ENTREVISTA - ELE por ELE

Juvenal Marques: Há trinta anos lutando por seu espaço em Paraíso

“a vida é sempre uma luta”
Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 17-09-2018 11:54 | 2816
Sócio-proprietário da revista Expressão Livre, Juvenal foi um  pioneiro no seguimento de publicidade e propaganda em Paraíso
Sócio-proprietário da revista Expressão Livre, Juvenal foi um pioneiro no seguimento de publicidade e propaganda em Paraíso Foto: Arquivo Pessoal

O empresário Juvenal Marques é profissional dedicado à área de publicidade e propaganda e que construiu seu nome em Paraíso à base de muito trabalho e perseverança. Autodidata, sempre gostou muito de arte e fez disto a profissão da sua vida, em uma época que o mercado de publicidade e marketing era muito carente em Paraíso e a tecnologia ainda muito rudimentar. Durante esses 30 anos de estrada enfrentou muitos autos e baixos, mas nunca desistiu. De família humilde,  natural de São Paulo, construiu sua vida aqui quando se mudou com a mãe, Lídia Marques, onde criou raízes. Aos 48 anos, pai da pequena Monique, de 10 anos, tem o desejo de ainda poder trabalhar muito e continuar enfrentando a vida com muita garra e persistência.

Jornal do Sudoeste: Como foi quando você chegou a Paraíso?
J.M.: Naquela época, tudo era muito diferente do que é hoje. Eu era um moleque bem “cdf”, sempre fui muito preocupado com estudar e comecei a trabalhar muito cedo também. Era da escola para o trabalho e assim por diante. Aqui estudei no Paraisense e no Clóvis Salgado. Quando me formei, não cheguei a ingressar na faculdade, sou autodidata em Publicidade, Marketing e Design Gráfico e, este ano, fará 30 anos que estou nesta área.

Jornal do Sudoeste: De onde partiu essa sua inclinação o universo da publicidade?
J.M.: Desde muito cedo sempre fui muito envolvido com arte e tive aptidão para desenho. Com o tempo, comecei a fazer pintura artística, entalhes e escultura em madeira, sempre voltado para as artes. Já na adolescência, eu precisava trabalhar e queria ter o meu próprio negócio, então montei junto com o Ricardo, meu irmão de criação, uma firma de publicidade que ficava na Oliveira Resende, chamava “Visual Publicidade”. Naquele tempo a informática estava começando, não havia aplicativos gráficos para você trabalhar – pelo menos nós aqui não tínhamos acesso.

Jornal do Sudoeste: Foi um início rudimentar, não?
J.M.: Sim. À época era bem rudimentar e as empresas dependiam de desenhistas. Para se colocar uma foto no jornal ou desenho, por exemplo, tinha que pedir para o desenhista fazer a arte no acetato com nanquim, mandar para outra cidade para fazer o clichê que era encaixado na chapa de tipografia para poder fazer o jornal. Ganhei muito dinheiro nesta época com isso, fazendo desenhos para empresas de estamparia, para gráficas, assim, minha pequena empresa atendia a esta carteira de clientes, fazendo desenhos artísticos para jornais, estamparias entre outros.

Jornal do Sudoeste: Você  foi se aperfeiçoando com o tempo...
J.M.: Sim. Como na época não existia a popularidade do AutoCAD, que é um programa que faz desenhos em três dimensões para plantas e projetos de construção civil, os engenheiros passavam-me a planta baixa e eu desenhava o prédio em 3D, que chamávamos de perspectiva.

Jornal do Sudoeste: Não era todo mundo que tinha esse conhecimento?
J.M.: Paraíso era bem arcaico nesta área. Então, fiz muitos clientes. Na Visual também fazíamos outros tipos de trabalhos como adesivos, que hoje são feitos em plotter, uma tecnologia de impressora que faz este tipo de trabalho; naquela época não existia, era tudo feito na impressão de serigrafia, então criávamos tudo. Não durou muita essa fase, logo a informática chegou a Paraíso e sentimos a necessidade de aprender para não ficar para trás.

Jornal do Sudoeste: Você foi buscar novos conhecimentos?
J.M.: Sim, foi quando tive conhecimento sobre programas gráficos e me dediquei a este conhecimento, que me ajuda muito. Hoje eu faço os esboços a lápis e é por isto que meu trabalho tem um diferencial, porque eu tenho a facilidade do desenho, da pintura, escultura, e isso me ajudou muito a destrinchar esses aplicativos gráficos e me tornar um bom profissional.

Jornal do Sudoeste: E foi aprendendo sozinho...
J.M.: Na verdade, naquela época, não havia nem curso. Eu fiquei sabendo que existia o CorelDRAW, mas ninguém sabia me informar onde eu arrumava este programa. Nas escolas de informática não havia nem os aplicativos coloridos, nem o Windows, era DOS, Dbase, Lotus; fiz um curso de informática neste período. Após, fiz outros cursos, já tinha o Windows, mas fui atrás e encontrei em São Paulo. Comprei as “bíblias” de estudo que existia sobre esses programas para poder me informar, não havia curso de CorelDRAW, Photoshop, foi tudo a base de abrir a “bíblia” do aplicativo, que era muito difícil conseguir porque era caríssimo. Estudei tanto que me tornei um especialista, isto nos idos de 92, e acabei ministrando algumas aulas sobre esses aplicativos em algumas escolas, dava aulas vip também, mas foi por pouco tempo, lá pelos idos de 97.

Jornal do Sudoeste: A empresa continuou ou vocês pararam com os negócios?
J.M.: A Visual durou até por volta de 1994. Depois fui trabalhar por conta, sem empresa aberta. Montei um pequeno escritório em casa, e nesta época eu já tinha estudado programação e comecei a fazer sites. Tive muitos clientes por causa dos sites; após, montei um escritório que chamava AES Brasil Multimídia, trabalhava com publicidade e desenvolvimento de sites que naquela época estava no auge, à internet estava vindo com tudo, isto em 2001 e 2002.

Jornal do Sudoeste: Você foi pioneiro no município no que diz respeito a desenvolvimento de site, não?
J.M.: Sim. Na época criei um site que se chamava SSPARAÍSO. COM. Era o site da cidade, que alimentávamos praticamente com o conteúdo que tem a Expressão Livre hoje, eram artigos de especialistas falando de suas profissões, notícias, mas o carro chefe do site eram as baladas. Meu sócio naquela época era o Willian Jackson, e fomos pioneiros na região com um site de baladas que publicava fotos de eventos. Trabalhei um tempo com isto, mas logo veio o Orkut e o Facebook, que tinha tudo isto que havia no meu site, e acabou engolindo esse trabalho, os acessos começaram a cair e abandonamos o projeto.

Jornal do Sudoeste: E como nasce a revista Expressão Livre neste contexto?
J.M.: Quando chegou 2010, como o site já não dava mais certo, sempre tive vontade de montar uma revista. Tínhamos o conteúdo, que eram artigos, reportagens e muito conteúdo que ia o para site, então decidi criar uma revista. Já havia alguns clientes para os quais eu fazia uma revista e, entre eles, o Rodney, com quem, em sociedade montei a Expressão Livre. Ele tinha uma revista em Sertãozinho, mas parou e eu o chamei para este projeto em Paraíso, porque na época não tinha tempo de fazer sozinho já que tinha que atender aos meus clientes e diagramar uma revista é complicado, precisava de alguém para correr atrás de matéria, cuidar de financeiro, então acabou dando certo e fundamos a Expressão Livre, que está aí até hoje.

Jornal do Sudoeste: Como foi conciliar o trabalho com a revista e manter os clientes que você já tinha ao mesmo tempo?
J.M.: Não. Teve um período em que eu parei com todos os meus clientes e fiquei somente por conta da revista. Chegamos a montar uma filial em Guaxupé, mas com a crise financeira, que veio se complicando a partir de 2012, acabamos parando com a Expressão Livre de lá e continuamos com Expressão Livre de Paraíso. De uns dois anos para cá voltei a pegar alguns clientes em publicidade e assessoria.

Jornal do Sudoeste: Já são 30 anos na luta. Como você conseguiu manter esse trabalho por tanto tempo?
J.M.: Não é fácil. É uma luta, principalmente nesta área e numa cidade do interior de Minas em que as pessoas não têm uma visão ampla do que a publicidade pode fazer para o seu negócio. O seu trabalho, na cabeça de alguns, não é um trabalho de primeira necessidade e está na lista de cortes de despesa, sendo que deveria estar na lista de investimento. É árduo sobreviver disto aqui em Paraíso, mas graças a Deus criei um nome no município e é o que me mantém. Também, é um mercado bem competitivo, hoje você concorre com outras revistas, jornais, televisão, rádio, propaganda volante.

Jornal do Sudoeste: Com toda esta evolução da tecnologia, é mais fácil trabalhar?
J.M.: Hoje é mais fácil produzir. Percebo que, atualmente, uma pessoa com pouco conhecimento consegue produzir algo razoável, não chego a falar de excelência, mas pela sofisticação dos aplicativos e  também porque há muito coisa pronta na internet, há muito profissional que plagia e começa a concorrer com preço baixo contra você. Além disto, de certa forma, a tecnologia contribuiu para você ter rapidez em produzir material e o produto final com mais qualidade. Em contrapartida, naquela época, por ser um trabalho mais árduo de ser feito, era mais valorizado; eu produzia muito menos e ganhava muito mais.

Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz destes 48 anos?
J.M.: A vida nunca foi fácil e desde muito cedo corri atrás do meu espaço no mundo. Sempre as portas fechadas, sempre os caminhos mais tortuosos, mas temos que perseverar. Ainda não cheguei nem na metade do que eu gostaria. Tenho uma vida ainda pela frente, o que resta é lutar, e a vida é sempre uma luta, principalmente para quem vem de uma família humilde, que não teve recursos para facilitar as coisas, mas não reclamo de nada, tive sempre a consciência de que as coisas eram assim e que eu teria que correr atrás para vencer.