PARAÍSO 197 ANOS

Prestes a completar 100 anos, Aviação é uma referência para os paraisenses

Por: Nelson Duarte | Categoria: Cidades | 25-10-2018 11:40 | 5633
Diretor presidente da Gonçalves Salles, Geraldo Alvarenga Resende Filho
Diretor presidente da Gonçalves Salles, Geraldo Alvarenga Resende Filho Foto: Nelson P. Duarte

No dia 20 de setembro a empresa Gonçalves Salles completou 98 anos. Somente em suas atuais instalações, está há 48 anos. Mais que gerar empregos e divisas ao Estado de Minas Gerais, ao país, através de impostos que gera e recolhe, para o município que também se beneficia com a parte que lhe toca, há uma peculiaridade a mais, ou seja, a Aviação tornou-se referência que paraisenses, com justificado orgulho, costumam dizer em suas apresentações. Questionados, ou quando têm oportunidade em dizer onde nasceram, afirmam ser de São Sebastião do Paraíso, das Minas Gerais, reforçando com o complemento: “Terra onde é fabricada a manteiga Aviação”.

E a vinda dessa empresa cidadã se deve ao bairrismo de um paraisense idealista, Dr. Geraldo Alvarenga Resende. “A Aviação foi fundada em São Paulo pelo meu avô materno, Antônio Gonçalves, em 1920, como comércio atacadista de gêneros alimentícios, e assim permaneceu até os anos 70 quando com a morte dele em 1964, meu pai, assumiu a direção da empresa”, conta Geraldo Alvarenga Resende Filho.

Dr. Geraldo era médico do antigo IAPB –Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários. “Exatamente nesta época em que houve a morte de meu avô, ocorreu também a fusão dos institutos, sendo criado o INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), e ele resolveu aposentar-se da medicina. Eu estava cursando a faculdade, me formei e acabei não exercendo Medicina, optei por me dedicar mais aos negócios. Em algum momento eu ia ter que fazer uma opção, resolvi logo que me formei”, conta Geraldo Alvarenga Resende Filho, há 50 anos na diretoria da Aviação.

“Meu pai quando assumiu a empresa que é uma sociedade anônima, me emancipou, eu não tinha 21 anos. Elegeu-me como diretor vice-presidente e acabou comprando as ações da família de minha avó, dos Salles. Entrei nos anos 60. Então, metade da vida da empresa eu participo”, explica. “Costumo dizer que sou da terceira e quarta gerações da Aviação, porque tem o lado de meu avô e bisavô pelo lado materno. Eles quem deram início a Gonçalves Salles mais conhecida como Aviação”, salienta.

Quando Dr. Geraldo implantou a fábrica em Paraíso em 1977, achou por bem que a maneira como o atacado estava em São Paulo, já não condizia, e resolveu concentrar tudo em laticínios. A Aviação tinha várias fábricas, algumas obsoletas, outras precisando de grandes reformas.  “Meu pai resolveu centralizar tudo em Paraíso, fazendo uma fábrica nova, que hoje não é tão nova mais. Foi inaugurada no aniversário da cidade 25 de outubro de 1977, com as presenças do então governador Aurelino Chaves de Mendonça e do ministro da Agricultura, o mineiro Alysson Paulinelli”, lembra.

Perto de comemorar seu centenário a Aviação teve momentos decisivos para que se tornasse a empresa de porte que é, líder de mercado e uma das marcas mais lembradas do segmento de laticínios. O primeiro momento foi a reorganização. “Quando meu pai chegou viu que as fábricas todas tinham problemas, precisava reformular tudo. Se é para fazer algo novo vou fazer em Paraíso, porque é minha cidade natal, quero levar para lá, e construiu uma fábrica moderna para a época, e ainda é até hoje”, enfatiza Resende Filho.

“Aqui a bacia leiteira já era promissora, a fábrica estrategicamente bem localizada.  Estamos a 340 quilômetros de São Paulo, 400 de Belo Horizonte,  600  do Rio de Janeiro, que eram os grandes centros consumidores. Particularmente reputo que o grande centro consumidor do Brasil ,não é necessariamente, a capital paulista, é o interior do Estado de São Paulo. Isso abrange também um pouco do nosso Sul e Sudoeste Mineiro, Triângulo e Norte do Paraná. Acho que essa é a grande área de consumo no país, é a região mais rica do Brasil”, observa.

Outro grande salto no desenvolvimento da Aviação aconteceu nos anos 90, especificamente em 1995 quando foi automatizado o processo de fabricação da manteiga, carro chefe da empresa.

“Em 1995 fui à Europa visitei vários laticínios e trouxe modelo que implantamos na Aviação, moderno até hoje, com algumas atualizações que fizemos. É quase que uma linha de montagem, sem perder aquela característica do produto artesanal, foi um grande salto que aconteceu, conseguir aumentar a produção de maneira expressiva, e dentro do processo automatizado. Foi uma grande preocupação. Para se ter uma ideia, levamos dois anos para fazermos esta transição, sem que o consumidor notasse, que foi passado de um processo artesanal para industrial”.

Depois com máquinas mais modernas a produção foi ampliada. Quando chegamos a Paraíso em 1977 a nossa produção de manteiga era boa, mas na casa de 100 toneladas por mês, hoje produzimos entre 800 a 900 toneladas mês. Esse ano tudo leva a crer que devemos fechar com 10 mil toneladas de manteiga aqui nessa unidade. As adequações que foram feitas nesse período permitiram isso, conta o diretor presidente, Geraldo Alvarenga Resende Filho.

Quando foi aberta a fábrica na Mocoquinha, o asfalto terminava exatamente na porta da Aviação, depois veio o calçamento, o bairro tinha algumas casas, o campo do Operário, a Vila Muschioni, e mais nada, a não ser o Asilo São Vicente, e depois já a Santa Casa mais à frente.  A cidade abraçou a fábrica.

Num primeiro momento, o que se produzia era somente a manteiga mais famosa do país, embalada na tradicional latinha. A Aviação foi também a primeira empresa brasileira a produzir manteiga em tabletinhos aluminizados (a máquina é guardada na Casa da Manteiga). No final dos anos 90 havia uma expansão muito grande do acondicionamento de manteigas em potes plásticos, e conforme explica Resende Filho, relutou-se um pouco em aderir, “mas fomos vencidos porque a concorrência utilizava, era uma tendência de mercado, foi uma diversificação na linha de manteiga”, afirma.

Paralelo a isso a Aviação começou a fabricar o doce de leite, que também tem aceitação muito grande, o requeijão cremoso, e os queijos. Coincide exatamente com a ideia de Dr. Geraldo Alvarenga, ao instalar a fábrica em Paraíso, e encerrar com o atacado, dedicando-se exclusivamente aos lácteos. Gradativamente foram introduzidas na linha de produção as variedades de queijos prato, e mussarela. Na sequência vieram o montanhês, já era fabricado anteriormente na pequena fábrica de Conceição das Alagoas que foi desativada. Depois vieram a ricota o queijo frescal.

O processo é dinâmico, criativo, não tem fim, pois também inclui a apresentação dos produtos ao consumidor, e isso inclui novas embalagens. O queijo fatiado facilita, o montanhês já vem em lascas, uma série de diversificações porque o mercado assim demanda.

Há produtos da Aviação, principalmente a manteiga, em vários países, notadamente onde há comunidade de brasileiros. A exportação não é um foco da empresa, de vez que ainda não consegue atender a demanda interna no país. Todo o crescimento de produção é absorvido pelo consumo interno. “Primeiro aqui, depois mercado externo”, enfatiza o diretor presidente da Aviação. E quando se fala em produção, o espaço físico da Aviação tornou-se limitado. Há cinco anos existe projeto pronto para a transferência da fábrica para uma área de 180 mil metros quadrados, na região do Campo Alegre. Para o exterior, normalmente a remessa é feita por tradings brasileiras, de modo a atender comunidades de brasileiros.

Se ainda mesmo antes de se emancipar, Dr. Geraldo Alvarenga Resende Filho quando recém-formado decidiu não exercer a Medicina, para dedicar-se a empresa fundada por seu avô materno, Antônio Gonçalves, que se tornou referência internacionalmente em laticínios, do  avô paterno, João Ferreira de Oliveira Rezende, veio a tradição de produzir cafés finos, uma história iniciada há mais de 130 anos.

Além de fazendas onde se produz arábica de qualidade, Geraldo Alvarenga Resende Filho implantou há 16 anos um Armazém Geral em São Sebastião do Paraíso, o Peneira Alta, empreendimento que tem como diretor seu filho Fernando Montans Alvarenga, e se prima por tecnologia de ponta em armazenagem e comercialização de café.

 Num primeiro momento, armazenagem, mas a atividade evoluiu para a comercialização de café especial moído, industrialização terceiri-zada com a forte marca Aviação. Foram praticamente três anos testando o mercado, e o resultado não poderia ser outro, tem agradado plenamente aos paladares mais exigentes.  Os passos seguintes foram o café solúvel, e mais recentemente o capuccino, lançado há 60 dias.

Na Aviação o quadro de colaboradores chega a 280 funcionários, e esse número praticamente dobra quando se considera também empregos gerados diretamente, no segmento café.

Dr. Geraldo Alvarenga, ministro Alysson Paulinelli, o eñtão governador Aureliano Chaves, na benção de inauguração das instalações da Aviação em Paraíso, em 1977
Fachada das Instalações do comércio atacadista em São Paulo, fundado em 1920