A professora de Língua Portuguesa e cantora Danuza Pimenta Pietroforte Silva, é alegre e sabe levar a vida com muito bom humor e sem se deixar abater pelas dificuldades enfrentadas no dia a dia. Filha de Maria Efigênia Pimenta e Vicente Pietroforte Filho (in memorian), Danuza é casada com o empresário Marco Aurélio com quem teve a jovem Isadora, de 20 anos, e o Pedro Augusto, de 17. Paralela à vida de professora, Danuza também canta e não se vê fazendo outra coisa na vida. É sorridente e bem humorada que ela conta um pouco da sua trajetória.
Jornal do Sudoeste: Você tem laços muito fortes com Itamogi, não?
D.P.P.S.: Sim, minha avó materna era de lá, mas eu nasci em São Paulo e morei em Osasco cerca de oito anos, depois nos mudamos para Itu e depois para Itamogi, de onde é a família de minha mãe. Quando eu era criança, meu sonho era me mudar para Itamogi, é o lugar ao qual eu sinto que pertenço. Uma cidade gostosa, podíamos brincar na rua enquanto que em São Paulo eu me sentia muito presa, ficava somente dentro de casa. Em Itamogi pude curtir muito a minha avó, a Maria Aparecida Braga Pimenta, muito conhecida lá como Dona Donga, uma pessoa muito boa e muito generosa.
Jornal do Sudoeste: Como foi a infância em Itamogi?
D.P.P.S.: Foi uma infância muito boa. Meu pai era um homem muito bom, mas ele não tinha muito juízo financeiramente; minha mãe foi quem teve que pegar no batente e nos sustentar e era ela que pagava as contas. Apesar disto, foi uma infância boa, não foi de luxo, mas foi confortável. Foi uma infância feliz. Também me recordo que quando me mudei para Itamogi, minha avó fazia as pastorinhas no Natal e eu sempre era a pastora principal, a que cantava... tudo eu era diferente, gostava de ser a principal.
Jornal do Sudoeste: Sua mãe, uma guerreira...
D.P.P.S.: Sim, depois que meus pais se separam ela que segurou as pontas. Minha mãe com 18 anos conseguiu comprar o primeiro carro dela trabalhando em uma empresa em Osasco, mas teve que deixar o emprego para cuidar de mim quando eu nasci. Depois disto ela começou a vender roupa e conseguiu comprar uma casa muito boa em São Paulo com este trabalho. Em Itamogi ela nos sustentou vendendo salgados, me lembro que ainda pequena ela enchia uma cesta e era eu quem entregava esses salgados. Todos os bares de Itamogi, era minha mãe quem fornecia salgados. Depois de mais velha ela estudou, fez magistério, deu aula por muitos anos e se aposentou como professora. Ela ia para roça dar aula a pé, não foi fácil. Tínhamos também muito o apoio da minha avó, que ajudou a nos criar, a pagar a minha faculdade, a faculdade da minha irmã...
Jornal do Sudoeste: Foi essa formação como professora da sua mãe que a inspirou a estudar Letras?
D.P.P.S.: Eu sempre ouvi muito a minha mãe, ela sempre foi muito firme e eu sempre a respeitei muito. E na época ela disse que eu estudaria Letras porque dentre as disciplinas era a que tinha mais aulas na escola. Então fui estudar Letras, não era porque eu adorava, mas porque ouvi minha mãe, que dizia que deste modo eu não ficaria sem dar aulas. Hoje eu amo, não consigo me imaginar fazendo outra coisa. Peguei gosto por isso.
Jornal do Sudoeste: Como foi essa fase?
D.P.P.S.: Foi uma luta, viajava todo dia e chegava à meia-noite em casa. No segundo ano de faculdade eu fiquei grávida e minha mãe dizia que não tinha problema, que a barriga poderia estar lá no chão, mas que eu continuaria estudando. Eu desanimei, queria sair, mas não foi o que aconteceu, graças a minha mãe. Quando me formei já estava casada, tinha minha filha mais velha e graças a ajuda dela e do meu marido deu tudo certo.
Jornal do Sudoeste: Assim que se formou já começou a dar aulas...
D.P.P.S.: Antes de formar, já dava aulas, e continuei, mas tive que parar um tempo porque também cantava e estava fazendo muitos shows e viajava a região toda, então desanimei de dar aula e fiquei cerca de seis anos afastada. Era eu e o Guelfo na estrada. Porém, como é muito instável viver de música resolvi voltar a dar aula, isso já tem uns 10 anos.
Jornal do Sudoeste: Como surgiu a música nessa história toda?
D.P.P.S.: A minha avó cantava muito bem e minha mãe, ainda criança, estudou acordeão, teclado e canta maravilhosamente bem. Recordo-me da minha mãe ouvindo Alcione entre outros cantores da MPB então cresci ouvindo isso também. Ainda pequena, lá em Itamogi, comecei a estudar violão, na escola eu participava de tudo e sempre estava em evidência. Resolvi fazer aula de violão, com o Guelfo e, passado um tempo, encontrei com o Guelfo na rua e perguntei se eu poderia cantar com ele para ver se eu gostava; era para eu ter cantado cinco músicas, mas foram 23, isso aconteceu no Doce Encontro, o barzinho estava lotado e só tocava MPB. Comecei nesse lugar com o Guelfo onde cantei pela primeira vez profissionalmente e não parei mais. Já faz mais de 15 anos. Tornou-se minha profissão, tanto que parei de dar aula para cantar. Mas chegou um momento que eu resolvi parar um pouco, é uma profissão muito desvalorizada, mas ainda canto, menos que antes.
Jornal do Sudoeste: O que significa a música para você?
D.P.P.S.: A música para mim é tudo. Arrepio-me quando eu ouço meus ídolos, até choro. É poesia. É tanto a minha vida que não consegui parar totalmente. A minha música, a que eu gosto e a que eu canto, não é para qualquer ouvido, porque eu não abro mão e nunca deixei de cantar MPB, bossa nova, samba. Entre as minhas referências estão Acione e Elis Regina, cresci ouvindo a Elis; gosto muito de Maria Betânia, Alexandre Pires... Samba, adoro cantar samba. Ana Carolina, Marisa Monte. Não fugi desses princípios, então quando alguém me contrata eu deixo isso bem claro. Acredito que perdemos até um pouco do espaço por isto, porque não é música para qualquer lugar.
Jornal do Sudoeste: Hoje não se vê muita qualidade das composições, o que você acha que aconteceu?
D.P.P.S.: É difícil. A MPB, essas letras, esse arranjos, você tem que interpretar para entender. São músicas difíceis para tocar, para cantar. Tudo foi se tornando muito pobre e lembro-me quando isso começou, na época daquele grupo “É o Tchan”; não acreditava que aquilo iria se tornar algo e falava isso para o Guelfo, mas de lá para cá parece que a situação piorou . São músicas que não têm letra, não tem conteúdo, pobres de melodia, de arranjo... músicas que denigrem a imagem da mulher... Acredito que não tem como piorar, penso que a tendência é o caminho reverso.
Jornal do Sudoeste: Música e Letras. Ensinar associando as duas coisas ajuda em sala de aula?
D.P.P.S.: Sim, ajuda muito. Eu canto, levo o violão para a aula, apresento uma música MPB, às vezes uma música que eles nunca ouviram e os alunos gostam bastante. Levo as letras e interpretamos a música. É algo que ajuda bastante na sala de aula. Hoje, estou dando aula no Ensino Médio, no São Judas, não é fácil.
Jornal do Sudoeste: Como é lidar com essas histórias de alunos que vivem em situação de risco?
D.P.P.S.: Você tem que ser muito humano, pensar naquela realidade do aluno. Penso que o pouquinho que eu fizer pelo aluno, não é nem fazer com que ele aprenda gramática, mas o pouquinho que eu puder acrescentar na vida dele, mudar é o que está valendo; muitos a gente sabe que não vão continuar estudando, fazer uma faculdade... Mas o que ele aprender um pouqui-nho e poder levar para vida já valeu a pena, porque são alunos que vêm de uma realidade muito difícil, uma vida sofrida e quando você descobre como é a vida deles a gente repensa o ensinar, que não estamos ali para só para ensinar o que é um substantivo ou verbo, mas para acrescentar algo positivo na vida deles.
Jornal do Sudoeste: Como é ser professor diante de uma realidade de desvalorização?
D.P.P.S.: Tem sido difícil, principalmente nesses últimos anos. A desvalorização do professor está cada dia pior. Eu mesma vou dar aula porque tenho esperança de dias melhores, esperança nos meus alunos, porque em relação a salário e investimento na escola está deixando a desejar. Nós ganhamos muito mal e somos muito desvalorizados, não apenas financeiramente, mas em várias outras questões como o desrespeito por parte do aluno, que tem mais direito que o professor. Mas acredito que vai melhorar, não acredito que tem como piorar.
Jornal do Sudoeste: O que precisa ser feito para melhor a situação da Educação?
D.P.P.S.: Primeiramente capacitar melhor os professores. Depois pagar melhor os professores, porque se você é capacitado você merece e tem o direito de receber um salário melhor. Depois, investimento nas escolas, em tecnologia e usar esses avanços tecnológicos nas escolas e também dar respaldo para o professor. Criam-se muitas coisas: atualmente o ensino integral integrado, mas não dão respaldo para isso e o professor e a escola é que têm que se virar.
Jornal do Sudoeste: Qual foi o momento mais marcante em sala de aula?
D.P.P.S.: Foram vários, tanto positivos quanto negativos. Sei que tenho alunos meus que já se formaram e se deram super bem. Foram várias as situações que alunos chegaram para contar sobre a sua vida, buscaram ajuda... Você se torna uma amiga para esses alunos.
Jornal do Sudoeste: Qual a importância da literatura para o adolescente?
D.P.P.S.: Hoje o aluno não gosta muito de ler, é tudo muito fácil, fica na internet, não demonstram muito interesse. Porém, por meio da literatura o aluno melhora o vocabulário, você compreende mais a vida, entende mais a vida; a nossa literatura é maravilhosa, mas os adolescentes não estão muito interessados e é um desafio fazer com que eles leiam. Mas a importância é mesmo toda essa cultura que você aprende e você também viaja para onde, de repente, você não poderia estar de corpo presente.
Jornal do Sudoeste: Na música, qual foi o momento mais marcante?
D.P.P.S.: Recordo-me de quando íamos ao Minuano em Franca com o Guelfo, foram muitos momentos bons ao lado dele, muitas festas que fizemos, muitos casamentos. Teve lugares que eu cantei também e queria sair correndo (risos). Houve um lugar que fomos, e começou a chegar um público mais humilde e que não conhecia nada do que cantávamos, era um público que estava esperando um forró bem ao estilo Gino e Geno. Foi uma situação complicada, porque víamos que o público não estava gostando. Teve uma vez que eu deixei o Laércio em um lugar, perguntei se ele se importava se eu fosse embora porque aconteceu a mesma situação. Foram muitos momentos, mais felizes que tristes. Divirto-me muito cantando.
Jornal do Sudoeste: No cenário musical parai-sense, quem você destaca?
D.P.P.S.: Recordo de quando eu ainda não cantava profissionalmente e assisti a uma apresentação da Ângela e do Arthur, em um casamento, onde eles cataram “Tudo o que se quer”, do Emílio Santiago e Verônica Sabino. Desde aquele dia me tornei fã dos dois e vi que era aquilo que eu queria fazer: cantar em casamentos. Foi algo que marcou muito. Há tantos outros em Paraíso que também são tão bons... gosto muito da Ziara, uma das vozes mais bonitas de Paraíso.
Jornal do Sudoeste: Você se vê sem ser professora ou cantora?
D.P.P.S.: Eu não sei fazer mais nada. Não me vejo fazendo outra coisa e nem saberia o que fazer. Amo ser professora, amo ser cantora. Passamos raiva na noite, principalmente quando você está cantando e vê o garçom brigando com o cliente que não quer pagar o couvert, já vi muito isso acontecer. Mas não faria outra coisa, cantar está na minha essência e não abro mão do MPB.
Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz dessa trajetória?
D.P.P.S.: Já passei por momentos felizes, momentos tristes; mais felizes que tristes. O pior até agora foram perdas familiares que tivemos: minha avó, a Dona Donga; os tios, meu pai e, recentemente o Quin, então nossa família ainda está muito machucada. As perdas vão acontecendo e as coisas vão ficando um pouco sem graça, mas temos que relevar e seguir em frente. Tenha uma família ótima, alunos, amigos e isso faz a gente viver. Sou uma pessoa que gosta da simplicidade e me sinto feliz assim. Foram 44 anos bem vividos e com muitas coisas boas.