ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 29-08-2018 20:13 | 965
Foto: Reprodução

DIÁSPORA
Muitos amigos estão indo embora do país, e o assustador é que muitos deles não se prendem a qualquer perfil de “exilados econômicos”, os mais pobres e sem profissão rentável ou capacitação profissional que lhes permita um lugar ao sol brasileiro. Não. Estou falando de médicos, advogados, juízes, empresários. Todo mundo indo embora. Ficaram cansados de esperar pelo país do futuro que nunca chega, dos bacharéis que não conseguem virar doutores com alguma dignidade, exibindo canudos com diplomas que apenas servem para posar nas fotos de formatura. Pais e mães de família que não têm mais dinheiro para educar filhos em redomas de vidro, apopléticos pela violência das drogas que domina as ruas das cidades. A classe média que descobriu os condomínios fechados em que a verdade, no entanto, escapa: não há mais exclusividade alguma, segurança alguma, diante do caos. Mesmo os pagadores de escolas particulares descobriram que vivemos em uma nação com os piores níveis de educação regular do mundo, e por isso nem de nação pode ser chamada. É a gente que viu a medicina privada dos convênios de saúde se igualar ao SUS, e o SUS pagar tudo e ainda assim não agradar ninguém. Somos aqueles que aprendemos de mansinho e desde cedo a fazer a nossa parte, e descobrimos que a nossa parte pode não valer nada.

DIRCEU E LULA
Algum jurisconsulto, algum arguto observador do mundo jurídico, pode me explicar qual a diferença entre os julgamentos dos Habeas Corpus de Lula e José Dirceu? Porque eu não entendi – e olhe lá que já são vinte e cinco anos de janela, a maioria deles como magistrado.  Acompanhem meu raciocínio. Lula e Zé Dirceu foram condenados em processos semelhantes pelo juiz Sérgio Moro, condenação esta confirmada pelo mesmo TRF4, instância revisora. Ou seja, a condenação de ambos à pena reclusiva, à cadeia, foi confirmada por um colegiado de juízes, exatamente como comanda o STF e para que se possa executar a partir de então a condenação em todos os seus efeitos e reflexos. Ambos apresentam recursos que, no entanto e em tese, não possuem o efeito de suspender os rigores da pena. Para tentar aguardar em liberdade aos julgamentos derradeiros, ambos impetram habeas corpus em momentos distintos, mas perante o mesmo STF que concede a José Dirceu soltura à espera do desfecho de sua ação penal. Lula, no entanto,  não é alforriado da mesma forma. Não se está defendendo este ou aquele pronunciamento de nossa mais excelsa corte de justiça, o que se está buscando é alguma coerência entre os julgados, alguma jurisprudência remansosa em tempos que, de calmaria e tranquilidade, nada possuem.

LÍDER NAS PESQUISAS
O Brasil que vai votar mostra a sua cara colocando no primeiro lugar das pesquisas eleitorais um candidato que, sabem todos, jamais chegará a concorrer nas urnas. Deixou uma marionete, um fantoche, um títere chamado Fernando Haddad em seu lugar, e manobra seus cordéis dentro de uma cela confortável enquanto assiste futebol e recebe visitas ilustres. Lula está na dele. Não é dele a bronca. Está como queria: sendo vítima e mártir, ele que poderia buscar asilo político na republiqueta de inspiração comunista que melhor lhe aprouvesse. Mas não. Ou é brilhando no primeiro mundo ou bancando o perseguido em seu país natal que o grande líder petista gosta de ficar, porque assim atrai holofotes com os quais se acostumou após quarenta anos de vida pública. Espanta e assombra, muitíssimo, é ver eleitores se deixarem enganar por essa barganha de recursos e gambiarras para postular uma candidatura que se sabe natimorta, artimanha de um partido destroçado nos tribunais e com as vísceras expostas, moribundo e que, no entanto, não possui a dignidade de abandonar a arena de guerra ideológica que montou em um circo cujos palhaços somos todos nós. Há pessoas que definitivamente não nasceram para a democracia, não estão preparadas para ela e da liberdade política fazem péssimo uso, em detrimento dos cidadãos inocentes e tolos que ainda acreditam nas historinhas de perseguição, golpe e discriminação que apregoam os últimos pseudobaluartes da política honesta, agora desmascarados.

O DITO PELO NÃO DITO.
“ A verdade liberta, mas só depois de acabar com você” (David Foster Wallace, escritor americano).
RENATO ZUPO, Magistrado, Escritor