Armadilhas literárias
A grande covardia do marxismo é que nem todos conseguem entrar e sair dele em nossas breves vidas. Tanta coisa se produziu intelectualmente sobre ideologias de esquerda que o cidadão passa de dez a vinte anos imerso em pretensa literatura política sem se apiedar de si. Com sorte, sobrevive aos alfarrábios para concluir que o embasamento histórico da ideologia socialista é premido pelas circunstâncias e, portanto, vazio de fundamentos. Quem pensa com fome, pensa afoito e errado. Todo jovem é socialista e imagina Che Guevara como um ícone, Marx como um guru e Stalin como um mal necessário. Não é à toa. Não tiveram tempo para a reflexão – encruzilhada que vem sendo vencida pela consciência dos povos, lacuna que vem sendo suprida pela objetividade: se é tão bom, por que não deu certo?
Covardias comunistas
O que revolta é a disseminação da mentira. Não pelos jovens, que são vítimas da politização excessiva dos meios acadêmicos: experimente falar que é “de direita” na faculdade e veja no que dá... Incompreensível é a covardia dos intérpretes maduros da breve história política que impregnou e sucedeu ao Século XX, a repetir covardemente a cantilena do coitadismo mundial. Declamam que riqueza e poder vêm da corrupção sempre. Associam fardas, polícia e autoridades à repressão, a tal ponto que as novas gerações crescem repelindo qualquer referência à obediência, hierarquia e disciplina. Praticam algumas técnicas marxistas velhas como andar pra frente, e que “colam” entre os ignorantes: a repetição das mentiras, até que se tornem verdades fraudulentas, é uma delas. Outra tática covarde e grosseira, hoje mais que nunca disseminada em redes sociais, é o assassinato de reputações. Fizeram isso com Wilson Simonal. Fizeram de novo com José Mayer. Tentaram fazer com Jair Bolsonaro. Neste último caso, no entanto, o pragmatismo venceu o preconceito ideológico.
“Nazista”.
Não é incomum ver pessoas serem agredidas com o rótulo de “nazistas” por sua opção política, porque votam em candidatos conservadores ou, simplesmente, porque não aceitam mais discursos socializantes. Quem pratica essas ofensas demonstra, no mínimo, desconhecimento histórico. Hitler foi eleito democraticamente pelos alemães e foi “homem do ano” da revista Time, prestigiado pelas lideranças mundiais até invadir a Polônia em 1938. Depois é que virou o adversário a ser batido. O racismo enraizado na Europa existia muito antes dele, que utilizou esse hediondo preconceito para justificar seu projeto expansionista de busca do espaço vital. Assim, tentou dominar o mundo e dizimou milhões. Era populista: falava o que o povo queria ouvir. Encantava as massas conclamando-as ao progresso através de conquistas sanguinárias. Iludiu seus seguidores por muito tempo e até ser derrotado. A comparação do regime nazista à política conservadora dos dias atuais é ignóbil, frágil, burra. Os líderes e políticos que repelem as ideologias de esquerda não são diferentes de socialistas, comunistas e sociais democratas quanto ao diagnóstico daquilo que está errado: distribuição de renda, abismos sociais, deficiências na educação e na economia. Deles diferem somente na escolha dos métodos para suprir essas falhas, ao optar pelo empreendedorismo, meritocracia e respeito ao livre mercado, ao invés de cultivar um estado protecionista que incentiva programas assistenciais intermináveis e uma política do “nós contra eles” que é berço natural de conflitos e revoluções.
Stan Lee
Desde que me entendo por gente leio quadrinhos. Nunca deixei de imergir em gibis e incentivo meus filhos e todas as crianças e adolescentes que conheço a fazê-lo. É uma linguagem diferente que abre as portas da imaginação, do lúdico. Incentiva a estética, forma de conhecimento do mundo guiado pelos sentidos. O exponente maior dessa arte inigualável foi Stan Lee, falecido esta semana. Ele modificou o mercado mundial das histórias em quadrinhos. Seus heróis tinham superpoderes que não os afastavam de problemas prosaicos com namoradas ou da falta de dinheiro para pagar o aluguel. Eram personagens, sobretudo, humanos. Lee influenciou o cinema e a literatura e suas criações pertencem à iconografia pop, ao imaginário coletivo. Homem Aranha, Hulk, X-Men, Capitão América... Enfim, o legado de Lee fez surgir uma das empresas gigantes do entretenimento mundial, a “Marvel”. Vida longa, sucesso merecido. Obrigado por existir, Stan!!!
O dito pelo não dito
“Se você quer ser um escritor, continue escrevendo. E leia tudo o que puder, leia todas as coisas.” (Stan Lee, escritor, quadrinhista e gênio americano).
RENATO ZUPO – Magistrado, Escritor.