ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 26-09-2018 22:09 | 1071
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Religiões
Fenômeno explicável é que nos concentremos somente nos últimos dois milênios ao examinarmos nossa história. Antes, a linguagem era oral, poucos escreviam em runas ou hieróglifos e sobrou para a arqueologia perscrutar nossos ancestrais, principalmente diante do fenômeno religioso. No entanto, ainda assim algumas curiosidades decifradas põe a descoberto a nós cristãos e nossa fé monoteísta. O catolicismo é uma religião jovem que somente se difundiu na idade média, com as cruzadas e a poder de sangue. Desdobrou-se no protestantismo, que foi perseguido pelos papas e só encontrou de início abrigo seguro no mundo anglicano. Talvez por isso, protestantes (e evangélicos) em larga escala hoje se esforcem tanto por se afastar de dogmas católicos. Bobagem. O que sempre os diferiu foi a ideia de um Deus em busca de constrição e expiação pela redenção e sofrimento (católicos) x um Deus da glória que perdoa incondicionalmente e sem necessidade de retribuições ou perdas (protestantes). Também serviu à diáspora cristã as vulgares preocupações patrimoniais do Vaticano em contraposição aos sacrifícios que impunha aos fieis, aos cânones duros seguidos por sacerdotes entrincheirados em rincões esquecidos do mundo ocidental, o estupro cultural com que a cristandade católica imolava aos “bárbaros” - povos que até então desconheciam a fé em Jesus. E não tinham qualquer culpa nisso.

Politeísmo
E antes, como era? Os antropólogos explicam que as religiões eram politeístas. Acreditava-se em vários deuses, muito embora houvesse aqueles mais poderosos que adornavam o panteão sagrado dos fiéis em posições mais elevadas que os demais. Zeus, para os gregos, ou o romano Júpiter ou o egípcio Osíris comandavam hordas celestiais de deuses menores, cada qual responsável por algum benefício para o homem. Orava-se para o deus da chuva, do sol, da fertilidade, da colheita, etc... O mundo era tão politeísta que os católicos (sempre nós) criaram as figuras dos “santos”, padroeiros e dedicados a esta ou outra causa, como maneira de adaptar a mentalidade dos fieis recém-saídos do politeísmo moribundo a uma pluralidade de divindades que lhes pudesse ser alvo de oração na então “nova” fé católica. Assim também foi feito com inúmeros ritos e feriados religiosos, provenientes de religiões  antigas e que foram adequados ao calendário católico romano. Mas com a conversão mundial para a religião de um Deus único, dois fenômenos interessantes se criaram. Só o cristianismo lançou ao mundo um planejamento missionário, de levar a fé católica para outros povos e culturas, vez ou outra à força de exército. Antes, os povos com deidades plurais pouco se importavam com os deuses do vizinho e jamais impunham sua religião, mesmo aos vencidos – bastava o respeito dos inimigos escravizados ou colonizados. Outro fenômeno interessante surgido no mundo cristão: o dualismo. As religiões antigas não previam um mal vindo do sobrenatural, em forças malignas também superiores. Viam no mal uma ausência do bem. E pronto. As religiões cristãs criaram a divindade negativa, a crença na existência das forças do demônio, o inferno, como um poder paralelo – inferior, é fato, mas existente. Coisa que os homens da antiguidade jamais intuíram. 

Mais longe ainda
A religião foi a principal causa da sobrevivência do homem no planeta terra e criou o interessante fenômeno da revolução cognitiva. Foi o que nos uniu, homo sapiens, e nos ensinou que reunidos seríamos mais fortes. Deixamos de ser caçadores e coletores para nos dedicar a agricultura e criar laços geográficos, culturais e de afeto com grupos familiares e vizinhos cada vez mais densos e que evoluíram paulatinamente para as sociedades atuais. Precisávamos de uma mitomania, de uma crença comum, para nos dar uma ideia de grupo, e isso surgiu com o culto às divindades. No início, cultuavam-se os antepassados mortos, depois árvores e animais. Em seguida, o homem fez o óbvio: olhou para os céus, para o fogo, para as forças da natureza, e com isso conjurou seus protetores mais poderosos. Sem um sentimento e um ideal semelhantes, jamais teríamos sobrevivido a intempéries e cataclismos ou a conflitos e lutas perenes pela sobrevivência. Por isso ponho muito em dúvida a questão religiosa, quando a vejo como causa de conflitos. É um contrassenso, um absurdo ilógico, quando se olha para a história e se observa que todos os caminhos da fé sempre procuraram levar à paz e a prosperidade entre os povos, mesmo que através de vias por vezes truncadas, equivocadas e violentas.

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 O dito pelo não dito
Infelizmente, às vezes os heróis também matam” (das eleições 2018 para a história do Brasil).