Natural de São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, Antônio Roque Martins nasceu a 16 de agosto de 1908. Era filho de Francisco Martins Fernandez e Tereza Alves Martins. Fez o curso primário no Grupo Escolar Campos do Amaral. Em seguida, completou o ensino secundário no Ginásio Paraisense, destacando-se por sua brilhante inteligência e acentuada vocação literária. Recebeu o diploma de Bacharel em Ciências e Letra, que proporcionava condições para o exercício do magistério. Foi acometido de uma doença neurológica que o deixou paraplégico, exigindo o uso regular de cadeira de rodas para se deslocar. Assim, não pode continuar os estudos como desejava. Para ganhar a vida, exerceu o magistério em sua casa, alfabetizando jovens e adultos.
Sobre sua trajetória de vida intelectual, tenho muito mais memórias afetivas, do que fontes documentais. São lembranças contadas pelo meu saudoso pai, José Paes, alfabetizado aos 14 anos, em 1936. Nessa época, deu os primeiros passos no mundo das letras com apoio do seu único e eterno mestre: o professor Roque Martins. O saudoso mestre não fixava um preço pelas aulas ministradas, pedia uma contribuição dos alunos que pudessem pagar alguma coisa. Quando às suas aulas, é importante destacar a cultura diferenciada com que estimulou meu pai e outros de seus alunos, a lerem o famoso romance Os Miseráveis, de Vitor Hugo.
Por várias vezes, o professor Roque Martins confessou ao meu pai o seu desejo de abrir um curso intermediário, entre primário e ginasial, para atender jovens das classes populares. Mas esse sonho não chegou a se realizar. Suas aulas eram modestas, mas os alunos podiam fazer uso de sua pequena biblioteca, com romances e livros de história. Foram essas lembranças que levaram meu pai, 50 anos depois, a homenageá-lo como patrono da cadeira no 3 da Academia Paraisense de Cultura.
Sua produção mais conhecida é o livro de contos Coluna Partida, publicado em 1936, com edição de mil exemplares, impresso nas Oficinas Gráficas Jobormoura, com apoio dos seguintes cidadãos, citados pelo autor: José Honório Vieira, Capitão Manoel Vianna, Joaquim Paiva Caldeira, Luiz Anacleto de Sillos e João Borges Moura. A obra é prefaciada pelo pastor protestante Tancredo Costa, que ministrava aulas de inglês no Ginásio Paraisense. Nas últimas páginas do livro, o autor avisa que outros dois trabalhos estavam sendo finalizadas para publicação: um livro de contos, Retalhos do Céu e outro de cunho humorístico: História Natural pelo Método Confuso. Para rememorar um fragmento de sua obra abaixo, transcrevo a letra de uma música de sua autoria. No manuscrito consta que a letra fora musicada pelo maestro Chico Penha e apresentada num baile de despedida dos alunos do Ginásio Paraisense, no ano de 1934.
Adeus, Ginásio!
Antônio Roque Martins
No areal tu dormes tranquilo,
Nas férias de fim de ano,
Com a saudade em terno idílio,
Descansando do labor insano,
Tu durmas feliz, ó forte gigante!
Meu Ginásio, adeus! Eu vou–me embora,
Eu choro, tu choras, ela chora!
Adeus, carteiras! Adeus, sacolas!
Adeus, sanfoninhas! Adeus, cola!
Um abraço aos professores,
Às moças muitas flores.
Adeus, o momento é chegado...
Apita o trem: tudo acabado!
Partirei soletrando a saudade:
Saudade, saudade, muita saudade!
O jornalista e advogado Jacinto Guimarães Ferreira publicou na imprensa local um pequeno obituário, abaixo transcrito, para registar o triste acontecimento que o foi o falecimento precoce do saudoso mestre, por suicídio, no dia 31 de outubro de 1940.
“Como uma coluna partida por um raio de tempestade, deixou repentinamente o mundo dos vivos o intelectual paraisense professor Antônio Roque Martins. Deixou um livro intitulado “Coluna Partida...”. Foi sua vida. Antônio Roque morreu há muito tempo. Estudava eu ainda no Ginásio Paraisense, quando muitas noites o vi à porta do cinema, em sua cadeira de rodas, árdua prisão, a apreciar o movimento no jardim. Ali ficava horas e horas e de vez em quando um amigo parava para trocar algumas palavras. Sofreu. Sofreu como sofrem os gênios. Morreu. Morreu como morrem os verdadeiros iluminados. Jamais troquei com ele uma palavra sequer. Jamais também o esqueci. Ele possuía uma atração, que arrebatava imediatamente o nosso coração; talvez o sofrimento que não relevava, talvez uma angústia e uma tristeza que jamais poderiam ser compreendidas pelo homem. Sempre me vem à memória o nome de Antônio Roque Martins; lembro-me de uma coluna, de uma coluna branca e imaculada, partido por um raio inesperado, durante uma tempestade.”