A Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso, a Cooparaíso, já pagou cerca de 64% de sua dívida desde 2015 quando se aliou à Coopercitrus. Neste período de três anos a atual diretoria, presidida por Luis Sérgio Marques teve de adotar uma série de medidas, administrativas, financeiras e judiciárias para tentar sair da crise e abater a dívida que antes era de R$ 230 milhões. “Acredito que dentro de dois anos vamos zerar o nosso débito, mas, a Cooparaiso não voltará a existir”, anunciou.
Luis Sérgio e o diretor Francisco Landi Pereira participaram da reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, na tarde de quarta-feira (12/12), quando fizeram uma espécie de prestação de contas aos participantes. Marques iniciou explicando que as cooperativas possuem legislação diferente de outras empresas, em vigor desde 1971. “A lei nº 5.764 diz que as cooperativas não podem ter recuperação judicial e concordata”, no entanto, é possível que a mesma possa ser incorporada por outra cooperativa como ocorreu entre a Cooparaiso e a Coopercitrus.
“Quando assumimos a direção verificamos que não havia mais condições de operar com as próprias pernas. Seríamos liquidados se não arrumássemos uma parceria”, explica. Luis Sérgio conta que a cooperativa devia 125 mil sacas de café aos 754 cooperados, produto que estava depositado fisicamente nos armazéns quando houve a incorporação. Ele disse ainda que foi preciso uma virada de mesa para inverter a prioridade e garantir aos produtores o direito de receber os pagamentos. “Também não podíamos de forma alguma deixar a cooperativa ir para liquidação porque o cooperado não receberia um grão de café e não sobraria nada”, descreve.
A busca pela parceria passou por empresas como a Cooxupé, Cocapec, instituições financeiras, fundos de investimentos, tradings e outras sem sucesso. Foi com a Coopercitrus que foi firmado o acordo e a Cooparaiso acabou sendo incorporada. Pelo contrato de arredamento formalizado, a Cooparaiso não pode realizar nenhum tipo de comercialização e ainda teve de alugar todos os imóveis à Coopercitrus. Mensalmente são pagos cerca de R$ 170 mil pelos espaços utilizados. Também é recebido um percentual do faturamento anual da cooperativa paulista, por modalidade de produto. Em média no fim do ano a Cooparaiso devera receber um repasse de cerca de R$6 milhões oriundos da Cooper-citrus.
Em cerca de dois anos o valor da dívida foi reduzido em 40% sendo que foram pagos cerca de R$ 92 milhões. Passados mais 18 meses a Coopa-raiso conseguiu avançar nos pagamentos e o débito pago já alcança a casa de aproximadamente 65% e há um resto a pagar de cerca de R$ 83,5 milhões. Na relação de dívidas foi preciso muitas negociações para chegar ao ponto em que a cooperativa encontra-se hoje. “Tínhamos que evitar a liquidação a qualquer custo porque nós devíamos para 754 cooperados 125 mil sacas de café que estava depositado fisicamente dentro de nossos armazéns e pela lei de prioridade de pagamento o produtor é o último a receber”, esclarece Luis.
No início havia dívidas, por exemplo, da ordem de R$ 140 milhões para as instituições financeiras, R$ 57 milhões para os produtores rurais e mais R$ 45 milhões para fornecedores, o que totalizava cerca de R$230 mil. O café existente nos armazéns foi convertido em dinheiro, considerando a cotação da saca em R$ 470,00, valor do dia 11 de novembro de 2015. Na parte de imobilizado a cooperativa ainda possui um patrimônio auditado avaliado em R$ 40 milhões entre as lojas, barracões, sítios, terrenos, casa e outros. “Não vendemos um palmo de nada. Tudo tem a hora certa”, explicita.
Quando fizemos o plano nós devíamos R$ 140 milhões para instituições financeiras, R$ 57 milhões para produtores rurais converteu o café dele em dinheiro foi convertido no dia 30/11 2015 onde o café estava cotado em R$ 470,00 a saca um café padrão, devíamos 45 milhões para fornecedor, e a nossa dívida total era de R$ 220 milhões. Devíamos para fisco, produtor, trabalhador, nós fizemos assim um acordo geral com trabalhadores. Nosso ativo imobilizado foi auditado e vale estes R$ 40 milhões. Se vendêssemos tudo isso e recebesse toda conta do cooperado nos devia que era 100 milhões (entre vencidos e a vencer) iria faltar R$ 83 milhões.
Conforme exigência da lei os valores devidos precisam ser pagos por 4.028 cooperados proporcional ao movimento dele junto a cooperativa. Foi sugerido que quem se associasse à Coopercitrus e continuassem movimentando teria contabilizado um percentual que seria abatido no rateio. “Mais de 90% da dívida de rateio já está dentro da Cooper-citrus. Porém 71 associados optaram por pagar a vista e quitaram em dinheiro, principalmente o pessoal de menor valor. “Teve quem ficou com R$ 2 milhões a pagar e eu mesmo, fiquei com R$200 mil que esta sendo pago com compras”, cita. Apesar das visitas, das reuniões e correspondências enviadas ainda existem cerca de 700 cooperados que não se manifestaram sobre a situação. “Vamos retornar e insistiremos, mas há casos em que haverá cobrança extra judicialmente”. No entanto, muitos já aderiram.
Os produtores que possuem crédito a receber da Cooparaiso foram classificados em pequenos detentores de até 50 sacas, médio, até 200 e grande a partir de 200. Cerca de 540 associados receberam à vista por estarem no primeiro grupo e já ficaram livres do pagamento. Os médios tiveram os valores parcelados em 12 vezes e os grandes receberão em 24 parcelas. Contudo, foi preciso adotar uma nova fórmula de pagamento. “Foi criada uma carta de crédito da Coopercitrus, possibilitando comprar, pagar e gerar outro crédito e está funcionando bem”, admite.
Com isso a Coopercitrus deve ter cerca de 3.800 associados antes pertencentes a Cooparaiso, volume que superou aos dois mil ativos antes existentes. Ainda restaram 31 cooperados de grande porte que entraram na justiça reclamando que a cooperativa seria obrigada a dar o café a eles. Alguns ganharam a ação. “Hoje devemos R$ 20 milhões e fizemos um documento de confissão de dívida”. Também foi ofertada a possibilidade de negociar a dívida com aquisição de máquinas e implementos. Outra forma adotada de negociação adotada foi a triangu-lação considerando-se os valores em débito e crédito.
Pelas projeções do presidente a expectativa em saldar a dívida é de em média dois a três anos, mas será preciso fazer jogo duro com os credores. Parte deles são os bancos e alguns têm oferecido desconto de até 90% para pagamento à vista e a projeção é de pagar R$ 40 milhões. “Será uma queda de braços daquelas, tudo na justiça, com embargos e audiências”, antecipa Luis. Ele ressalta que o produtor será pago na íntegra enquanto que os demais fornecedores também haverá negociações fortes
Otimista quanto ao resultado das negociações, o presidente enfatiza que a situação está sob controle. “Muito acima do que esperávamos, achávamos que gastaríamos 15 anos para resolver a questão e poderemos solucionar o problema da Cooparaíso em sete anos sem o produtor por a mão no bolso”, aponta. No entanto, Luis Sérgio assegura que em sua gestão ela não mais voltará a existir. A intenção é ir saldando as dívidas gradativamente. Quando o valor estiver em R$ 40 milhões, uma das alternativas será pegar o patrimônio existente e utilizá-lo, vendendo ou entregando à credora e desta forma zerar o débito. “Pegamos um cliente terminal com câncer em tudo quanto é lado do corpo, ela vai morrer é claro, mas vai morrer dignamente”, concluiu.
Números da Cooparaiso x Coopercitrus
Durante a explanação do diretor da Cooparaiso aos membros do Conselho Rural, o presidente da instituição Luis Sérgio Marques apresentou uma serie de informações. O Jornal do Sudoeste resumiu as principais informações apresentadas oriundas das perguntas e questionamentos dos produtores rurais presentes na reunião. Confira algumas das questões comentadas:
TRABALHADORES: A Cooparaíso possuía um quadro de 280 funcionários e muitos deles eram antigos. Foram utilizados R$ 6,5 milhões para os acertos. Ocorreram 75 ações judiciais trabalhistas a maior parte do sindicato e terceiriza-dos. A Coopercitrus absorveu 111 funcionários.
VERDADE: “Eu atribuo à verdade. Só tem um caminho para conquistar a credibilida-de ou a confiança: é a verdade, não devemos ter medo, não esconda a verdade para ninguém. Nós abrimos a boca. Ninguém vai nos colocar na cadeia, porque não estamos fazendo nada de errado, o produtor que é bom tem de saber o que acontece na casa dele”.
EDUCAÇÃO COOPERA-TIVISTA: “Se tivéssemos um associado preparado para entender o papel dele numa cooperativa, a responsabilidade, o direito e o dever dele, como está na lei, esta crise não aconteceria. Não seriam aprovadas as contas do jeito que foram. O produtor tiraria a diretoria porque pela lei ele tem poder de tirar a diretoria e elegeria um conselho fiscal que realmente fiscalizasse, nada disso foi feito, durante 26 anos e infelizmente foi essa a realidade”.
VALTRA: Ela hoje pertence à Coopercitrus. Havia uma concessão que foi repassada por que a Cooparaiso estava com muitos débitos vencidos e as cláusulas contratuais já não estavam sendo cumpridas em dia. A dívida foi quitada pela herdeira e a marca foi transfe-rida em comum acordo coma concessionária.
O PROJETO: Ele foi calçado em pilares que dão sustentabilidade: primeiro protege o produtor rural, associado. Do crédito de R$ 125 mil sacas existentes surgiu uma dívida de rateio de R$ 83,5 milhões. “Quem deve tem que pagar produtor não é caloteiro, nos vamos pagar a todo mundo desde que a divida seja legítima dentro de uma negociação com prazo e juro acordado. Uma coisa que foi pedida muito, que o produtor rural precisa de uma cooperativa, mas, não qualquer cooperativa. Queremos uma cooperativa que entenda mais, uma cooperativa não exclusiva para cafeicultor, mas que atenda o produtor diverso, de soja, de HF, da pecuária, dos mais diversos segmentos produtivos, não só cafeicultor mais queremos aproveitar esta pancada na cabeça para fazer educação cooperati-vista”.
PERDAS E GANHOS: “Os bancos sempre ganharam muito dinheiro da Cooparaiso com a cobrança de juros astronômicos. Agora é a hora de deixar eles perderem um pouco. O trabalhador nosso perdeu um pouquinho, pudemos negociar algumas coisas com o sindicato deles inclusive. Os fornecedores vão perder bastante e os bancos vão perder mais. Tivemos que inverter esta pirâmide para priorizar o produtor frente aos bancos .
FUNRURAL: A Cooparaiso aderiu ao Refis Rural e fez o deposito judicialmente. São R$32 milhões com juros e correções para uma dívida de quase R$27 milhões. Os R$980 mil para adesão foram emprestados pela Coopercitrus, se não houvesse adesão haveria cobrança de juros e multa e a dívida fica muito maior. Apenas os valores referentes a 2014/2015 é que não foram depositados e recolhidos.
ACERTOU: “A Cooparaiso na gestão anterior não errou tudo não, este deposito judicial que ela fez foi acertado. Do contrário teria queimado todo este dinheiro: o valor hoje é R$ 32 milhões que está depositado na Caixa Econômica Federal”.
INCORPORAÇÕES: A Coopercitrus antes de vir para a região da Cooparaiso, o café representava 5% do fatura-mento avaliado em torno de R$ 1,5 Bilhão. Neste ano ela irá faturar R$ 4 bilhões e o café representa 13%. “Ela veio para a fonte do café, numa decisão assertiva em parceria, a partir daqui ela incorporou as cooperativas de São Roque de Minas, Cássia, Araxá, Araçatuba (SP), Nuporanga (SP) e Andradas. Não somos o primeiro e nem seremos o último porque o nosso problema é imenso a doença nossa terrível”.
NEGÓCIO: A previsão é de que neste ano a Coopercitrus repasse à Cooparaiso cerca de R$ 6 milhões. “Quando nós paramos de realizar operações comerciais, previsto em contrato, vendemos o negócio para eles por isso eles pagam esta porcentagem para nós”. Hoje a Cooparaiso funciona com três funcionários, apenas dois advogados e algumas empresas terceirizadas para a prestação de alguns serviços.
MELHOR: Em seu melhor ano (2012) a Cooparaiso faturava na área comercial, com venda de insumos adubos, defensivos e máquinas R$ 170 milhões. A cooperativa chegou a receber 1,2 milhões de sacas de café, mas, nos últimos nos últimos anos 2013/14, ela recebia 500 mil sacas de café de deposito. Neste ano a Cooper-citrus estima faturar na mesma região de abrangência cerca de R$ 300 a R$ 400 milhões, na mesma área de atuação.