PREVENÇÃO

Setor de Psicologia da Sta. Casa está empenhado na prevenção contra o suicídio

Por: Nelson Duarte | Categoria: Saúde | 22-09-2018 10:34 | 2553
Psicóloga Nayara Nascimento Fressa
Psicóloga Nayara Nascimento Fressa Foto: Nelson P. Duarte

O setor de Psicologia da Santa Casa de Misericórdia de São Sebastião do Paraíso tem desenvolvido neste mês, atividades relacionadas à prevenção contra o suicídio. Conforme explica a psicóloga Nayara Nascimento Fressa, neste ano, além de cartazes informativos foram realizadas palestras para os colaboradores da instituição, orientando-lhes tanto quanto a pacientes que dão entrada para atendimento por tentativa de suicídio, como também voltadas para suas vidas pessoais, como parte da campanha Setembro Amarelo.

No “Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio” (10/9), colaboradores de vários setores da Santa Casa se vestiram de amarelo e foram feitas palestras abrangendo vários turnos. “Em 2017 eu havia chegado há pouco tempo à instituição, então a campanha foi um pouco menor, mas em nível de divulgação em cartazes por todo o hospital. Divulgamos o Centro de Valorização da Vida (CVV) onde a pessoa pode buscar auxílio e ajuda em momento de desespero para desabafar, procurar ajuda, ter a certeza que não está sozinha”, disse Nayara.

Ela ressalta que, “quanto mais a gente fala, entendemos, deixa de ser tabu, e precisa ser falado para as pessoas se sentirem à vontade para desabafar sobre isso”. Nayara observa ser comum se fazer julgamentos, e as pessoas condenarem quem tenta contra a própria vida, e não raras vezes, na tentativa de ajudar, tentando sensibiliza-los lhes dizem frases, por exemplo, lembrando que têm família, têm filhos, bom trabalho, questionam “por que foi fazer isso”, dizem ser “falta de Deus” ou que já passaram por “coisa tão pior e não tentaram se matar”.

Nayara afirma que suicídios ou tentativas não são provenientes de uma causa única, é multifatorial, não é tão simples assim. A pessoa que pensa em se matar precisa de apoio, sentir que existe um porto seguro, não deve ser julgada, condenada, criticada, pois já está em momento tão doloroso, desgastante, e o pior que se pode fazer e colocar nela sentimento de culpa, o que poderá causar nova tentativa de autoextermínio.

“O mais importante é saber ouvir, sem julgar, dar apoio à pessoa, oferecer para acompanha-la,  por exemplo a atendimento público, a um serviço de psicologia. Pode ser isto que a pessoa está precisando. Da mesma forma que se cuida da saúde física é preciso cuidar-se da saúde mental, que é tão importante quanto, andam juntas, e há muito estigma neste sentido”.

No Setembro Amarelo a equipe do setor de Psicologia da Santa Casa dá ênfase sobre a forma como lidar com pessoas propensas a cometer o ato. “Passamos orientações de como ajuda-los. O foco maior neste ano foi com relação a pessoas que chegam aqui para atendimento porque desde que iniciei meu trabalho aqui na Santa Casa observei o interesse da equipe em compreender esta questão que é o suicídio. Já é difícil falar sobre a morte e tirar a própria vida mexe muito com as pessoas”, disse Nayara.

O que focamos nessas palestras com os colaboradores, não é questão da “falta de Deus”, ou da pessoa ser mais forte ou fraco. Todos nós passamos por situações estressantes ao longo de nossas vidas, e não é porque consegui lidar bem com isso que o outro vai lidar da mesma forma. Não quer dizer que é mais fraco, pois somos seres humanos diferentes, respondemos às situações em nosso dia a dia de maneiras diferentes, afirma.

Questionamento comum, sempre é feito principalmente por familiares, se remontam em querer saber o que teria ocasionado a tentativa ou consumação do suicídio. A psicóloga Nayara Nascimento Fressa esclarece que a causa não é um único motivo, “é multifatorial”, ou seja, envolve vários fatores e não por causa de uma ou outra situação, como perda de emprego, término de relacionamentos, morte de entes queridos. É questão mais profunda. “Costumo dizer que a pessoa tem um “baldinho” da vida dela que vai se enchendo com várias situações estressantes, angustiantes. Alguns conseguem lidar bem com isto, mas têm outros que não, e quando o “balde” está quase transbordando acontece um evento desses. Esses eventos isolados foram só a gotinha, que fez o balde que já estava cheio, transbordar.  Então esses eventos estressores são gatilhos que às vezes fazem com que as pessoas acreditem não terem mais solução além da morte”.

Nayara reforça serem gatilhos, não motivos, que na verdade vieram se acumulando ao longo de toda uma vida. “A gente costuma dizer que, quem tenta se matar não está pensando em tirar a própria vida, somente tirar a dor, está em momento tão desesperado, angustiante, de tanta dor e sofrimento que não consegue ver outra solução. É situação muito triste”.

Nem sempre a pessoa sinaliza que está propensa a atentar contra a própria vida. Há sinais na maioria das vezes, mas há exceções. Conforme esclarece a psicóloga, na maioria dos casos tem como se perceber alguns sinais. Geralmente a pessoa que está pensando em suicídio vai ficando mais reclusa. Sempre saía com amigos para encontros familiares, sociais, enfim o que costumava fazer, e de repente começa a ficara mais reclusa, mudando a rotina o comportamento, mais dentro de casa, do próprio quarto, passa a recusar convites de parentes e amigos para eventos.

Há pessoas que começam a falar mais sobre morte, dizer que estão incomodando alguém e vão sumir de suas vidas, dizer que gostariam de deitar na cama e não acordar nunca mais, todos esses são sinais que, isolados não querem dizer que a pessoa vai se matar. Há quem teve um dia estressante, por exemplo, no trabalho, e seria comum um comentário desses. A somatória de sinais, todos juntos querem sim dizer alguma coisa, isolados não, diz Nayara.

Geralmente quem pensa em se matar já está entrando em estado depressivo, deprimido, além de não querer sair o rendimento no trabalho costuma cair bastante, passa a faltar ao serviço, outros descontam frustrações na bebida, nas drogas, cigarro. Há também casos em que, por exemplo, a pessoa pode ter algum transtorno psiquiátrico e entrar em surto, sem aviso nenhum, mas são exceções, complementa a psicóloga.

Nayara chama a atenção sobre a importância do trabalho preventivo. “Principalmente na atenção básica seria interessante que a gente visse trabalhos como estes, pois quando chega a um hospital geral é porque já houve a tentativa e às vezes se consuma. O ideal é o trabalho de prevenção multiprofissional envolvendo PSFs, CAPS, Unidades Básicas. Esses setores já realizam este trabalho, com excelência, diga-se de passagem, mas poderia focar ainda mais, porque o ideal é prevenir, falar é a melhor solução, em oficinas de orientação, palestras também para familiares, pacientes que estão sendo acompanhados nessas unidades, porque a maioria não sabe lidar com pessoas que pensa em se matar”, pondera a psicóloga. “Às vezes familiares e amigos querem ajudar, mas ficam perdidos. Fazendo campanhas de prevenção e conscientização de pacientes que já acompanham iria ajudar ainda mais”, acrescenta.

O número de tentativas e suicídios consumados em São Sebastião do Paraíso e região são preocupantes, como também são quanto ao Estado. A mesma situação se reflete quando a análise é feita em nível de Brasil, pois segundo estatísticas, 32 brasileiros morrem por dia por suicídio. “É questão de saúde pública”, diz a psicóloga Nayara Nascimento Fressa.

A maior incidência é registrada na faixa de idade entre 15 a 29 anos, e há também os chamados “suicídios de época”, ou seja, momentos políticos, socioeconômicos quando se observa aumento de casos entre idosos ou pessoas de média idade.