ELY VIEITEZ LISBOA

Mito e Realidade

Por: Ely VIeitez Lisboa | Categoria: Cultura | 07-09-2018 10:36 | 1022
Foto: Reprodução

A Pedra Filosofal é a fórmula que os alquimistas tentaram descobrir para transmudar metais comuns em ouro. Conta o mito que o homem, obcecado por encontrar tal tesouro, de tudo esqueceu, família, amor, sonhos. Envelheceu na procura. E no final, alquebrado, viu, com surpresa, que seu cinto, as sandálias, tudo virara ouro. Em algum lugar ele tocou na pedra valiosa. Ia tão cheio de ambição que não percebeu. A moral da fábula é evidente. Poder-se-ia ampliar o conceito de Pedra Filosofal, enriquecê-lo. Elas são várias, de diferentes tipos. Há a pedra-amor, a pedra-amizade, a pedra-profissão, a pedra-realização pessoal. Pressupõe-se que a lapidação é ato posterior ao conseguir, achar. Na realidade, não deveríamos lapidar todos os nossos dons? Muito será exigido a quem muito foi dado, pregam os Evangelhos. Assim, os dons mais variados são distribuídos aos seres humanos. Não há escala de valores, não há dons mais ou menos importantes. Na verdade, a sabedoria está em burilá-los, desenvolvê-los; ser grande até nas mínimas coisas. Nada exclui, tudo será computado.

Há termos carregados de sentido. PEDRA é um deles. Semântica riquíssi-ma. Na língua portuguesa (e em outras latinas) há expressões interessantes: pedra de toque _meio de avaliar, aferir, o nó do problema; pedra fundamental _ início; pedra angular _ alicerce; biblicamente também o termo é rico. Há expressões pejorativas: pedra no sapato; pedra de tropeço; pedra de escândalo; com quatro pedras na mão; não deixar pedra sobre pedra; ser de pedra; pôr uma pedra em cima (de um assunto); atirar a primeira pedra (do episódio bíblico); de pedra e cal _muito unido; dormir como uma pedra; tirar leite de pedra; carregar pedras enquanto se descansa (trabalho estafante).

Não se pode falar no termo, sem citar o mito de Sísifo, símbolo do homem rolando persistentemente sua grande pedra, e ela, quando chega ao cume, volta ao sopé da montanha. Nós e a luta renhida para o aperfeiçoamento como seres humanos; isso só é possível, substituindo sonhos.

Não é casual (na vida, na História, nada é) que o Cristo elegeu Pedro: “Tu és Pedro, sobre esta pedra edificarei minha Igreja e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela” (Mateus,16,18).

É portanto correto afirmar que a linguagem é a pedra angular do relacionamento humano, elemento de união ou arma letal. Cabe a nós usar com sabedoria esta dádiva de Deus, assim como o livre arbítrio. Mal usados, viram um presente de grego...

Vieitez Lisboa é escritora. E-mail: elyvieitez@uol.com.br