Reynaldo Formaggio
Sou um saudosista assumido. Tenho inclusive, certa nostalgia por um período que não vivi...
São Sebastião do Paraíso, 1914. Era nos arredores das estações ferroviárias que tudo acontecia. Na recém inaugurada Estação Mogiana, o agito era grande. Maquinistas, foguistas, mascates, engraxates. Malas, frutas, fumaça e correria. Chegadas, partidas, encontros e despedidas.
Naquele dia, o circo ali desembarcou. Trouxe cor, magia, sonho e despertou grande euforia, principalmente no quintal do nonno! Àquela época, era tradição um desfile com as atrações do circo, convidando a população para os espetáculos que logo aconteceriam no Largo Santo Antônio.
Mágico, trapezistas, malabaristas, contorcionistas, dançarinos, palhaços, domadores e também os animais que acompanhavam a trupe. De repente uma gritaria toma conta do quintal do nonno. Um elefante fujão se fartava no abacateiro carregado! Homens ao telhado! Uma verdadeira algazarra tomou conta do pedaço! Ninguém se atrevia a tentar tirar o bicho dali e os gritos tentavam chamar a atenção da trupe, que já ia longe, com sua parada festiva.
Mais de 70 anos depois, ao ouvir essa história familiar, ficava imaginando como um elefante saído da África ou da Ásia, depois de uma longa viagem em um navio, tinha vindo parar no quintal da minha família. Hoje as distâncias são ainda menores, tudo está ao toque de um botão ou de uma tela, menos o perfume de uma época em que a inocência e a surpresa tomavam conta de uma cidade...
Reynaldo Formaggio Filho membro da Academia Paraisense de Cultura.