantar novas espécies, não exterminá-las", acrescenta. Quando questionado sobre o porquê de não se cortar totalmente as espécies inadequadas, já que serão retiradas, Antônio Carlos afirmou que este será um processo gradativo, o que não enquadra a retirada total das árvores das ruas. "A gente está fazendo um programa muito maior de reurbanização. Vamos plantar a árvore certa no local correto, mas isso depende do empenho e colaboração de todos", concluiu. Elezângela de Oliveira