ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 14-11-2018 22:35 | 894
Foto: Reprodução

Medo
Já tive rompantes em dizer que nada temo, o que é uma mentira. O medo é um sentimento bom e que todos devemos ter, em maior ou menor grau. Preserva-nos das intempéries da sorte e da vida, fazendo com que evitemos desgastes desnecessários e desafios inúteis. Medo em grego vem de “Phobos” ou “Fobos”, um deus da mitologia que gerava medos. Vem daí a nossa “Fobia” e, dentre as possíveis fobias, confesso que tenho muitíssimo medo de mim. Controlo meus ímpetos cotidianamente para não explodir, para não soltar de meu âmago a fera enjaulada que aprendi a trancar bem trancada e que, se liberta, causaria um estrago formidável. A coragem reside em lidar com os limites, não em deixar de tê-los. 

Respeito ao outro
Também se chama alteridade aquele comportamento que leva em contas as ações e reações, anseios e angústias, das pessoas à nossa volta. O psicopata não tem alteridade, tão importante nas relações privadas e profissionais. Condicionou-se chamar de “tolerância” aquilo que, na verdade, nada mais é do que considerar os outros na mesma proporção de nós mesmos – aliás, um ensinamento bíblico. Norberto Bobbio tinha repúdio da tolerância, que considerava reducionista. Dizia ele que se tolera o que é menor, menos importante, defeituoso. Devemos é ter respeito pelos iguais e desiguais ao longo da vida. Vejo com tristeza inúmeras pessoas públicas espumando ódio e sendo ofensivas com aqueles que exprimem opiniões discordantes e já falei muito disso aqui: não há democracia parcial, que só respeita àqueles que seguem os mesmos ideais. A liberdade reside justamente em pensar diferente sem ser punido de qualquer maneira por isso. Vimos muitas condutas asquerosas nas eleições, ligadas aos que se dizem democráticos e progressistas, defensores do mundo livre contra a ditadura, mas que, apeados do poder ou ameaçados de sê-lo, tentam amordaçar ou desprestigiar com mentiras aos adversários políticos ou de pensamento e ideologia.

Vez e voz
Quando a pessoa se torna pública, o que ela diz pode ser imitado, repudiado ou ridicularizado. Por isso, quem adquire alguma proeminência social ou profissional vai se preparando ao longo do tempo para se expressar bem e gerar bons exemplos. É o lógico, porque a árvore mais alta também é aquela que mais sofre com a força dos ventos – a imagem é de Niezsche. Em bom caipirês, quanto maior a árvore, maior a queda.  Portanto, é preciso tomar cuidado com ações e atitudes quando se está no topo. Nunca estive por lá, mas acredito que nossas responsabilidades só aumentam conforme adquirimos proeminência, poder, cifrões ou cabelos brancos. O problema dos dias atuais é que esse destaque social, essa importância perante a opinião pública, está acessível a qualquer cabeça de bagre adepto de redes sociais. Com a rede mundial de computadores e os aplicativos de mensagem, todos viralisamos. Qualquer um é ouvido e cria os boatos e dilui as opiniões que quiser, sem qualquer responsabilidade ou juízo. Todos têm vez e voz, o que seria bom se tivéssemos também, cultura e educação.

De novo a impunidade.
Por que há Fake News e as pessoas se ofendem pela internet? Por que reputações são injustamente enlameadas diariamente? Por que agressores virtuais permanecem difundindo suas ideias de ódio? A resposta para todas essas perguntas é uma só, óbvia até. Temos uma legislação frouxa para punir quem pratica crimes contra a honra e a reputação alheias. Idiotas só criam notícias falsas e ofendem com mentiras porque sabem que permanecerão impunes. Já tivemos uma Lei de Imprensa pífia, mas havia algum castigo para quem vandalizava o bom nome alheio. Agora, nem isso há mais e se perdeu uma  grande oportunidade com a recente Lei do Marco Zero da Internet, que veio regulamentar o mundo virtual-social e poderia ter lançado bases mais sólidas para a proteção da dignidade de inúmeras vítimas de fofoqueiros de internet.

O dito pelo não dito.
“Sexo é o único esporte que não é cancelado quando falta luz.” (Lawrence J. Peter, educador canadense). 

RENATO ZUPO – Magistrado, Escritor.