Ivan Maldi: A psicologia como instrumento para novas percepções

Ivan Maldi: A psicologia como instrumento para novas percepções

Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 25-08-2018 21:41 | 1520
O psicólogo Ivan Maldi também é membro efetivo da  Academia Paraisense de Cultura, onde ocupa a cadeira 32
O psicólogo Ivan Maldi também é membro efetivo da Academia Paraisense de Cultura, onde ocupa a cadeira 32 Foto: Arquivo Pessoal

O psicólogo, especialista em psicanálise e pós-graduado pela Universidade Federal do Maranhão, Ivan Maldi, é um profissional que acredita na psicologia como uma ferramenta para a melhora da qualidade de vida e interação social entre os indivíduos. Inclinado às artes, principalmente a escrita, ele destaca que esta pode contribuir tanto para o desenvolvimento do indivíduo quanto para o desenvolvimento do sujeito e como ele se percebe no mundo. Filho de Ismar Maldi e Luzia Donizetti Maldi, Ivan tem dois irmãos, o cirurgião dentista Iran Maldi e o fisioterapeuta Jean Maldi. Aos 33 anos, Ivan divide seu tempo entre Paraíso, onde vive, e Pratápolis, onde realiza atendimentos em sua clínica.

Jornal do Sudoeste: Como foi sua infância e a fase de escola? Era bom aluno?
Ivan Maldi: Minha infância foi muito boa. Sobre a escola, sempre gostei muito de estudar. Lia os livros. Na época da faculdade gostava de ler o material complementar para ampliar os conhecimentos. Estudei na Escola Técnica de Formação Gerencial, local que muito aprendi e guardo muitas recordações boas. Os professores falavam que eu era bom aluno. Gosto e tenho prazer em estudar. 

Jornal do Sudoeste: Quando terminou a colegial, porque decidiu estudar psicologia?
Ivan Maldi: Penso que a psicologia e a psicanálise permitem a compreensão de como agimos e isso me fascina: tentar entender, saber o porquê das coisas, como elas interagem e acontecem. A psicanálise é maravilhosa, quando Freud nos fala da importância de trazer do inconsciente para o consciente. Através da análise conseguimos compreender melhor porque agimos de determinada maneira. É um mergulho dentro de nós mesmos. Uma busca por nos conhecer. É uma caminhada, um percurso.

Jornal do Sudoeste: Como foi esse processo de formação enquanto psicólogo e quais foram os principais desafios durante enfrentados por você durante esse processo?
Ivan Maldi: O principal desafio que propus a mim foi cursar uma pós-graduação em uma Universidade Federal. Seguir a metodologia científica, coisa que não é fácil, mas é maravilhoso quando você colhe os resultados, ainda mais quando o seu TCC é publicado. Penso que os desafios são muito importantes, ainda mais quando os superamos. A pesquisa científica nos possibilita perceber de outra forma, tanto na observação dos fatos, análise ou verificação e, fundamentalmente, na execução de um plano de ação muito bem montado. É extremamente organizado e articulado. Penso que precisamos nos manter nos estudos, pois estamos sempre aprendendo algo novo.

Jornal do Sudoeste: Você já se imaginou exercendo outra profissão?
Ivan Maldi: Eu gosto muito do que faço e isso ajuda muito. Devemos ter um engajamento social, uma busca por melhorias na qualidade de vida da sociedade. Nos meus escritos busco inserir uma reflexão de como e o que podemos fazer para melhorar o lugar em que estamos. Colocar em prática o aprendizado recebido. O psicólogo tem um campo muito vasto, você pode trabalhar em vários locais, como empresas, clínica, hospital, orientação vocacional, escola, promoção de saúde nas unidades básicas de saúde com atendimentos em grupos com a finalidade educativa.

Jornal do Sudoeste: Qual a importância da psicologia para os tempos atuais?
Ivan Maldi: A psicologia contribui de forma significativa para os tempos atuais. São pesquisas científicas que trazem respostas a questionamentos. Ajudam no planejamento de políticas públicas, como inclusão social, igualdade de gênero e raça, empoderamento da mulher, valorização do idoso, etc. Esse trabalho auxilia a uma melhor qualidade de vida e integração social. É um trabalho de reconstrução social, onde a psicologia contribui de forma positiva ao mostrar os fatores observados, embasados em pesquisas científicas recentes. É muito bonito acompanhar este desenvolvimento, de ver a psicologia colhendo os frutos de seu trabalho. Lembrando que 27 de agosto é o dia do psicólogo. 

Jornal do Sudoeste: Ainda existe certo preconceito, por parte da população, em buscar um profissional da psicologia para lidar com seus conflitos?
Ivan Maldi: A psicologia tem mostrado o seu trabalho. Principalmente quando exibe o referencial e embasamento científico. Estamos pautados nesta referência, que busca a promoção de saúde pública, que seria a melhoria da qualidade de vida das pessoas, tanto no aspecto físico, social, psicológico, etc. A escuta do psicólogo é pautada na análise e avaliação, para então, fazer uma intervenção. Há um critério, um rigor científico a ser seguido. Muitas pessoas têm se beneficiado do atendimento com psicólogo, quando percebem que estão sendo beneficiadas pelo atendimento psicológico, reagem e vivem de outra maneira. 

Jornal do Sudoeste: Atualmente fala-se muito na depressão como a “doença do século”. Como você encara isto?
Ivan Maldi: De forma geral, penso que precisamos rever nossos valores. Vivemos voltados para a questão do consumismo, e isso gera um vazio existencial. Esquecemos a questão emocional, de amar e ser amados. Contudo, há vários fatores que interferem na doença, como o social, econômico, familiar, e temos a questão singular, aquilo que é próprio do sujeito e que não necessariamente é compartilhado, como aquela frase “ninguém é igual a ninguém”. Para uma melhor compreensão dos motivos que levam a depressão seria interessante passar por uma avaliação psicológica. Devemos pensar que o motivo que aflige João nem sempre incomodará Maria, e o que deu certo para Sebastião nem sempre dará certo para José. As pessoas são singulares. 

Jornal do Sudoeste: Em Paraíso, fala-se muito em alto índice de suicídio. Enquanto profissional da psicologia, a que você atribui esta causa?
Ivan Maldi: Poderíamos falar de vários fatores, como foi falado na questão anterior. Acredito que deveríamos refletir o que podemos fazer para melhorar o lugar em que estamos. Às vezes, coisas simples podem mudar a vida das pessoas, é um bom dia, ajudar o idoso a atravessar a rua, ter mais paciência no trânsito, não jogar lixo na rua, entre outras questões. São pequenos detalhes que fazem toda diferença. Podemos e devemos começar em casa com a nossa família e amigos. Quantas vezes por causa do trabalho esquecemos-nos de dedicar um tempo para quem está próximo. Não seriam horas, seriam instantes de atenção. E podemos pensar: como vou receber atenção se eu não dou atenção? Como o outro vai olhar nos meus olhos, se eu não olho no olho dele? Para receber amor é preciso dar, pois ninguém da o que não tem.

Jornal do Sudoeste: Você também é muito inclinado ao ramo das artes. Escrever é uma paixão para você?
Ivan Maldi: Gosto muito da escrita, principalmente no aspecto simbólico. Do significado que tem o significante, mas o sujeito pode subvertê-lo, como uma garrafa pet pode virar um vaso ou resignificar outro objeto. Do significado que representa vários significantes ao percorrer a cadeia metonímia. Dos vários signos compartilhados pela sociedade perante a um mesmo representante, a mãe para Maria pode não ser a mesma para João, perante a polissemia. A singularidade do sujeito, aquilo que é intrínseco, inerente ao ser e permeado no coletivo. Algo concreto é a manga da camiseta ou a fruta que comenos, mas o simbólico é a representação que eu faço da manga,  através da materialidade da língua. Não há manga, mas imaginamos ao ser falado. E nessa busca de sentido, o sujeito se faz e refaz. Acho maravilhoso isso.

Jornal do Sudoeste: Podemos dizer que arte também contribui para um “bom psicológico”? 
Ivan Maldi: Há profissionais que usam a arteterapia como uma ferramenta de trabalho, onde o paciente se expressa através da arte. Como crianças que fazem desenhos de sua família ou mães que realizam trabalhos manuais como artesanato. A criação do sujeito seria uma forma alternativa onde expressaria significados abstratos através das cores, formas, etc.. O mais importante é que o sujeito verbalize o que sente. O acompanhamento do psicólogo durante a criação que faria aporte para trazer conteúdos inconscientes para a consciência, que sozinho não conseguiria. 

Jornal do Sudoeste: Como você encara o cenário cultural em São Sebastião do Paraíso?
Ivan Maldi: Devemos valorizar e pensar na importância da cultura e seus benefícios. Não em curto prazo, mas a longo. Quando mais o sujeito estuda ou lê, maior é sua capacidade de articular-se perante o ambiente em que vive, além de prevenir ou atrasar a chega de doenças mentais degenerativas. Esta estimulação sensorial que a arte produz em seus vários tipos, auxiliar na aprendizagem, como diferenças de cor. A dança auxilia no desenvolvimento motor, que seria musculatura e localização espacial, ou seja, a criança que pratica dança tende a se esbarrar menos nas coisas devido a uma maior força muscular, melhor compreensão espacial e realiza um percurso melhor, então, o psicólogo percebe o sujeito como biológico, social... Há vários fatores que podem interferir na estrutura psicológica. 

Jornal do Sudoeste: Você tem planos para futuro? Quais?
Ivan Maldi: Penso em escrever um livro. Continuar estudando, tenho muitos livros para ler. Comprar uma chácara próxima à cidade, com uma casa rodeada de um gramado muito bonito, para acordar com o canto dos pássaros, seria oportuno para contemplar a bela vista da natureza e sentir o ar puro. O atual momento que estou vivendo tem sido muito bom, quero aproveitar ao máximo e tenho vontade que não termine. A vida é feita de coisas simples que nos fazem muito bem. Um sorriso, um bom dia, são coisas tão pequenas, mas que tem grande significado. Precisamos fazer planos de encontro, de família unida, planos simbólicos, abstratos.

Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz da sua caminha até o agora?
Ivan Maldi: Tenho feito uma caminhada muito bonita. Acredito que estou em um dos melhores momentos da minha vida. Dizem que a beleza está nos olhos de quem vê. Penso que as rosas têm espinhos, mas sou teimoso em querer ver a beleza e sentir o perfume brando e suave da rosa, que chego a esquecer dos espinhos pelo charme da flor. É preciso seguir em frente na vida e perceber a belezas é algo que nos ajuda. Devemos pensar o que tem de bom na vida? Pois vemos mais as coisas ruins do que as boas.